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2006-02-06
O milho geneticamente modificado (GM) tem chamado a atenção de agricultores, ambientalistas e consumidores nos últimos meses. Antes mesmo da regulamentação da Lei de Biossegurança, em novembro do ano passado, cinco variedades de milho transgênico, resistentes a pragas e tolerantes a herbicidas, já aguardavam na longa fila de aprovação legal da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Uma das principais questões levantadas nesse período é se lavouras de milho transgênicas e convencionais poderiam coexistir sem que haja fluxo gênico entre as variedades, preservando-se, assim, o interesse de cada produtor.

O professor Ernesto Paterniani, especialista em genética do milho da Esalq/USP e um dos maiores nomes do agronegócio brasileiro, afirma que os dois tipos de cultivo podem coexistir sem que ocorra polinização cruzada. Basta, segundo ele, utilizar técnicas rotineiramente aplicadas em lavouras com sementes híbridas ou com melhoramento genético convencional. No caso do isolamento temporal, por exemplo, as plantas são cultivadas de forma que o seu florescimento seja alternado com o da outra lavoura. Isso impede que o pólen da primeira plantação fecunde a segunda.

No caso do isolamento espacial, estudos realizados em vários países comprovaram a eficiência do método que estabelece distâncias entre lavouras geneticamente modificadas e convencionais, respeitando fatores como distância da fonte de pólen, direção do vento e sincronização do florescimento das plantas.

Com relação à saúde humana, o professor Paterniani ressalta, ainda, que as avaliações científicas são muito mais rigorosas do que para os demais produtos comercializados. "Por isso, não é exagero afirmar que com o milho GM há maior segurança para a saúde humana pelo menor uso de inseticidas e pela menor infestação de fungos - resultantes dos ataques de pragas -, que produzem micotoxinas cancerígenas", explica.

Economia
Em 2005, segundo levantamento do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), as lavouras de milho GM chegaram a 21,2 milhões de hectares mundo afora. Ou seja: cerca de 10% a mais do que no ano anterior. Cultivam diversas variedades países como Estados Unidos, Argentina, Canadá, África do Sul, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Honduras e República Tcheca.

Na avaliação de Leonardo Sologuren, diretor da consultoria em agronegócios Céleres, a adoção legalizada da biotecnologia representaria um grande impulso à produção brasileira de milho, a terceira maior do planeta.

"A agricultura brasileira não é subsidiada. Restam aos produtores ganhos de competitividade por meio da redução de custos de produção, obtida com a melhor eficiência dos insumos utilizados", explica Sologuren. No seu entender, a biotecnologia é fundamental para essa redução de custos porque diminui a necessidade de gastos com agrotóxicos. A Argentina, por exemplo, um dos nossos maiores concorrentes, já cultiva milho transgênico desde a safra 1996/97 e tem produtividade média de 7.222 kg/ha. A média brasileira, entretanto, é de apenas 3.177 kg/ha. Além disso, enfatiza o consultor, as safras GMs suportariam, no Brasil, o ataque de lepidópteros, praga que prejudica cerca de 7 milhões de hectares no País.

Entrevista com Ernesto Paterniani e Leonardo Sologuren: Convivência pacífica
Pergunta: Com a regulamentação da Lei de Biossegurança, o milho transgênico pode ser, em breve, liberado para plantio e para consumo. Há segurança neste cultivo?

Paterniani - Os milhos transgênicos, como os demais produtos geneticamente modificados (GMs), têm sido avaliados com extremo rigor, tanto em relação à segurança ambiental como à saúde humana e animal. Resistentes a insetos-pragas, o milho Bt, por exemplo, permite reduzir a quantidade de inseticidas empregados nas lavouras, o que, obviamente, é extremamente benéfico ao meio ambiente. Outra vantagem é que o milho Bt atinge apenas os insetos que atacam diretamente a lavoura, enquanto os inseticidas eliminam também os demais, inclusive os úteis, como as abelhas. Já os milhos resistentes ao herbicida glifosato, utilizados no combate de ervas daninhas, descartam a aplicação de outros, mais nocivos.

No que diz respeito à segurança alimentar, as avaliações são muito mais rigorosas do que as realizadas nos demais produtos comercializados. Assim, além de testes com animais diversos, e em quantidades até exageradas, os milhos são digeridos, em laboratório, com suco gástrico humano. Como a nova proteína do transgênico é degradada no aparelho digestivo, sendo decomposta, a possibilidade de efeito danoso ou mesmo alergênico é similar a qualquer outro alimento. Vale destacar que nunca se verificou qualquer efeito danoso nesses dez anos de uso do milho GM, confirmando as avaliações experimentais.

Pergunta: A maior preocupação da comunidade científica, e também dos ambientalistas, em relação às plantações de milho GM é o eventual cruzamento com espécies não transgênicas. É possível a coexistência de lavouras transgênicas e convencionais, em regiões próximas, sem contaminação? Por quê?

