Embaixador do Irã fala em represália
2006-02-08
Na entrevista dada ontem (07/02) em Brasília, Seyed Hashemi disse que quem votou
contra o Irã ‘pagará’. O embaixador do Irã no Brasil, Seyed Jasar Hashemi,
garantiu ontem que os países que propuseram a denúncia do programa nuclear
iraniano ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas irão "pagar
por isso". Depois de restringir sua cooperação com a Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA), o Irã aguarda agora a entrega do relatório final da
agência, em março. Caso o relatório seja negativo ao país, as sanções devem vir
dos dois lados.
"Sabemos do alto preço de um relatório negativo ao nosso país, mas não vamos
pagá-lo sozinho. Os países que iniciaram essa resolução também terão de pagar.
Isso complicará a ordem da segurança nacional, e não é o que queremos", disse.
A represália, garante Hashemi, será estritamente econômica. "Não estamos falando
em uso de força militar, mas de aplicar sanções comerciais. Enfrentamos sanções
durante os oito anos de guerra com o Iraque, mas conseguimos nos desenvolver
ainda assim. Nossa decisão agora é muito refletida" assegura.
Hashemi saiu ontem em defesa de seu país. Cercado pela denúncia de seu programa
nuclear ao Conselho de Segurança (CS) e pelas crescentes manifestações contra a
publicação de charges do profeta Maomé em jornais da Dinamarca e Noruega Hashemi
pautou as duas horas de conversa com jornalistas por críticas e ataques aos
Estados Unidos e ao Ocidente.
Para o embaixador, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) cometeu um
"erro histórico" ao denunciar o caso iraniano ao Conselho de Segurança no sábado
passado. Segundo ele, essa foi uma decisão política, e não baseada em critérios
técnicos e jurídicos.
"Para inspirar confiança na comunidade internacional, suspendemos voluntariamente
nossas atividades de pesquisa por 30 meses. Acreditávamos que o diálogo seria a
melhor solução. Mostramos por mais de dois anos que que queríamos cooperar. Mas
questões políticas se sobrepuseram às técnicas, por isso a resolução" acredita.
Hashemi diz que a cooperação do Irã com as inspeções da AIEA foram muito além do
previsto no Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), assinado pelo Irã.
"Deixamos que eles inspecionassem até nossas instalações militares. A inspeção
que fizeram, foi muito mais profunda do que a que fizeram no Brasil, por exemplo"
aponta.
Com o envio do caso ao CS, a cooperação voluntária do Irã acabou. Segundo Hashemi,
daqui por diante toda a cooperação será restrita ao previsto no TNP. Teerã já
havia dado o recado ao mandar retirar câmeras e lacres da AIEA de todas as
instalações nucleares do país.
"A inspeção da AIEA ficará restrita ao que está previsto no TNP. Mesmo a hipótese
de enriquecer urânio na Rússia, por exemplo, agora será analisada por nós de
outra forma. O mundo não pode nos obrigar a dizer sim ou não para uma proposta,
sob pena de sanção", disse.
Hashemi espera que o "erro" seja corrigido em março, com a entrega do relatório
final. "Se a AIEA apresentar um relatório baseado apenas em questões técnicas,
certamente será muito positivo e a agência poderá contar com nossa colaboração.
Isso é o mínimo que a agência pode fazer para recuperar sua reputação" aponta.
Hashemi afirmou que a luta do Irã para manter o que, segundo ele, são apenas
pesquisas nucleares, é para manter não só a soberania de seu país como de outros
países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. "Se eles (os EUA) conseguem nos
privar hoje dos nossos direitos, isso acontecerá no futuro com outros países"
afirma.
Um dos argumentos usados pelo Itamaraty para justificar o voto a favor do
encaminhamento da resolução ao CS - de que isso abriria espaço para a recuperação
da confiança da comunidade internacional no Irã - foi questionado pelo embaixador.
"Demos sinais positivos por dois anos, não há motivo para desconfiança", afirmou.
Para Hashemi, o Brasil ocupa uma posição importante no cenário internacional.
"Nos orgulhamos da posição do Brasil e por isso queremos que os outros países
respeitem também os nossos direitos de crescer".
(GM, 08/02/06)