Baía da Babitonga ganha diagnóstico para recuperação do ecossistema
2006-01-30
A Baía de Babitonga, um importante complexo hídrico localizado no norte de Santa Catarina e comprometido pela exploração indiscriminada dos recursos naturais e pela poluição, acaba de ganhar uma nova esperança de renascer. Graças à iniciativa da seção estadual da Abes-SC, um amplo diagnóstico estratégico daquele ecossistema começou a ser realizado, com apoio do Programa Petrobras Ambiental, que poderá viabilizar a recuperação de todo o ecossistema.
O assunto foi tema de uma palestra especial do presidente da Abes-SC e responsável pelo projeto, Paulo José Aragão, coordenada pelo diretor nacional da Abes, Afonso Veiga Filho, que também é diretor de saneamento da Secretaria do Estado de Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina, durante o 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Abrangendo os municípios de Ara quari, Balneário Barra do Sul, Garuva, Itapoá, Joinville e São Francisco do Sul, a baía é a principal área de encontro entre águas doce e salgada de Santa Catarina. São mais de 160 km² de água e 83 ilhas, com uma extensa formação de manguezais. Do ponto de vista ambiental, a baía é geradora de recursos pesqueiros e marinhos e dentro do aspecto econômico, é fonte de renda de inúmeras famílias da região.
Gestão da bacia
Segundo a engenheira sanitarista e ambiental e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Clarissa Soares, monitora do projeto, o diagnóstico que está sendo implementado, chamado de Plano de Gestão do Conhecimento da Baía de Babitonga, prevê, entre as diversas ações, o cadastramento de empresas usuárias das águas do complexo e educação ambiental dos moradores da região. O cadastro das empresas de diversos setores produtivos – realizado pela Universidade de Joinville (Univille) – já está em andamento, e 350 dos 500 registros previsto ao final da atividade já foram efetuados. Esse banco de dados vai armazenas informações precisas sobre a demanda necessária de água a cada período, permitindo ao Poder Público gerenciar o complexo e tomar decisões estratégicas para que não falte água, bem tão precioso nos dias atuais, acrescenta a engenheira.
Clarissa, que administra o andamento das atividades do projeto, para assegurar o primeiro dos objetivos propostos, explicou que o Plano tem o apoio do Programa Petrobras Ambiental, que selecionou 30 projetos, entre eles o da Abes, entre 1.681 inscritos em todo o país. Além da Petrobras, são parceiros da entidade o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Santa Catarina (Crea-SC), a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Sustentável (SDS), a Universidade da Região de Joinville (Univille), as prefeituras dos seis municípios envolvidos, a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), a Fundação do Meio Ambiente de Joinville (Fundema) e a Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, entre outros.
Perfil da baía
A Baía de Babitonga, uma das principais formações estaduais do Sul do Brasil, fica localizada no litoral norte do estado de Santa Catarina. Formada entre o continente e a Ilha de São Francisco do Sul, a baía possui uma lâmina de água com área total de 134 Km² e um volume de armazenamento de água em torno de 7,8 x 108 m³. Devido ao fenômeno das marés, há uma apreciável renovação da água na baía Assim, uma maré com amplitude de 1,3 metro e com duração de seis horas proporciona uma renovação da ordem de 1,7 x 108 Km³, que representa 20% do volume do total de água da bacia.
O Complexo Hídrico da Baía de Babitonga, com seus 1,4 mil Km², abrange parte dos municípios de Joinville (o maior aglomerado urbano da região, com 415 mil habitantes), São Francisco do Sul, Garuva, Itapoá, Araquari e Balneário Barra do Sul. Situada próxima às encostas da Serra do Mar, a baía recebe a contribuição de vários rios, com destaque para os rios Cubatão do Norte, Palmital, Cachoeira e Parati. Na Baía de Babitonga são encontradas as maiores áreas de manguezais do limite austral da América do Sul. Tem como limites ao leste o município de São Francisco do Sul e o Oceano Atlântico, ao oeste Joinville, ao norte os municípios de Itapoá e Garuva e, ao sul, Araquari e Balneário de Barra do Sul.
A Baía de Babitonga liga-se ao Oceano Atlântico através de uma barra principal ao norte, com uma abertura de 1,85 metro, situada entre a Praia Figueira do Pontal (município de Itapoá) e a Praia de Capri (município de São Francisco do Sul). Possui uma segunda ligação com o Oceano Atlântico através do Canal do Linguado e da Praia de Barra do Sul, ligação esta que foi interrompida com o aterro do canal, em 1935, para facilitar a ligação viária entre a Ilha de São Francisco do Sul e o continente. A profundidade da baía atinge entre 10 e 15 metros, o que lhe confere boa navegabilidade, com destaque para o Porto de São Francisco do Sul, o maior porto natural da América do Sul.
O acesso hidroviário a Joinville ocorreu com intensidade até meados da década de 70, para transporte de cargas e passageiros. Atualmente, com o assoreamento do Rio Cachoeira e da Lagoa de Saguaçu, o trânsito de embarcações de grande porte no local ficou impossibilitado. A grande extensão territorial da Baía de Babitonga também pode ser observada pela diversidade ambiental existente na área. Com nascentes no alto das serras, entre campos de altitude e matas de galeria, os rios descem as encostas da Serra do Mar e atingem a planície quartenária, protegidos pela densa Floresta Atlântica, até desaguar na Baía de Babitonga, passando pela região dos manguezais.
O Canal do Linguado, por sua vez, é o braço sul da Baía de Babitonga. Antigamente, o canal fazia uma conexão hidraulicamente muito eficiente entre a Baía e o Oceano Atlântico. Em 1935, para facilitar a construção da via de acesso ao Porto de São Francisco do Sul, o canal foi fechado com um dique, o que dificultou a troca de água e proporcionou um grande assoreamento provocado pelo acúmulo de poluentes trazidos pelos efluentes da Baía de Babitonga. Quando da ocorrência de maré alta, esse represamento provoca a inversão da vazão dos efluentes, e grande parte dos poluentes volta às suas origens.
Na verdade, o fechamento do Canal do Linguado ocorreu em duas etapas. Em 1907, por ocasião da construção do ramal ferroviário de ligação ao Porto de São Francisco do Sul, foi aterrado o canal norte, ligando a Ilha de São Francisco do Sul à Ilha do Linguado. O fechamento completo ocorreu em 1935, com o aterro do canal sul, ligando a Ilha do Linguado ao continente. A lâmina de água do Canal do Linguado, entre o aterro e a Barra do Sul (ligação com o Atlântico) é de 11,7 Km².
(Revista BIO, outubro a dezembro de 2005)