Bairro chique de SP assiste derrubada de arvores em massa
2006-02-02
As sombras que valorizam as alamedas dos Jardins, em São Paulo, estão cedendo
lugar a um cenário desolador, feito de vãos de concreto desprovidos de verde.
Em pouco mais de um ano, 140 árvores foram erradicadas e 155 amputadas.
O motivo da temporada de podas e derrubadas é que grande parte das árvores
está doente e apresenta riscos à população. Parece uma justificativa plausível
para livrar-se delas, mas muitas pessoas não estão convencidas de que a
política adotada pelo município seja a mais adequada. Incomoda ver uma das
regiões mais arborizadas da cidade transformada em selva de pedra.
“Não temos de falar apenas em poda e corte de árvores. Quero conversar sobre
cuidados. Sugerir, por exemplo, medidas de prevenção, como adubação e
tratamentos. Isso não acontece por aqui. Depois que as árvores já estão em
estado irreversível, não adianta mais. As pessoas precisam entender que a
vegetação é um patrimônio ambiental impagável”, afirma a advogada Célia
Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira
César/Jardins (Samorcc).
Em 2004, quando um estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontou
para o risco de queda de árvores em sete bairros de São Paulo, a Subprefeitura
de Pinheiros deu início às podas e erradicações nos bairros Cerqueira César e
Jardins. A pesquisa avaliou os pontos da capital mais vulneráveis a incidentes.
“Analisamos 7.050 árvores. O foco do trabalho não era poda, porque esse método
propicia a entrada de cupins e o desequilíbrio da espécie. A intenção era fazer
um diagnóstico do estado de sanidade das árvores, por meio de um modelo
matemático que inferia no risco de queda de cada uma delas”, recorda Sérgio
Brazolin, pesquisador do instituto e, na época, coordenador do projeto
“Operação Árvore Saudável”.
Condenadas
Munidos do levantamento do IPT, técnicos do município avaliaram as
necessidades de corte. Os critérios utilizados foram a presença de fungos,
cupins e outras pragas, a porcentagem de vazio (se estão ou não ocas),
diâmetro, copa e equilíbrio, entre outros. “A primeira etapa do trabalho foi
determinar as que apresentavam altos índices de risco”, explica Carmen Silvia
Facioli, supervisora técnica de Limpeza Pública da Subprefeitura de Pinheiros.
Nessa fase do processo, 41 árvores foram podadas, 80 erradicadas e três caíram
naturalmente. Uma delas, localizada na rua da Consolação, não sofreu
intervenção porque é muito alta e depende do desligamento da rede elétrica
para ser cortada. “Nestes casos, temos de pedir ajuda para a Eletropaulo, que
interrompe a transmissão de energia, com o objetivo de evitar problemas aos
nossos funcionários enquanto fazem os serviços”, diz Carmen.
A segunda etapa das atividades começou em novembro do ano passado e está quase
concluída. Das 174 árvores classificadas pelo IPT como de grande risco, 114
foram amputadas e 60 retiradas. “Ainda faltam 3 remoções e uma poda, porque
tivemos um problema com a população, que nos impediu de tirá-las. Estamos
aguardando uma análise jurídica da subprefeitura para saber como agir”,
comenta a supervisora. Ela explica que mesmo tendo aparência perfeita a árvore
pode ser derrubada, se estiver oca.
Espécies – A tipuana (Tipuana tipu ) é uma das espécies mais presentes na região
dos Jardins, e a que mais apresenta problemas. Isso não quer dizer, porém, que
seja de má qualidade. Na verdade ela é uma vítima da urbanização. “O grande
problema é que essa espécie foi, com o tempo, limitada a uma série de ações.
Plantadas há cerca de 50 anos, foram vítimas das mudanças que ocorreram no
entorno, principalmente com a verticalização”, defende Carmen. “As doenças se
propagam com facilidade porque, como são da mesma espécie, uma praga que
destrói determinada árvore acaba com todas”.
De acordo com as normas da Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente, a
subprefeitura tem obrigação de repor as árvores retiradas com outras. A nova
espécie é escolhida conforme as características do local em que será plantada.
“A exigência é que sejam nativas do Brasil. Na região dos Jardins, por exemplo,
sugerimos ipê, sibipiruna, pau-ferro, pata-de-vaca, jacarandá-mimoso, entre
outras”, informa Marcelo Cocco, coordenador do Núcleo de Legislação para a
Proteção e Fomento da Vegetação da secretaria.
As 80 árvores retiradas na primeira etapa já foram substituídas por novas
mudas. Já as 60 arrancadas desde novembro só devem começar a ser replantadas
daqui a um mês.
Energia – Em novembro do ano passado, a Secretaria de Coordenação
das Subprefeituras de São Paulo estabeleceu uma parceria com a Eletropaulo
para podar as árvores consideradas condenadas pelo IPT. Até o final do verão,
quando as chuvas e os ventos fortes aumentam os riscos de queda, 453 árvores
serão podadas ou removidas. Segundo o acordo, a companhia fará a poda para
livrar da fiação elétrica as árvores localizadas nas regiões de cinco
Subprefeituras: Vila Mariana, Pinheiros, Santo Amaro, Sé e Lapa.
As quedas de galhos e de árvores sobre a rede elétrica são responsáveis por
30% das interrupções no fornecimento de energia em dias de chuvas. “Estes
desligamentos prejudicam principalmente a população, pois dependendo do
tamanho da árvore é necessário um trabalho conjunto entre a Eletropaulo e o
Corpo de Bombeiros para fazer a remoção. Além disso, existe o impacto negativo
nos indicadores de qualidade da empresa”, ressalta o presidente da Eletropaulo,
Eduardo José Bernini.
Mais cortes?
– O estudo do IPT avaliou ainda as árvores com médio e
pequeno riscos de queda. Isso significa que mais podas e erradicações podem
vir pela frente. Segundo a Secretaria Municipal de Coordenação das
Subprefeituras, a necessidade de uma terceira etapa de cortes ainda está sendo
estudada. Os técnicos vão se reunir para avaliar os trabalhos já realizados e
diagnosticar o que deve ser feito a seguir.
Enquanto o verde se vai e as novas árvores não crescem, o jeito é arranjar
outras formas de se proteger do sol.
(Aline Ribeiro, O Eco, 28/01/06)
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