Fusão do gelo da Groenlândia elevará nível do mar
2006-02-01
A provável fusão da camada de gelo da Groenlândia elevará o nível dos oceanos em sete metros daqui a mil anos, segundo as pessimistas previsões de um relatório oficial britânico.
Os países mais pobres serão as primeiras vítimas (mas não as únicas) dos efeitos inevitáveis da mudança climática, adverte o relatório, que resume as conclusões de uma conferência organizada pelo Escritório Meteorológica do Reino Unido em fevereiro de 2005. "Os riscos da mudança climática podem ser piores do que pensávamos até agora", escreve no prefácio do documento o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair.
"Com um aquecimento do planeta superior a um grau, os riscos aumentam de modo significativo e rapidamente para os ecossistemas e as espécies vulneráveis", explica Bill Hare, do Instituto para a Pesquisa do Impacto do Clima, de Potsdam (Alemanha). O instituto analisou mais de 70 estudos sobre o impacto da mudança climática nos recursos hídricos, na agricultura, na fauna e na flora.
"Com um aquecimento de entre um e dois graus aumentam de modo significativo os riscos gerais, e, em escala regional, o impacto é freqüentemente substancial", assinala o especialista. "Acima dos dois graus, os riscos são muito mais elevados e podem causar a extinção de espécies e até mesmo colapsos do ecossistema, provocar fome e escassez de água e gerar danos socioeconômicos, sobretudo nos países em desenvolvimento", afirma Hare.
A União Européia tem como objetivo prevenir um aumento de mais de dois graus das temperaturas médias do planeta, mas, segundo o relatório, este aumento já é excessivo. Segundo os autores do estudo, dois graus são suficientes para desencadear um processo de fusão das camadas de gelo da Groenlândia, o que teria um impacto enorme sobre o nível dos oceanos.
Alguns dos cientistas que contribuíram com o relatório publicado se propuseram a calcular qual é a concentração de gases estufa na atmosfera que pode provocar esse aumento da temperatura. Atualmente, a atmosfera contém aproximadamente 380 partes por milhão de dióxido de carbono, frente a 275 partes por milhão antes da revolução industrial, no século XIX.
Para que o aumento da temperatura seja de apenas dois graus Celsius, é preciso estabilizar as concentrações de gás estufa a 450 partes por milhão como máximo, assinalam Michel den Elzen, da Agência de Estudos Ambientais da Holanda, e Malte Meinshausenl do Centro Nacional Americano de Pesquisas Atmosféricas.
"Para estabilizar essas concentrações a um nível equivalente de 450 partes de dióxido de carbono por milhão, é imprescindível que as emissões globais de CO2 atinjam sua cota máxima por volta de 2015 e que sejam seguidas de reduções gerais de entre 30% e 40% em 2050 em relação aos níveis de 1990", assinalam esses especialistas.
Segundo eles, um aumento das temperaturas médias do planeta de apenas 2% pode gerar uma queda do rendimento das colheitas no mundo todo, triplicar as más colheitas na Europa e na Rússia e provocar um processo de desertificação no norte da África com o consequënte deslocamento de suas populações.
Outras conseqüências seriam uma grave escassez de água que afetaria 2,8 bilhões de pessoas, a difusão da malária pela África e pela América do Norte, o desaparecimento de 97% dos recifes de corais e a extinção de espécies como o urso polar e da morsa, pois os gelos do Ártico desapareceriam.
Ao se referir às estratégias que poderiam ser adotadas para combater este fenômeno, os especialistas assinalam que o maior problema não é o que se deriva das tecnologias ou dos custos, mas o de superar os obstáculos políticos e sociais e os interesses criados.
(EFE / AFP, 30/01/06)
Link: noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/01/30/ult1806u3258.jhtm