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2006-02-03
O Irã informou nesta quinta-feira (2/2) formalmente à Agência Internacional de Energia Atômica que encerrará toda cooperação nuclear "voluntária" com a agência se, como esperado, o conselho de 35 países da agência encaminhar o caso do Irã ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A ameaça, contida em uma carta de Ali Larijani, o negociador chefe nuclear do Irã, para Mohamed ElBaradei, o diretor da agência nuclear, significa que a agência não seria mais autorizada a realizar inspeções voluntárias e perderia acesso a instalações e locais chaves. Além disso, o Irã disse que retomará seu programa para construção de 50 mil centrífugas em Natanz e iniciará a produção em plena escala de urânio enriquecido, que pode ser usado para produzir eletricidade ou ajudar a produzir bombas nucleares. O Irã "não terá outra escolha a não ser suspender todas as medidas voluntárias e cooperação extra com a agência", disse a carta, que foi disponibilizada a The New York Times. "Neste caso, o monitoramento da agência seria extremamente limitado, e todas as atividades nucleares pacíficas que estão voluntariamente suspensas seriam retomadas sem qualquer restrição." A carta foi entregue no momento em que o conselho da agência iniciava na quinta-feira reuniões a portas fechadas para decidir se aprova uma resolução apoiada pela Grã-Bretanha, França e Alemanha, que pela primeira vez abriria a porta para uma possível ação do Conselho de Segurança contra o Irã. A resolução foi criticada pelo bloco de 16 países não alinhados, que propôs emendas removendo todas as referências ao Conselho de Segurança e exigindo que o caso do Irã continue sendo de responsabilidade da agência de vigilância nuclear da ONU. Mas a resolução conta com o apoio dos Estados Unidos, Rússia e China e deverá obter a maioria de votos necessária para aprovação. Em várias declarações públicas, as autoridades iranianas, do presidente Mahmoud Ahmadinejad para baixo, ameaçaram encerrar a cooperação voluntária caso o conselho da agência nuclear aprove o encaminhamento do caso do Irã ao Conselho de Segurança. Mas esta é a primeira vez que Teerã entrega sua ameaça por escrito à agência.

A carta não declarou quando o Irã suspenderá suas atividades voluntárias com a agência internacional. Mas uma autoridade disse que isto acontecerá "em um dia ou dois" após a aprovação da resolução, que poderá ocorrer já na sexta-feira. Na manhã de quinta-feira, ElBaradei disse que o caso não se trata de uma "ameaça iminente".

"Nós estamos chegando a uma fase crítica mas não é uma situação de crise", disse ele.

"Se o resultado do conselho será um encaminhamento ao Conselho de Segurança ou não, todos concordam que a única forma de avançar é por meio da diplomacia, por meio da negociação, e ainda há janelas de oportunidade para todas as partes interessadas", disse ele.

Em sua forma atual, a resolução lembra as "muitas falhas e violações" das obrigações por parte do Irã segundo o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e "a ausência de confiança de que o programa nuclear do Irã é exclusivamente para fins pacíficos, devido ao retrospecto de ocultamento de atividades nucleares por parte do Irã".

Ela pede que ElBaradei informe ao Conselho de Segurança "os passos exigidos do Irã" e pede que o conselho da agência submeta todos seus relatórios e resoluções sobre a natureza das atividades nucleares do Irã ao Conselho de Segurança.

Mas em uma concessão importante à Rússia e China, que inicialmente resistiam a qualquer envolvimento do Conselho de Segurança, a resolução adia por mais um mês qualquer ação no Conselho em relação ao Irã.

Os russos também tiveram sucesso em assegurar que a resolução não incluísse a palavra "noncompliance" (não cumprimento), que segundo eles teriam conseqüências legais importantes que automaticamente exigiriam que o caso do Irã fosse encaminhado ao Conselho de Segurança, segundo os estatutos da agência. Com ou sem a palavra, a medida proposta exigirá que a agência nuclear informe ao Conselho de Segurança todas as resoluções e conclusões relevantes já aprovadas, que incluiriam uma resolução aprovada no ano passado declarando que o Irã descumpriu suas obrigações.

Em Washington, na noite de quarta-feira, um dos principais responsáveis pela estratégia para o Irã do governo Bush, Robert G. Joseph, o subsecretário de Estado para controle de armas e segurança internacional, detalhou o caso do governo contra o Irã, acusando que o país está buscando combinar suas ambições nucleares com mísseis que "podem tornar reféns as cidades de nossos amigos no Oriente Médio e na Europa".

Joseph usou um discurso para o Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense para concentrar a atenção em documentos descobertos no Irã pelos inspetores da agência nuclear, que mostram como cortar o urânio enriquecido em hemisférios, um formato adequado para detonação.

Rejeitando a alegação do Irã de que os documentos não fazem parte de seu programa nuclear, Joseph disse: "Nós desconhecemos qualquer outra aplicação para tais hemisférios a não ser armas nucleares".

Ele também descreveu "por que não podemos aceitar um Irã com armas nucleares", em termos que remetem aos discursos que as autoridades do governo deram três anos atrás, quando ainda argumentavam contra o Iraque de Saddam Hussein. "Um Irã com armas nucleares poderia fortalecer a liderança em Teerã a promover suas ambições agressivas dentro e fora da região, tanto diretamente quanto por meio dos terroristas que apóia", ele disse.

Ele disse que o país, assim que estiver armado, "representaria uma ameaça direta às forças americanas e seus aliados na região", "podendo fornecer o pavio para outra proliferação". Ele também disse que "representaria uma ameaça à existência do Estado de Israel".

"Finalmente, o Irã está em um nexo de armas de destruição em massa e terrorismo", ele argumentou. "Se o Irã tiver material físsil ou armas nucleares, a probabilidade de sua transferência para uma terceira parte aumentaria."

Funcionários do governo Bush disseram repetidas vezes que querem uma abordagem de forma lenta, evitando sanções que poderiam enfurecer o povo iraniano, como a proibição do Irã de participar da Copa do Mundo de futebol, por exemplo.

(The New York Times, 03/02/06)
Link: noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2006/02/03/ult574u6275.jhtm

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