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2006-02-01
Depois do boi gordo, do frango e do avestruz, a nova modalidade de aplicação agrícola é a denominada "engorda" de árvores, investimento em papéis de projetos de reflorestamento em troca de uma rentabilidade anunciada de até 200% no final do contrato. Desde o final do ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) instou duas empresas, a Tropical Flora e a Reflomar Reflorestamento, a suspender a emissão de títulos, os chamados Contratos de Investimento Coletivo (CIC).

"Não temos uma equipe que fiscaliza especificamente as empresas que emitem títulos agropecuários. Isso não significa que não estejamos preparados, porque nosso objetivo não é fiscalizar a atividade agropecuária em si, mas o cumprimento da lei e dos procedimentos", diz Carlos Alberto Rebello, superintendente de Registro de Valores Mobiliários da CVM.

A aplicação em títulos de engorda de bois ou avestruzes é de triste memória para quem apostou no negócio. A falência da Fazendas Reunidas Boi Gordo decretada em 2004, deixou na mão 31 mil investidores e uma dívida estimada em R$ 1,2 bilhão.

No final dos anos 90, o boi gordo se tornou coqueluche graças a uma maciça campanha publicitária protagonizada pelo ator Antônio Fagundes, que na época havia feito a novela Rei do Gado, na Rede Globo, um grande sucesso de público.

O "boom" dos investimentos das indústrias de papel e celulose e o crescimento exponencial das áreas de reflorestamento tornou a "engorda" de árvores um negócio atrativo e rentável. Nenhuma das duas empresas autuadas, contudo, tinha registro na CVM, nem autorização para captar poupança popular.

A Reflomar Reflorestamento conseguiu captar R$ 200 mil até ser autuada pela CVM no final de dezembro.

A Amazon Forest (www.amazonforest.com), por exemplo, já captou quatro investidores estrangeiros que investiram no plantio de mogno, teca e guanadi no município de Castanho Carreiro (AM), a 65 km de Manaus. Segundo o italiano Giovanni Caporaso, da Amazon, cada um deles investirá cerca de US$ 20 mil ao longo de 10 anos e ao final deve resgatar US$ 300 mil, com rentabilidade de quase 7% ao ano no período. "O investidor compra o terreno e pode plantar ele mesmo as árvores ou então contratar nossos serviços para fazê-lo", diz Caporaso, que cobra uma taxa de 30% pelo serviço.

Ele diz que não tem registro na CVM porque mesmo a Amazon Forest não existe na prática. "É apenas um endereço na internet para chamar investidores", explica.

Caporaso lamenta a falta de incentivo em reflorestamento do governo brasileiro. "No Panamá, os investidores ganham US$ 50 mil como capital inicial, além de casa e isenção fiscal. No Brasil, não temos nenhuma ajuda", lamenta.

Ele diz que o empreendimento despertou mais interesse dos estrangeiros. "Pode parecer estranho um projeto de reflorestamento na Amazônia, mas aqui há muitas áreas degradadas que precisam ser recuperadas".
(GM, 01/02/06)

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