Artigo: Gestão de florestas públicas
2006-02-07
Por Karla Aharonian
Há cerca de nove meses tive um artigo publicado sobre a crescente preocupação da
sociedade com o consumo consciente, um exercício de cidadania pelo qual a
compra de qualquer produto leva em conta o impacto da produção e da postura da
indústria sobre o planeta e a sociedade. Ressaltei o aumento da demanda por
madeira certificada que, longe de ser um modismo, já apresenta procura maior
que a oferta. O cidadão tem a opção de escolher entre madeira manejada de forma
sustentável e outras que foram extraídas sem nenhum planejamento, com o
desmatamento de áreas imensas, em muitos casos de maneira ilegal. O projeto da
Lei de Gestão de Florestas Públicas foi apresentado pelo Executivo em fevereiro
de 2005 com o objetivo de estabelecer regras para a gestão de nossas imensas
áreas verdes. Em resumo, consiste em concessões de uso de florestas públicas
para empresas que poderão explorar os recursos de forma sustentável por um
período determinado. O governo calcula gerar 140 mil empregos diretos, uma
receita anual (taxas pagas pelo uso do recurso florestal) de R$ 187 milhões e
arrecadação anual de R$ 1,9 bilhão em impostos da cadeia de produção.
Esta é uma das ações concretas do Ministério do Meio Ambiente visando reduzir os
efeitos causados por grileiros e viabilizar investimento em manejo florestal
sustentável. O projeto ambiciona, ainda, estabelecer um modo adequado de gerir
e fomentar o crescimento do nosso potencial florestal. Em dez anos a área
máxima sob concessão deve ser de 13 milhões de hectares (cerca de 3% da área da
Amazônia). Quanto à extração de madeira, melhor técnica de manejo com menor
impacto ambiental é o critério de seleção. Somente a Amazônia Legal tem
extensão de aproximadamente 5 milhões de km – 59% do território brasileiro. Tal
diversidade pode ser explorada de forma sustentável, gerando empregos,
respeitando o meio ambiente e as comunidades locais e impulsionando a economia.
Óleos, frutos e a madeira da nossa floresta já são bem manejados por comunidades
e empresas que conquistaram o selo verde.
Após prorrogações, urgências, cancelamento de urgências, discussões e emendas, o
Projeto de Lei n 062/2005 foi aprovado pela Câmara em julho de 2005. O tempo
não perdoa e, enquanto o PL se arrastava no Congresso, perdemos mais alguns
milhares de km de floresta. A fronteira agrícola e a pecuária já chegaram a lugares inimagináveis na Amazônia.
Os grileiros e os madeireiros ilegais se apropriam da terra e, devido à tática
das queimadas, somos um dos países com maior índice de emissão de gás carbônico
na atmosfera.
Enquanto o tempo passava, o Greenpeace detalhou a operação de um complexo esquema de extração ilegal de madeira e tráfico de documentos públicos
no Estado de Rondônia, Amazônia brasileira, ação divulgada pela mídia e a
madeira entregue na Polícia Federal em São Paulo. Em novembro foi realizada uma
grande feira, o "Mercado Floresta", na OCA do Parque do Ibirapuera, que exibiu
duas centenas de empreendimentos sustentáveis bem-sucedidos na área madeireira e
não-madeireira que extraem recursos das florestas de forma adequada, garantindo,
assim, sua regeneração. Em abril será realizada a "II Feira Brasil Certificado",
que divulgará produtos de madeira certificada pelo FSC, selo verde com
credibilidade mundial que estimula o manejo florestal sustentável, feito de
forma adequada do ponto de vista ambiental e social.
O tempo continuou passando, com o Senado ocupado com CPIs e congêneres, e agora o plenário votou o projeto
de lei, aprovado com três emendas. Mas ele volta à Câmara em regime de urgência
e a votação das emendas ocorre dentro de dez dias, se mantida a urgência. O
governo contou com o apoio de representantes do setor madeireiro, ONGs
ambientalistas e indigenistas e movimentos sociais. O PL foi aprovado na Câmara
dos Deputados e em três comissões do Senado.
Mas, como não foi aprovado em 2005,
a lei que dele advier só poderá ser implementada em 2007. Pena que o tempo não
pare... nem volte mais.
* Karla Aharonian é Gerente da linha ecológica da EcoLeoGazeta
(GM, 07/02/06)