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2006-01-30
Numa ação que consideram histórica para a nação xoclengue, índios da aldeia Bugio, em Doutor Pedrinho, no Vale do Itajaí, ocuparam ontem parte das terras mapeadas para a ampliação das reservas de Bom Sucesso e José Boiteux. Eles exigem que a Justiça Federal agilize a análise do processo que suspendeu a demarcação da área e suspenda o corte de madeira, mesmo de reflorestamento, até o fim do litígio. Dizem que há mais de 1 milhão de pés de pínus plantados na região e que não pretendem permitir que os proprietários façam a colheita e o replantio. Desde segunda-feira, os xoclengues mantêm um caminhão retido na sede da aldeia e só pretendem liberá-lo quando a pendência sobre as terras for resolvida.

A área, em litígio desde 2004, tem 34 mil hectares. Não é a primeira vez que os índios acampam no local. Eles ameaçam desobedecer até ordem de reintegração de posse. "Os madeireiros, os agricultores têm seus direitos. Eles serão indenizados. Nós queremos nossa terra. Já tem portaria declaratória, já tem laudo antropológico, queremos uma definição", disse o índio João Nunc-foônro, em nome da aldeia.

Os índios escreveram um documento, que foi enviado à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à Justiça Federal com as reivindicações da comunidade. Ontem mesmo, o chefe do posto da Funai em José Boiteux, Jorge Bavaresco, esteve no local e prometeu encaminhar as reivindicações da comunidade. Na delegacia de Doutor Pedrinho, até a tarde de ontem ainda não havia sido registrado nenhum boletim de ocorrência contra a ocupação. Uma placa na área informava que o reflorestamento ocupado pertence à empresa Odebrecht. Em Blumenau, A Notícia procurou por representantes da empresa, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto. Os índios retiraram a placa e fizeram questão de colocar, logo na entrada da área, uma outra informando que a região pertence à comunidade indígena.

"Vamos resistir o quanto for necessário"
Em grupos munidos de foices e facões, os indígenas também iniciaram o desbaste do pínus existente na área. A intenção, segundo eles, é garantir o crescimento uniforme das árvores para que elas atinjam a idade adulta mais rapidamente e possam ser cortadas. Também está sendo retirado o mato ao redor das árvores. "Vamos limpar toda a área e resistir o quanto for necessário", comentou o porta-voz da aldeia.

Segundo os indígenas, a disputa pela área existe desde os anos 70. Em 2003, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, emitiu a portaria declaratória, abrindo caminho para a demarcação. Um processo na Justiça Federal paralisou os trabalhos em 2004. Desde então, os índios e seus advogados tentam dar agilidade ao litígio. Eles dizem que, nesse tempo, os madeireiros estão aproveitando para cortar e retirar o máximo de madeira possível. Os empresários negam e informam que estão apenas seguindo os planos de manejo das áreas de reflorestamento, que cultivam há mais de 20 anos. No próximo dia 1º, eles devem se encontrar numa audiência, na Justiça Federal, em Joinville.
(A Notícia, 28/01)

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