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2006-02-01
Autoridades da saúde iraquianas e internacionais confirmaram nesta segunda-feira (30/1) que uma iraquiana de 15 anos morreu do vírus da gripe das aves H5N1. A morte indica a chegada da doença em mais um país, que em seu atual estado de destruição não está bem preparado para controlar a disseminação da doença.

O mais alarmante é que a descoberta sugere que a doença possa estar se espalhando pelas aves sem ser detectada em países da Ásia Central que são mal equipados para identificar e registrar as infecções. A gripe das aves nunca foi identificada em animais no Iraque.

Como na Turquia, no início do mês, a chegada da gripe das aves a uma nova parte do mundo foi anunciada por uma morte humana, que provavelmente poderia ter sido evitada. A gripe das aves raramente infecta seres humanos; isso só acontece após intenso contato da pessoa com o animal no estágio final da doença.

"Não devíamos ver casos humanos primeiro; isso aponta para sérias falhas de vigilância", disse Maria Cheng, porta-voz da Organização Mundial de Saúde em Genebra. "Mas dada a situação na Turquia, não ficamos surpresos em ver casos humanos isolados em áreas circundantes."

A menina Shengeen Abdul Qadr morreu no início do mês em Sulaimaniya, na região curda do Norte do Iraque, três dias depois de tocar em animais mortos infectados com o vírus, disse o ministro de saúde iraquiano na segunda-feira. Presume-se que seu tio, que morreu na semana passada, também sucumbiu à doença, apesar dos exames estarem pendentes.

Um sério surto da gripe aviária matou quatro pessoas e centenas de milhares de pássaros na região curda da vizinha Turquia nas últimas seis semanas. As rotas comerciais traçadas por caminhões e mulas atravessam as fronteiras em uma grande região étnica curda, que inclui áreas de vários países.

Membros da Organização de Alimentos e Agricultura da ONU, em Roma, que acompanha a disseminação da doença, advertiram na semana passada que a gripe das aves provavelmente tinha se espalhado da Turquia para os países vizinhos. Eles advertiram especificamente o Irã, Iraque, Síria e Armênia para que ficassem em alto alerta. Mas até segunda-feira não havia evidências disso.

"Faz sentido biológico. Há um problema do outro lado da fronteira, e os mercados atravessam as fronteiras. Por isso encorajamos os países a aumentarem sua vigilância", disse Juan Lubroth, diretor de saúde animal.

"Mas não sou policial. O que posso fazer é pedir aos governos para serem mais vigilantes e estimulá-los a nos dizer se precisarem de ajuda." Ele disse que os sistemas de monitoramento da doença nos animais eram fracos em grande parte da região e que os governos precisavam ser mais transparentes, tanto para admitir os surtos detectados quanto para admitir a falta de capacidade ou de verbas para identificar a doença, que requer testes de laboratório complicados.

Por exemplo, o governo de Sulaimaniya está monitorando as criações de galinha, "mas não tem de fato a capacidade de monitorar o que acontece com os galinheiros das aldeias", disse Rod Kennard, que administra o projeto de um ano da ONU para a reconstrução dos serviços veterinários do Iraque.

Ele disse que "realmente é uma grande questão" saber se um país que passa pelas dificuldades de um conflito pode coordenar uma resposta a um problema complicado como a gripe das aves, apesar de observar que as províncias do Norte não eram "tão conflituosas" quanto algumas áreas do Centro do Iraque.

"Os ministérios estão começando a trabalhar juntos", disse ele. "Há alguma consciência pública sobre a gripe das aves e algum controle nas fronteiras em relação ao transporte de gado e aves. Mas não tenho certeza se são eficazes".

As autoridades curdas colocaram quatro aldeias em quarentena na segunda-feira. Elas suspeitam que as aves e possivelmente as pessoas nas áreas possam estar infectadas. Equipes visitaram a região e eliminaram os animais, disseram as autoridades curdas. Para conter os surtos da doença, os pássaros doentes devem ser rapidamente identificados e sacrificados, junto com outros que o cercam em um raio de segurança. A lentidão da reação na Turquia permitiu que a doença se espalhasse pelo país, e o governo agora está lutando para conter 55 surtos em 15 províncias.

Abdul Mutaleb Mohamed Ali, ministro da saúde iraquiano, pediu ajuda, observando que duas outras pessoas em partes distantes do Iraque tinham sido examinadas com sintomas da gripe. "Pedimos à comunidade internacional que seja rápida e envie ao nosso país assistência técnica e equipamentos de saúde", disse ele em Sulaimaniya.

Atualmente, os seres humanos só contraem a doença por contato próximo com aves infectadas. Cerca de 150 pessoas pegaram a doença. No entanto, os cientistas temem que o vírus possa adquirir a capacidade de passar de pessoa para pessoa por uma mutação genética natural, gerando uma pandemia mundial devastadora.

O exame da menina iraquiana foram feitos em um laboratório no Cairo, neste final de semana, e as amostras estão sendo enviadas ao laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde no Reino Unido para confirmação. Por causa disso, a organização considera o resultado "positivo preliminar".

Entretanto, na Turquia todos os resultados "positivos preliminares" posteriormente foram confirmados. Nos últimos meses, houve relatos ocasionais de mortes de aves em grande escala no Irã e no Norte do Iraque, países rotulados pelos veterinários como de alto risco por estarem nas rotas de migração das aves.

Tais mortandades freqüentemente são a primeira indicação de que o H5N1 chegou a um país, pois o vírus é muito contagioso e letal para as aves. Mas ocasionalmente podem ser causadas por outras doenças ou por envenenamento. E o H5N1 nunca havia gerado mortandades no Iraque ou no Irã. Em outubro, houve muitas mortes nas granjas comerciais do Norte do Iraque, disse Kennard.

As aves foram examinadas e "nos disseram que o resultado foi negativo, mas não temos certeza da confiabilidade", disse Kennard. Na maior parte dos países com sérios surtos da gripe aviária, inclusive a Turquia, o exército forneceu a mão de obra necessária para a contenção, indo de porta em porta para encontrar e eliminar as galinhas, por exemplo. Obviamente que esta não é uma opção no Iraque. Além disso, grande parte do comércio na região é informal e não regulamentado, então o controle de animais na fronteira é difícil na região curda.

"Há mercados por todo o Curdistão e o transporte é feito por mulas e burros que cruzam as fronteiras em vários pontos", disse Lubroth. "E as galinhas são pequenas. Fica difícil de controlar."
(UOL, 31/01/06)
Link: noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2006/01/31/ult2680u272.jhtm

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