Paterniani – Antes de qualquer coisa, acho importante um esclarecimento quanto ao uso da expressão “ambientalistas”, equivocadamente incorporada pelos que se destacam no ativismo da defesa do meio ambiente. Todos aqueles que se preocupam com a biodiversidade e sua preservação podem ser considerados ambientalistas, independentemente dos conhecimentos científicos que tenham ou das causas que defendam. Desta forma, também me considero um ambientalista e tenho esse compromisso no exercício da minha profissão.

Sem dúvida, é possível a coexistência de lavouras transgênicas e convencionais. Algo semelhante está ocorrendo em muitos países. Atualmente, em todo o mundo, o milho híbrido é extensamente cultivado, o que não tem impedido a convivência com milhos locais. Isso é possível, adotando-se práticas de isolamento no tempo ou no espaço, para evitar cruzamentos não desejados. Essas práticas são rotineiramente empregadas por pesquisadores e agricultores interessados em preservar suas variedades. No isolamento temporal, intercala-se a época de plantio das lavouras. Nos campos de produção de sementes de milho e nos programas de melhoramento da cultura, tem-se usado, com grande segurança, de 30 a 45 dias entre épocas de plantio.

Os estudos científicos também comprovam a possibilidade desta coexistência por meio de isolamento espacial. A distância necessária para a segregação completa entre plantas GMs e convencionais já foi determinada em diferentes países, respeitando as características locais climáticas de cada um. Em uma dos trabalhos, publicado em 2004, pesquisadores estudaram o fluxo de genes entre o milho Bt e o convencional, durante três anos. A conclusão apontou que a taxa de dispersão depende da distância da fonte de pólen, da direção do vento e da sincronização do florescimento das plantas. A porcentagem de cruzamento indicada pelo estudo foi menor que 1% dentro de uma distância de 28m na direção do vento e de 10m na direção oposta.

Pergunta: Quais os principais países produtores de milho GM?

Sologuren - Os maiores produtores de milho GM são Estados Unidos, Argentina e Canadá. Mas já há cultivos na África do Sul, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Honduras e República Tcheca. Os Estados Unidos representam boa parte da área cultivada com milho transgênico no mundo. Em 2004, por exemplo, foram cultivados, em território norte-americano, 8 milhões de hectares de milho Bt e mais 3,8 milhões de hectares de milho tolerante a herbicida. Ou seja, o país respondeu por 61% da área total de lavouras destas variedades no mundo, em 2004. O mais importante, é que os americanos permanecem líderes nas exportações mundiais de milho. A Argentina, por sua vez, elevou o seu market share nas exportações mundiais de 12,5% na safra 2000/01 para 18,1% na safra 2004/05. O que prova a abertura do mercado internacional ao milho transgênico.

Pergunta: Quais são as principais variedades de milho transgênico disponíveis no mercado internacional? Para quais eventos?

Sologuren - Os dois principais eventos atuais são o milho Bt, resistente a insetos-pragas, e o milho tolerante a herbicida. De acordo com dados do ISAAA, em 2004, cerca de 19,3 milhões de hectares de milho GM foram cultivados no mundo. Deste total, 11,2 milhões ha com milho Bt, 4,3 milhões ha com milho resistente a herbicida e 3,8 milhões ha com milhos que possuíam os dois eventos.

Pergunta: Há quanto tempo estas variedades estão liberadas? Elas são destinadas ao consumo humano, animal ou ambos?

Sologuren - O plantio em escala comercial iniciou-se em 1996, ou seja, há dez anos a produção de grãos geneticamente modificados está sendo explorada no mundo. O destino de consumo depende das regras estipuladas em cada país. Alguns deles aprovam, primeiramente, o milho GM para o consumo animal e depois para o humano. Em outros, há espécies destinadas exclusivamente a um e a outro fim. Na África do Sul, por exemplo, o milho amarelo Bt é usado para alimentação animal, enquanto o branco Bt, para a humana.

Pergunta: Existem variedades de milho GM em avaliação pela CTNBio. Quais são elas? Em quanto tempo elas devem ser cientificamente liberadas para o mercado?

Paterniani - Ao que se sabe, existem três variedades Bt, resistentes a insetos-pragas, e duas resistentes a herbicidas. Essas variedades já devem contar com pareceres técnicos, cabendo a decisão somente à CTNBio. Não é possível prever quando sairá o parecer final.

Pergunta: Quais as vantagens que o milho transgênico pode oferecer ao consumidor?

Paterniani – O maior benefício está ligado à qualidade do alimento. Por receberem menor quantidade de inseticidas e possuírem menos micotoxinas, provocadas pelo ataque de fungos, o milho GM pode ser considerado mais saudável. Outro ponto importante é o fato dos GMs passarem por exaustivos testes antes de serem liberados comercialmente. Isto, certamente, oferece maior segurança ao consumidor.
Por Melissa Crocetti, CIB - Conselho de Informações Sobre Biotecnologia - www.cib.org.br.

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