Os lagos dos parques municipais de São Paulo, que deveriam relaxar o público e servir de palco para aves e peixes, estão mais próximos de retratar o rio Tietê.

É o que aponta levantamento da Prefeitura de São Paulo nos 14 lagos que administra, 13 na capital e o outro em Cotia, na Grande São Paulo. O estudo indica que apenas os reservatórios de cinco parques municipais estão livres de poluição; o restante (64,3%) sofre com os mesmos problemas do Tietê: esgoto clandestino e poluentes.

Os parques que têm os lagos em melhores condições são Cemucam (em Cotia), Anhangüera, São Domingos (na zona norte), Raul Seixas e do Carmo (na zona leste). Eles não recebem poluentes ou efluentes de esgoto. Os lagos do parque do Carmo e do São Domingos, entretanto, apresentam erosão e assoreamento.

Mas o mais problemático é o do parque da Aclimação. Completamente verde em razão da grande quantidade de algas, hoje ele é basicamente abastecido por esgoto. Prova disso é que sua vazão caiu pela metade depois que a prefeitura pediu a regularização de 23 imóveis que despejavam clandestinamente esgoto no córrego Pedra Azul, que deságua no lago.

"Há alguns anos foram cortadas muitas árvores em volta do lago, que tem uma cor horrível. Mas não sinto cheiro ruim aqui", diz o biólogo Adriano Alonso, que freqüenta o parque da Aclimação.

Com o relatório, a prefeitura quer buscar parcerias com a iniciativa privada para recuperar os reservatórios. O documento inclui medidas que precisam ser tomadas. No Aclimação, por exemplo, são manter o volume da água e uniformizar a vegetação ciliar.

No parque do Piqueri (zona leste), o problema é bem diferente: superpopulação de peixes e répteis. O laudo não sugere solução para a questão. O local é abastecido por água de efluentes pluviais.

"Sempre houve a valorização do verde na cidade e voltamos as costas para os riachos, córregos. Os lagos urbanos sofreram as conseqüências dessa cultura", diz Gilmar Altamirano, assessor para águas e saneamento da secretaria.

A população contribui com a situação. O lago do parque Cidade de Toronto recebe até água de lavagem de carros e quintais. Os localizados em áreas com menor concentração populacional, diz Altamirano, são os mais limpos.

Maria Luisa Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, diz que a maioria desses lagos é artificial e recebe impacto de tudo que está no entorno. "Com a chuva, chega aos lagos a poluição difusa, como fuligem, lixo e bicho morto. Pelo fato de serem artificiais, eles não têm a regeneração natural dos rios, suas águas são paradas."

Para ela, é um avanço a prefeitura divulgar o diagnóstico e incentivar parcerias. O lago do Ibirapuera é monitorado há três anos pela SOS Mata Atlântica. Mas o estudo indica nele excesso de erosão, assoreamento e lodo.
(Folha Online, 08/02/06)