Agricultores e pescadores do Pará reflorestam margens do Amazonas
2006-02-06
Aracampina é uma comunidade de 600 habitantes, localizada na ilha de Ituqui, às margens do rio Amazonas, no Pará. A população de lá vivia basicamente da pesca e da agricultura familiar, mas há alguns anos passou a criar gado, a plantar seringueiras e cacau. Essas atividades são desenvolvidas na beira do rio, em áreas que durante metade do ano ficam alagadas. São as várzeas, uma região de terras férteis, mas de ecossistema frágil.
"A gente sente que as pastagens naturais estão diminuindo e que os igarapés estão ficando assoreados. Por isso, resolvemos iniciar o reflorestamento", contou um dos coordenadores da Associação de Mines e Pequenos Pescadores e Produtores de Aracampina (Ampa), Adelson Coelho, em entrevista ao Quadro Meio Ambiente, que todas as sextas-feiras é veiculado no programa Ponto de Encontro, da Rádio Nacional da Amazônia.
São 55 famílias de ribeirinhos que começaram a tirar mudas de árvores nativas da floresta para replantar na várzea. Desde 1997, eles já trabalharam com 22 espécies, a maior parte de árvores frutíferas. "A gente já descobriu as cinco que são mais adaptadas: catuari, urá, tarumã, munguba e adão. Elas crescem mais rápido e resistem melhor às enchentes", revelou Coelho.
Em quatro anos, entre 1997 e 2000, a Ampa plantou 1,5 mil árvores às margens do Amazonas. Em 2002, a entidade conseguiu um financiamento de aproximadamente R$ 80 mil do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (ProVárzea/Ibama). Nos dois anos seguintes, 2003 e 2004, os ribeirinhos plantaram mais 3.500 mudas.
Mais árvore na beira do rio significa menos terra que irá para o fundo, diminuindo a profundidade da água. Outra vantagem é que os frutos servem de alimento para os peixes. "O recurso pesqueiro é a principal fonte de renda para as comunidades", afirmou Coelho. "Então, você mantendo a comunidade organizada, garante o recurso natural para as atuais e futuras gerações".
A ilha de Ituqui fica a quatro horas, de barco, de Santarém, município de 274 mil habitantes, cuja sede vem inchando em função do avanço da monocultura da soja e do anúncio de asfaltamento da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém). "As pessoas de Aracampina não têm o intuito de sair para Santarém, porque lá está muito violento. Por isso, temos que cuidar bem da nossa comunidade", disse Coelho.
Além da recuperação de áreas degradadas, a Ampa atua com a proteção de pitiús (espécie de tartaruga pequena da Amazônia, cuja carne é muito apreciada na região). O trabalho é feito pela identificação e demarcação dos locais de desova do pitiú, para que não sejam violadas pelos homens nem pisoteadas pelo gado. "Quando a cova está em praias distantes, a gente faz o transplante delas para mais perto, para conseguir vigiar melhor", contou Coelho. O monitoramento jás possibilitou a sobrevivência de 16,2 mil filhotes de pitiú em Aracampina desde 2001.
(Radiobras, 03/02/06)