Unidade de conservação no Pontal de Apiacás pode mudar os rumos da região
2006-01-31
A criação do Parque Nacional Juruena (Parna Jurena) no Extremo Norte de Mato
Grosso e Sudeste do Amazonas, em estudo pelo Ministério do Meio Ambiente
desde 2002, será discutida em fevereiro, dia 15, no município de Apiacás. A
área proposta possui 1,15 milhão de hectares em Mato Grosso, abrangendo parte
dos municípios de Apiacás, Nova Bandeirantes, Cotriguaçu e Aripuanã. Previsto
também no Zoneamento Sócio-Ecômico e Ecológico do estado, o parque é
considerado de extrema importância para a preservação da rica biodiversidade
da região, porém as restrições impostas por esse tipo de unidade de
conservação preocupam algumas lideranças locais.
Silda Kochenberger, prefeita de Apiacás, está preocupada com a estabilidade
econômica e social do município – que terá 48% da sua área coberta pelo
parque. “A nossa idéia é que uma parte dessa área possa ser transformada em
uma floresta pública ou uma outra modalidade que permita possibilidades de
uso e manejo”, afirma.
A prefeita diz que não é contra a criação do parque, mas reivindica um
projeto de desenvolvimento para a população que priorize a agricultura
familiar, o turismo e o agroextrativismo. “Para criarmos uma estabilidade no
município, precisamos assentar umas 500 famílias, com infra-estrutura e
financiamento para trabalharem. Isso seria imediato, mas nós também sabemos
que o futuro vai ser o turismo. Por isso queremos investir nessa área,
estudar e divulgar o nosso potencial turístico”.
Informações divulgadas pelo Ibama indicam que o Pontal de Apiacás tem mesmo
vocação para o turismo – além da conservação da biodiversidade e educação
ambiental – já que é identificado como de extrema importância para a proteção
de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios. É possível encontrar nas
margens dos rios Teles Pires e Juruena pelo menos 17 espécies de macacos,
pertencentes a 10 gêneros diferentes. Sem falar nas dezenas de corredeiras e
cachoeiras, incluindo uma majestosa queda no rio Juruena, o Salto Augusto,
com 19 metros de altura, um patrimônio natural e grande atrativo turístico.
Área proposta já sofre os impactos do garimpo
“A criação de uma unidade de conservação na área do Pontal de Apiacás é
fundamental para consolidar a estratégia de conservação da biodiversidade e
combate ao desmatamento e à grilagem de terras na região”, afirma Laurent
Micol, coordenador do Instituto Centro de Vida, entidade que realizou estudos
sócio-econômicos sobre região no ano passado. Segundo ele, o parque não vai ter impactos negativos imediatos para os municípios abrangidos, e pode trazer benefícios para a região. “Essa pode ser uma oportunidade para mudar o modelo de desenvolvimento dos municípios do Extremo Norte – que hoje dependem essencialmente de atividades predatórias de recursos naturais. Mas para isso, o governo precisa implementar também melhorias na infra-estrutura e políticas efetivas de desenvolvimento do manejo florestal sustentável, agricultura familiar e turismo”.
Parque aumenta repasse do ICMS ecológico
O município de Apiacás recebe hoje um repasse mensal de ICMS de
aproximadamente R$ 230 mil, sendo 32% corresponde ao ICMS Ecológico, devido
às terras indígenas e outras áreas protegidas já existentes dentro dos seus
limites. Com a criação do Parque Nacional Juruena, a arrecadação do município
aumenta em R$ 95 mil mensais, cerca de 41%. É significativo, mas não resolve
os problemas de um município que detém alguns dos mais baixos indicadores
sociais de Mato Grosso. O PIB (Produto Interno Bruto) por habitante de
Apiacás é de R$ 2,7 mil, quase a metade da média estadual de R$ 4,9 mil. Além
disso, dos 6,5 mil habitantes, 21% são analfabetos e apenas 0,5% das
residências conta com abastecimento de água.
“Com esse aumento dá para melhorar a saúde, a educação, a infra-estrutura;
mas o que mais nos preocupa não é o ICMS, e sim criar uma situação de
estabilidade para a população de Apiacás”, reflete Silda Kochenberger, que
aponta a necessidade de investimentos em asfalto urbano, estradas, saneamento
básico e até mesmo uma agência do Banco do Brasil, uma reivindicação de
muitos anos. E alerta: “Ninguém vai querer investir em uma cidade que não
oferece no mínimo isso”.
(Estação Vida, 30/01)