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2006-02-06
A Rússia preparava-se semana passada para dar uma resposta à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) sobre a situação do lago Baikal, maior reserva mundial de água doce e patrimônio da humanidade, ameaçada pelo gigantesco oleoduto que o monopólio russo Transneft pretende construir ao seu lado. Uma comissão oficial de especialistas acaba de dar um parecer desfavorável ao traçado do oleoduto que deve transportar a riqueza petrolífera da região oriental da Rússia para mercados em franco crescimento como China, Japão, Coréia do Sul, Índia, Austrália e inclusive Estados Unidos.

A comissão entregou o seu relatório ao gabinete do Serviço Federal Russo de Vigilância Ecológica, Técnica e Atômica (Rostekhnadzor), que agora deverá decidir se vai assiná-lo, ou não para dotá-lo de força jurídica. A Unesco, por sua vez, saiu em defesa do Lago Baikal em julho de 2005, quando o Comitê do Patrimônio Mundial - composto pelos 21 países signatários da Convenção do Patrimônio - "adotou posição e considerou que não se pode construir um oleoduto próximo desse lago". O comitê sustentou que essa iniciativa "ameaça o lugar e, sobretudo, os valores universais, excepcionais para a humanidade, do Lago Baikal", declarou à AFP Mechtild Rossler, responsável para o hemisfério norte do Centro do Patrimônio Mundial da Unesco.

Com mais de 4 mil quilômetros de extensão, o traçado previsto pela Transneft passa só a 800 metros de distância do lago, admitiu a companhia russa, que calcula em cerca de US$ 11,5 bilhões o montante total do investimento. Devido à proximidade com o Baikal, se o oleoduto se romper, as 4 mil toneladas de petróleo que poderão transportar iriam parar, irremediavelmente, no lago, situado ao sul da Sibéria, que fica no leste do país. As tubulações, contudo, estarão construídas para resistir até o impacto de nove graus, da escala Richter, disse Serguei Grigóriev, um dos vice-presidentes da Transneft.

"Os membros da comissão de especialistas assinaram as suas conclusões: não se deve construir, sob nenhum pretexto, esse oleoduto próximo da bacia do Lago Baikal", ressaltou o chefe do grupo oficial de cientistas russos, Guennadi Tchegássov, que examina alguns grandes projetos energéticos do país como o gasoduto "Blue Stream", no Mar Negro. "No traçado proposto por este projeto (no Lago Baikal), fortes tremores de terra ocorrerão obrigatoriamente a cada três anos", garantiu Tchegássov, baseando-se no histórico dos abalos sísmicos da região.
(AFP, 03/02/06)

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