Estudo aponta áreas com risco de deslizamento em Santa Cruz do Sul
2006-01-31
Com a urbanização se estendendo para o Leste e Norte de Santa Cruz do Sul, aumenta a preocupação com a preservação do Cinturão Verde e a segurança de quem mora perto dele. Um estudo feito pelo mestre em Geografia Ernesto Luiz Alves, entre 2002 e o ano passado, mostra que a expansão imobiliária morro adentro está aumentando o risco de deslizamentos de terra no entorno da elevação.
Alves diz que o objetivo do trabalho não é mostrar as áreas em que os desmoronamentos estão ocorrendo, mas sim apontar quais são os locais onde há possibilidade de isto acontecer. “O estudo visa a dar subsídios aos órgãos responsáveis, no gerenciamento da ocupação de áreas de risco, direcionando, assim, a expansão urbana para locais menos suscetíveis a movimentos de massa”, definiu.
O levantamento, feito em forma de dissertação para o Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), levou em consideração uma série de fatores que definem os graus de fragilidade dos diferentes planos geográficos do município. Entre eles, cortes em terrenos com inclinação e altura grande, falhas e fraturas nas formações rochosas do subsolo. Com base nisto, foi possível confeccionar um mapa de suscetibilidade e risco a movimentos de massa.
Segundo o estudo, dos 8,1 mil hectares de área urbana avaliados, 77,25% não apresentam nenhum risco; 4,12% têm grau baixo; 14,80%, moderado; e 3,26% são de alto risco. Grande parte dos terrenos habitados incluídos nesta última classificação se encontram junto ao Cinturão Verde. “Isso se explica, em parte, porque as raízes das árvores ajudam muito a segurar o solo. Quando a área é desmatada para construção, a suscetibilidade a deslizamentos é muito maior”, alerta Alves.
Outro fator de risco apontado pelo pesquisador são as construções feitas sobre os chamados depósitos de talus, que se caracterizam como acúmulos não consolidados de pedra e terra, originários do transporte de solo encosta abaixo, pela ação da gravidade, e que se acumulam sobre a rocha. “Estes depósitos formam uma descontinuidade, com alto grau de suscetibilidade ao escorregamento.”
Em relação à inclinação, o geógrafo diz que o perigo aumenta proporcionalmente em locais que possuem declividade a partir de 12%. As áreas abaixo desse índice são consideradas de suscetibilidade nula. “Como o Plano Diretor da Prefeitura permite construções ao pé do morro em locais com até 25% de inclinação, pode-se dizer que essas pessoas já estão dentro de uma zona de risco moderado”, afirma.
O Cinturão Verde de Santa Cruz do Sul é considerado área de preservação permanente. São 465,08 hectares, a maioria de propriedade particular. No entanto, qualquer obra realizada no local necessita de autorização dos órgãos ambientais. O Plano Diretor do município, por exemplo, autoriza a ocupação somente em trechos que não possuam inclinação superior a 25%.
O cinturão abriga uma das mais completas biodiversidades da região, inclindo espécies animais e vegetais pouco freqüentes no Vale do Rio Pardo. Um estudo da Unisc, iniciado em 2002, já apontou para a existência de 180 tipos de plantas, 45 mamíferos e 90 aves. Além disso, a área tem importância comprovada nas esferas agrícola, climática e científica, campos que, além da própria estrutura geológica, são amplamente prejudicados pela devastação da mata e o avanço das construções. (Gazeta do Sul, 29/01/2006)