Governo espera arrecadar R$ 1,9 bilhão com gestão de florestas
2006-02-06
A expectativa é de que 13 milhões de hectares sejam explorados pela iniciativa
privada. O Senado aprovou ontem o polêmico projeto que permite a exploração
sustentável de florestas públicas por empresas privadas. A proposta, que foi
enviada ao Congresso pela Presidência da República, pode render aos cofres
públicos cerca de R$ 187 milhões com a cobrança de taxas pelo uso do recurso
florestal e arrecadação de R$ 1,9 bilhão ao ano em tributos. A expectativa do
governo é que, em dez anos, a área máxima sob concessão seja de 13 milhões de
hectares (cerca de 3% da Amazônia), com a criação de 140 mil empregos diretos.
Como foi aprovada com emendas, a matéria volta à Câmara para nova apreciação.
Encaminhado ao Congresso em fevereiro de 2005 como parte do "pacote verde",
lançado pelo governo em resposta ao assassinato da missionária norte-americana
Dorothy Stang, o projeto possui pontos considerados controvertidos. O
principal é a permissão para que empresas privadas explorem - por até 40 anos -
florestas públicas por meio de concessão. Apesar de determinar que somente
empreendedores constituídos no Brasil podem se candidatar à exploração,
senadores afirmam que a proposta promoverá a "internacionalização" da Amazônia.
Em princípio, o texto da proposta objetiva combater a ocupação ilegal de
terras públicas e estimular a retomada de projetos de desenvolvimento
sustentável em regiões como a Amazônia. Desde 2003, a análise de pedidos de
autorização de novos projetos de manejo sustentável em áreas públicas está
suspensa por determinação do Ministério do Meio Ambiente. As decisões sobre os
pedidos serão proferidas apenas após a promulgação da lei. "O projeto é um
avanço do capitalismo mais selvagem na região amazônica. Vamos criar novas
capitanias hereditárias, porque pequenos grupos com grande poder econômico
poderão se apoderar da riqueza da Amazônia", criticou o senador Geraldo
Mesquita Júnior (sem partido-AC).
Em conversas com parlamentares, a ministra Marina Silva disse que a concessão
à iniciativa privada será realizada apenas após a criação de unidades de
conservação e a destinação de áreas para uso das comunidades locais. Estas, ao
contrário da iniciativa privada, não terão de remunerar o governo. Marina
acrescentou que o projeto inclui entre os cinco critérios para a definição dos
vencedores das licitações "o maior benefício socioeconômico para as
comunidades locais". Não haveria risco, portanto, das comunidades não terem
participação efetiva nos ganhos financeiros decorrentes da exploração
sustentável. "Esse projeto é melhor do que nada. As terras públicas estão hoje
expostas a saques e não há como o governo controlar isso", declarou o senador
Jefferson Peres (PDT-AM). Outros parlamentares se fiaram na biografia da
ministra Marina Silva para apoiar a aprovação. Como o Senado aprovou o projeto
com mudanças no texto original, a proposta terá que ser apreciada novamente
pelo plenário da Câmara.
(GM, 03/02/06)