Galinha não bota só ovo, gera energia também
2006-01-30
Começa a ser desenvolvido em uma fazenda no Norte de Minas Gerais, o primeiro projeto integrado de bioenergia do país que vai usar como matéria-prima fezes de galinhas. O objetivo é produzir fertilizantes de alta cotação no mercado e gás, que será beneficiado e utilizado por uma indústria local em suas caldeiras. Esse gás gerado seria suficiente para movimentar uma termelétrica de 4 megawatts, energia capaz de atender a uma cidade de 60 mil habitantes.
Maurício Schittini, da Incisa Empreendimentos e Participações, um dos idealizadores do projeto, não esconde o entusiasmo. Segundo ele, a fazenda tem 1,8 milhão de galinhas poedeiras. Elas ficam confinadas em galpões e produzem 40 toneladas por dia de fezes.
Schittini diz que o projeto da usina de bioenergia usando fezes vai gerar 20 toneladas por dia de fertilizantes. Além disso, 20 mil metros cúbicos por dia de gás, que serão fornecidos para a indústria vizinha à fazenda. O especialista frisou que, de acordo com a região onde for instalado esse projeto, o gás poderá ser beneficiado e transformado em outros tipos de energia.
— Dependendo das necessidades do local, pode se produzir GLP, o gás de cozinha, o gás veicular (o GNV) ou se instalar uma usina termelétrica para gerar energia — ressaltou Schittini.
Segundo o executivo, já existem no país vários projetos de biomassa — tratamento de materiais orgânicos, desde esterco até casca de café e soja, e bagaço de cana de açúcar. A diferença, diz ele, é que a empresa trouxe pela primeira vez para o Brasil, projeto de bioenergia (com tecnologia americana) totalmente integrado.
— Será o primeiro projeto do gênero integrado que vai tratar os rejeitos das aves (fezes), que hoje poluem o meio ambiente. E vai gerar fertilizantes e gás — disse Schittini.
Roberto Almeida, presidente da Incisa, explicou que, conforme as necessidades da região, será dado o destino do gás.
— Esse projeto é ideal para região agrícola, onde há criação de animais confinados, como granjas de galinhas ou suínos — disse Luiz Felipe Pereira, que também participa do projeto.
Usina produzirá 20 mil metros cúbicos de gás
O tratamento de resíduos orgânicos é uma técnica milenar, segundo Maurício Schittini da Incisa. Mas agora, afirma ele, com as novas tecnologias existentes no mundo, é possível reduzir as emissões de gases nocivos, como o metano, ao mesmo tempo que se consegue gerar energia.
O presidente da Incisa, Roberto Almeida, explicou que o projeto é economicamente viável em grande escala. Por isso é atraente se for instalado junto a grandes criações de animais confinados, como granjas de aves em criações de suínos. A usina de tratamento que está sendo desenvolvida na fazenda no Norte de Minas representa um investimento estimados em R$ 30 milhões, e os executivos garantem que pelo porte do projeto o retorno é previsto em dois anos.
Segundo cálculos preliminares, o fazendeiro que hoje cria as 1,8 milhão de galinhas tem uma receita da ordem de R$ 1,2 milhão por ano com a venda do esterco puro para fabricação de adubo. Já a produção de fertilizantes e de gás com o novo projeto vai permitir uma geração de receita de cerca de R$ 9,9 milhões.
— Neste momento estamos em negociação com alguns grupos investidores que estão interessados em desenvolver o projeto — disse Schittini, ressaltando que o projeto ganha 280 créditos de carbono que poderão ser vendidos a empresas ou governos de países ricos, que participam do Protocolo de Kioto.
Retorno do investimento é bem vantajoso
A Biomassa — fezes de galinha, por exemplo — ao se decompor na natureza produz o gás metano, muito nocivo à camada de ozônio. Por isso projetos como o da usina de bioenergia ganham os créditos de carbono, ao retirarem esse gás da atmosfera.
— O tratamento de resíduos orgânicos é milenar. E a bioenergia se dá a partir do tratamento do resíduo orgânico e sua transformação em energia — explicou Schittini.
A Incisa está trazendo para o Brasil, segundo seus executivos, tecnologias de geração de bioenergia utilizadas nos Estados Unidos, Alemanha e Suíça.
Maurício Schittini destacou também que a tecnologia de uso da biomassa para gerar energia é muito usada em países de clima frio. Segundo ele, na Dinamarca, 30% de toda energia consumida no país é gerada pela biomassa. Em muitas residências são instalados biodigestores debaixo das privadas, para servir de aquecimento da casa.
— O importante desses projetos é que ao mesmo tempo que acabam com um problema ambiental sério, produzido pelas fezes dos animais, eles geram energia, e conseqüentemente, riquezas em regiões pobres — disse Schittini.
(O Globo, 29/01)