Poluição no Rio Caí dobrou em 20 anos
2006-02-02
Você sabe por onde passa a água até chegar ao seu copo? O caminho do rio até o consumo é longo. Para limpar as impurezas e evitar riscos à população, esse líquido precioso passa por etapas de tratamento. Nem poderia ser diferente diante da poluição dos rios. Nas últimas duas décadas anos, a contaminação dobrou no Rio Caí, que abastece Montenegro e cerca de outros 40 municípios.
A constatação é do técnico em tratamento de água da Companhia Riogran-dense de Saneamento (Corsan), Fernando Azevedo Orth. A causa apontada é a falta de tratamento de esgoto cloacal, que se torna cada vez mais necessária com o aumento da população.
No período de 1996 a 2004, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a população cresceu cerca de 18,8%. Portanto, cada vez mais dejetos que acabam sendo jogados no rio. A dimensão do problema se agrava tendo em vista que a bacia do Caí abrange em torno de 40 municípios. Cada um tem sua parcela de contribuição na poluição.
O relatório da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), feito em conjunto com a Corsan e o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Demae) de Porto Alegre apura o nível de qualidade nos pontos de captação em Montenegro. A qualidade da água retirada do Rio Caí é considerada "regular" o que, em uma escala de zero a 100, fica entre 50 e 70.
"Não é um aluno nota 10, mas chega a ser aprovado", compara o engenheiro químico da Fepan, Ênio Henriques Leite. Porém, há variações entre os dois pontos. A água captada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) da RS 240 fica entre 60 e 70. Próximo ao Cais do Porto, no entanto, a qualidade cai, ficando entre 50 e 60.
O especialista explica que a diferença ocorre pela maior proximidade do local com o Centro, onde há mais despejo de esgoto, tanto cloacal como industrial ou rural. A água que chega a sua torneira passa por várias etapas de tratamento justamente para retirar as impurezas. Isso não significa, porém, que o esgoto pode ser jogado no Rio indefinidamente.
Desmatamento também prejudica
O técnico agrícola da agência local do Departamento de Areas Protegidas da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Edson Luis Oliveira, explica que a retirada sem licenciamento de floresta nativa é crime ambiental. Observa que o desma-tamento nas margens dos rios gera acúmulo de argila no fundo, prejudicando o curso normal e diminuindo o volume de água.
O problema ocorre pela queda de barrancos das margens, que são fixados pelas raízes das árvores. Edson conta que não tem observado ocorrência de desmatamento nesses locais em Monte-negro. Porém, não atribui a situação à maior conscientização da população sobre os danos ao meio ambiente, mas à fiscalização.
- A bacia hidrográfica do rio Caí possui uma área de cerca de 5.057,25 quilômetros quadrados, correspondendo a 1,79 % do Estado, localizada ao norte de Porto Alegre, entre o planalto brasileiro e a depressão central. Seu curso d água tem uma extensão de 285 km. A bacia é composta por 41 municípios. A população total é de 383.929 habitantes, sendo em torno de 25 % moradores da área rural e 75 % da área urbana.
- A atividade econômica predominante da bacia é a agricultura. O maior centro urbano é Caxias do Sul, localizada no divisor de águas entre as bacias dos rios Caí e Taquari-Antas. Destacam-se, também, as áreas urbanas de Montenegro, Feliz e São Sebastião do Caí, localizadas às margens do rio principal.
Os principais afluentes do rio Caí são:
- Margem esquerda: Caracol, Guaçú, Mineiro e Cadeia.
- Margem direita: Divisa, Muniz, Macaco, Piaí, Pinhal, Belo, Ouro, Mauá, Maratá e outros.
Etapas do tratamento da água
- Captação - A água é captada do Rio Caí e conduzida à Estação de Tratamento de Água (ETA) através de adutoras.
- Floculação – A água recebe sulfato de alumínio. Essa substância faz com que as impurezas se aglutinem, formando flocos.
- Decantação – Os flocos de sujeira, que são mais pesados do que a água, caem e se depositam no fundo do decantador.
- Filtração – A água passa por várias camadas filtrantes para a retenção dos flocos menores não eliminados na decantação.
- Cloração – É feita a adição de cloro. O produto é usado para a destruição de microorganismos presentes da água.
- Fluoretação – Consiste na adição de flúor. Sua função é reduzir a incidência de cárie dentária. Toda água tratada tem que ser fluoretada.
- Bombeamento – Concluindo o tratamento, a água é armazenada em reservatórios. Em Montenegro, há seis, com capacidade para 1.000 metros cúbicos de água. Um deles fica na ETA e os outros cinco no Morro São João para abastecimento da cidade. Dessa forma, mesmo que haja falta de luz, há água para consumo durante cerca de quatro horas.
(Jornal Ibiá, 02/02/2006)