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2006-02-02
A floresta, senso estrito, nem deveria ser derrubada. Na Amazônia, entretanto, os assentamentos rurais estão bastante presentes. A transformação ambiental que provocam gera problemas tanto para a biodiversidade local como para os seres humanos que vão viver na região. Em termos de saúde pública, o grande risco é a malária, doença que, logo nos primeiros anos da abertura da selva, chega a níveis bem altos.

“Todas as áreas de assentamento abertas na Amazônia registraram epidemia de malária nos anos iniciais. A transformação do meio ambiente, além de gerar um aumento do número de focos de água parada, propicia condições ideais para o desenvolvimento da larva do mosquito”, explica a pesquisadora Márcia Caldas de Castro.

Ligada à Universidade Federal de Minas Gerais, mas atualmente radicada nos Estados Unidos, na Universidade da Carolina do Sul, Márcia acaba de assinar, com outros três autores, um artigo no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). A pesquisa foi feita com os dados do assentamento Machadinho, instalado no norte de Rondônia.

Em 1985, primeiro ano da chegada do homem ao local, a taxa global de malária por 100 habitantes foi de 22,7. No ano seguinte subiu para 32,1, até chegar a apenas 6,6 em 1995. Para que esse quadro continue ocorrendo nos dias de hoje, os autores da pesquisa apresentam uma abordagem multissetorial do problema.

“Embora seja praticamente impossível eliminar a doença, é possível minimizar o nível de transmissão caso um planejamento adequado seja adotado”, explica Márcia. Segundo ela, isso não é apenas responsabilidade da área de saúde. “Deve haver um envolvimento de vários setores: meio ambiente, reforma agrária, agricultura, transportes e energia. Infelizmente, isso raramente é adotado, tanto no Brasil como em qualquer outro lugar do mundo.”

A falta de uma abordagem multidisciplinar, explica a pesquisadora, pode causar um rápido abandono da área, o que causa prejuízos econômicos e danos ambientais graves. Segundo o estudo, assentamentos abertos em locais de solo com baixa fertilidade merecem atenção especial.

“Nessas regiões, o bom desenvolvimento agrícola depende do emprego de técnicas variadas de manejo. Como os colonos não dispõem de recursos financeiros para adotar essas medidas, após alguns fracassos nos cultivos eles deixam o local”, explica Márcia. “O planejamento deve ocorrer antes da ação, com ênfase em medidas preventivas que minimizem o impacto nas condições de saúde da população.”

De acordo com o estudo, se a fase inicial do assentamento sobreviver à malária e à falta de planejamento um bom serviço de saúde deve estar disponível no local. E até, como foi usado na pesquisa, usar imagens de satélite para monitorar o local em questão.

“As imagens de satélite, validadas no campo, combinadas com dados coletados em diversas áreas, são de extrema importância. Elas podem ajudar tanto a floresta como o ser humano”, conta Márcia.

O artigo Malaria risk on the Amazon frontier, de Márcia Caldas de Castro, Roberto L. Monte-Mór, Diana O. Sawyer e Burton H. Singer, pode ser lido no site da Pnas, em www.pnas.org.br.
(Por Eduardo Geraque - Agência FAPESP)

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