ONU: Empresas devem prever custos de pandemia de gripe aviária
2006-01-31
Diante de uma cada vez mais provável pandemia humana de gripe aviária, a ONU começou a dialogar diretamente com empresas de todo o mundo para pedir que elas fiquem preparadas para os enormes custos que terão e a possibilidade de que seus funcionários terem que trabalhar de suas casas. O coordenador da ONU para a gripe aviária e humana, David Nabarro, aproveitou sua presença no Fórum Econômico Mundial, encerrado Domingo (29/01) na cidade suíça de Davos, para se reunir com representantes empresariais, ONGs, líderes sociais, organizações internacionais e grupos de comunicação.
"As pessoas não podem imaginar realmente o efeito que uma situação de pandemia teria sobre seus negócios, suas administrações, seu pessoal e seu sistema de saúde", advertiu Nabarro. As grandes companhias têm de pensar "em sua própria continuidade" e estudar "que tipo de transtornos causados por uma epidemia em massa pode ter em sua atividade". Por isso, segundo o responsável da ONU, foi dada a partida para os encontros e os programas informativos sobre a questão.
"A comunicação em massa é fundamental. Não se pode aceitar que haja crianças morrendo porque estão brincando com aves doentes" devido ao fato de suas famílias não saberem que se trata de "um vírus muito perigoso", defendeu Nabarro em um tom alarmista diante de um auditório repleto de empresários.
A ONU considera que, depois de os Governos terem sido conscientizados sobre a ameaça representada pelo vírus H5N1, agora é a vez de "cada casa, cada povo e cada empresa" prestar atenção ao assunto. Por isso, Nabarro anunciou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicará, até o final do mês, recomendações para que os países permaneçam informados.
Nabarro defendeu que as empresas prevejam grandes despesas, especialmente "as relacionadas com o trânsito internacional de pessoas e o turismo". Além disso, caso haja uma pandemia, muita gente terá medo de sair às ruas, sendo conveniente que as empresas que puderem recorra ao máximo possível ao trabalho direto de casa, o chamado teletrabalho.
O diretor do Instituto americano de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, concordou com Nabarro e disse que a probabilidade de o vírus H5N1 provocar uma pandemia é "muito alta". Ele ressaltou ainda que os períodos de contagio mais freqüente da gripe costumam durar cerca de três meses, de novembro a março. No entanto, "a gripe de 1918, que matou 50 milhões de pessoas, ocorreu em duas etapas", lembrou.
Fauci acredita que se o grau de propagação da gripe for muito alto, será necessário pedir que as crianças doentes faltem ao colégio e que os adultos contagiados não compareçam ao trabalho. As empresas terão de contar com uma ausência no trabalho que afetará um terço ou mais da equipe e deverão aumentar o uso da internet, e esta preparação "precisa começar imediatamente", disse Fauci.
"A batalha será vencida ou perdida através da comunicação", afirmou Nabarro, que citou como exemplo as campanhas de comunicação já promovidas pela Unicef e pela Cruz Vermelha em regiões da Ásia. Junto com o desafio da comunicação, os especialistas estão preocupados com a capacidade de produção e fornecimento das vacinas.
"Neste momento, 13 empresas trabalham no desenvolvimento de 28 vacinas", e a maior parte dos orçamentos previstos é para seu desenvolvimento, disse David Stout, presidente do GlaxoSmithKline, laboratório fabricante de um dos dois antivirais recomendados contra a gripe aviária.
No entanto, depois de isolado o variante do vírus capaz de se propagar com facilidade entre humanos e de desenvolvida uma vacina, esta terá de ser produzidas em quantidade suficiente para vacinar um grande número de pessoas. Salvo algumas exceções, Fauci considera que as companhias de vacinação não têm capacidade para responder a "uma verdadeira situação de emergência".
(EFE, 28/01/06)
Link: noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/01/28/ult1766u14339.jhtm