Carros ameaçam falésias e tranqüilidade
2006-02-06
Pescadores saindo para o mar, crianças brincando na areia das dunas e mulheres fazendo artesanato no fim da tarde. O quadro é o cotidiano de uma aldeia situada a leste do núcleo principal de Canoa Quebrada, conhecida como Estevão, em Aracati. Mas essa imagem da tranqüilidade tem sido perturbada freqüentemente por buggies, segundo a reclamação de moradores.
“Buggies de pessoas que trabalham com turismo passam desordenando. A nossa preocupação maior é com as falésias, está havendo uma erosão grande. No local, há muitas crianças e muitos turistas que queriam caminhar na areia e não conseguem ficar tranqüilos. Lugar de carro é no estacionamento”, reclamou a cozinheira Maria da Conceição Santos Freire, uma referência na comunidade e segunda tesoureira da Associação de Moradores dos Estevão.
Os moradores reclamam que os buggies passam e estacionam em falésias, Áreas de Preservação Permanente (APPs) e pedem mais fiscalização. “Nessa época, aumenta o turismo e o número de carros. Os buggies passam por todo canto e destroem as falésias, porque eles passam fora das trilhas permitidas. São quase 200 viagens de buggy por dia. Não se pode destruir o meio ambiente assim”, frisou o pescador Geovan Pereira dos Santos.
Em Canoa Quebrada, está uma Área de Proteção Ambiental (APA). Dentro da APA, está em processo ainda uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Árie), na aldeia dos Estevão. O local possui trilhas em um conjunto de dunas e um belo pôr-do-sol. “Essa paisagem aqui é a galinha dos ovos de ouro do Ceará, é preciso preservar”, ressaltou o pescador Francisco de Assis Honorato da Rocha, presidente da Associação de Moradores dos Estevão.
O pescador disse que são feitas reuniões na associação e com a prefeitura para tratar da preservação da APA e da Árie. Mas que o problema do trânsito de veículos tem persistido. “Tem dia que são muitos carros, principalmente no fim de semana. A gente se preocupa com essa tranqüilidade, com a segurança das crianças e dos idosos”. Ele afirmou que a luta da associação por melhores condições na aldeia é antiga. “São 20 anos da associação e essa aldeia tem muitos anos”.
Segundo Maria da Conceição, a aldeia foi formada em 1932 quando o avô dela chegou ao local. Hoje, quase todos são pescadores na aldeia. “Meu avô construiu a casa, trouxe os filhos e vieram outras pessoas para formar a vila. Meu pai é pescador, meu marido também e meu filho ainda está tentando ser”.
Fazendo uma armadeira para pegar lagosta no fim da tarde, o pescador Luciano Rocha disse que a pesca faz parte da vida dele desde os nove anos e que ele aprendeu com o pai o ofício. “Estou com 52 anos e faço também as minhas jangadas. Gosto muito da tranqüilidade daqui”. Para Luciano, é preciso reservar um local para que os motoristas de buggy possam trabalhar e mostrar a paisagem aos turistas. “É direito deles passarem, eles vêm mostrar esse paraíso. Mas é preciso preservar”.
(O Povo – CE, 04/02/06)