Estudo aponta áreas brasileiras importantes para conservação das aves
2006-01-30
A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil),
representante da BirdLife International no País, acaba de concluir um estudo
que aponta 163 Áreas Importantes para a Conservação das Aves (ou IBAs, na
sigla do inglês Important Bird Areas) no Brasil. O trabalho englobou 15
estados, incluindo nove ecorregiões de quatro dos biomas brasileiros (Mata
Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa).
O estudo, que levou cinco anos para ser concluído, teve a participação de
cerca de 30 biólogos especializados em aves e faz parte de uma estratégia
mundial da BirdLife, que já detectou 3.400 “IBAs” em 24 países. Entre os
critérios para se estabelecer uma IBA, estão a presença na área de espécies
globalmente ameaçadas de extinção, espécies de distribuição restrita,
espécies restritas a um bioma e/ou espécies congregatórias, ou seja, que
utilizam determinadas áreas para reprodução, locais de invernagem ou paradas
durante a migração. As IBAs são selecionadas para abranger populações
distintas ao longo da distribuição geográfica das espécies e podem ser
definidas para proteger uma ou várias espécies.
O objetivo do trabalho é mostrar para o público que essas áreas são
importantes e precisam ser valorizadas. Com isso, pretende-se implementar e
garantir a sua conservação. É uma ferramenta a ser utilizada por órgãos
públicos, privados, comunidade científica e sociedade civil para justificar
investimentos, projetos e campanhas de conservação. Embora a rede de IBAs
seja definida por sua avifauna, sua conservação asseguraria a sobrevivência
de um grande número de espécies de outros grupos animais e vegetais.
O Brasil possui cerca de 1.800 espécies de aves, que representam 20% das
9.000 espécies existentes no mundo. É o terceiro país em diversidade de aves
(atrás apenas da Colômbia e do Peru). No entanto, é o primeiro em número de
espécies em extinção. Das 1.212 aves ameaçadas no mundo, 118 estão no País,
incluindo duas já extintas na natureza - o mutum-do-nordeste (Mitu mitu) e
a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii).
O resultado do estudo da SAVE Brasil será publicado no livro Áreas
Importantes para a Conservação das Aves no Brasil, que será lançado durante
a 8a. Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica
(COP8), em Curitiba, em março próximo.
A BirdLife International foi criada em 1922 e é uma aliança de organizações
ambientalistas presentes em mais de 100 países que, juntas, são a referência
em conhecimento sobre o estado de conservação das aves, seus hábitats e
assuntos e problemas em geral que afetam a avifauna mundial. No Brasil,
atuava desde 2000 através de um programa ligado à BirdLife International
(sediada na Inglaterra), até a criação da Sociedade para a Conservação das
Aves do Brasil (SAVE Brasil), em 2004, uma instituição brasileira que
representa a BirdLife no País.
Domínio da Mata Atlântica
O estudo para a identificação das Áreas Importantes para a Conservação das
Aves no Brasil (IBAs) foi realizado em 15 estados do Domínio da Mata
Atlântica (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba,
Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), por ser a área mais ameaçada
(83% das espécies de aves ameaçadas de extinção no País ocorrem nesses
estados) e por ser a região com a maior quantidade de informações
disponíveis. O trabalho, porém, levou em consideração a totalidade do
território de cada estado, incluindo assim áreas de Caatinga, Cerrado e
Pampa.
As 163 IBAs identificadas totalizam 8.385.791 hectares, que correspondem a
3,08% da região estudada (ou seja, da área total desses 15 estados). O
estado com o maior número de IBAs identificadas é a Bahia, com 31 áreas,
seguida por Minas Gerais, com 18, além de uma IBA interestadual com área nos
dois estados. Em superfície, porém, o campeão é o Rio Grande do Sul, com
1.047.051 hectares distribuídos em 12 IBAs.
Do total de áreas identificadas como IBAs, 51% estão parcialmente ou
totalmente inseridas em unidades de conservação de proteção integral, 3% em
unidades de conservação de uso sustentável (excluindo Áreas de Proteção
Ambiental – APAs e RPPNs), 11% em Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPNs) e 8% em outros tipos de reservas privadas. No Espírito
Santo, por exemplo, duas grandes áreas particulares, sem proteção garantida,
são os principais refúgios ainda existentes da saíra-apunhalada (Nemosia
rourei). Mesmo áreas parcialmente protegidas, como a Chapada do Araripe
(Ceará), o único abrigo do soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni),
requerem ações imediatas para a conservação de longo prazo das espécies que
lá ocorrem.
As IBAs incluem também áreas bastante pressionadas pela urbanização, como a
Serra da Cantareira, em São Paulo, com grau de proteção apenas parcial e
abrigo de quatro espécies ameaçadas de extinção - gavião-pomba (Leucoptemis
lacemulata), pomba-espelho (Claravis godefrida), papagaio-de-peito-roxo
(Amazona vinacea) e araponga (Procnias nudicollis) -, além de outras nove
quase ameaçadas.
Maiores informações com Maura Campanili, telefone (11) 3082-8088.
BirdLife International: www.birdlife.net