Região Sul: o risco proveniente das águas de lastro
2006-01-30
A água de lastro é aquela captada no local de embarcação dos navios para manter sua estabilidade durante o percurso. Geralmente a medida é tomada na zona portuária ou costeira, o que aumenta a possibilidade de captação também de organismos patogênicos. No momento do desembarque a água é liberada, o que introduz animais exóticos em um ecossistema.
Para reduzir os riscos causados pelo processo, em 2004 a Organização Marítima Internacional (IMO) adotou uma nova Convenção para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimento de Navios. Ficou estabelecido que a troca da água deve ser realizada pelo menos três vezes e preferencialmente em alto-mar, no mínimo a 200 milhas da costa ou a 200 metros de profundidade.
Espécies exóticas
A inserção de exemplares não nativos em um ambiente, como o mexilhão dourado, pode ocasionar prejuízos à economia, à biodiversidade e aos ecossistemas naturais, além dos riscos à saúde humana. O problema se torna cada vez mais grave com a globalização e o aumento do comércio internacional.
O Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul, da The Nature Conservancy (TNC), em diagnóstico realizado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, registrou em 2005 no Brasil a presença de 204 espécies exóticas invasoras terrestres - cerca de 85% trazidas voluntariamente.
Para discutir ações com o objetivo de identificar e localizar os principais problemas nesta área, os projetos já realizados ou em andamento e se criar mecanismos de controle e monitoramento destas espécies, foi realizado em 2005 o 1º Simpósio Brasileiro de Espécies Exóticas Invasoras.
Em São Lourenço do Sul, segundo o funcionário da Japesca Marco Aurélio Bohlke, alguns pescadores comentam sobre a existência do mexilhão dourado, mas em áreas mais distantes, próximas a Tapes e Arambaré.
O pescador Francisco da Rosa, que está nesta profissão desde 1984, afirmou que devido à água salgada o molusco não tem aparecido, ao contrário do ano passado, quando surgiu em grande quantidade. “O mexilhão come a madeira dos cascos, estragando os barcos. Ele se prende ao casco e é muito difícil retirá-lo”, disse.
(Cristine Spiering - Especial para o Diário Popular)
Pesquisa sobre a presença do mexilhão dourado
Apresenta-se a seguir o resultado da pesquisa de Ricardo Capítoli e Carlos Bemvenuti para verificar presença de mexilhões dourados na região, realizada pelo laboratório de Ecologia de Invertebrados Bentônicos do Departamento de Oceanografia da Furg. Os dados foram coletados entre setembro de 2001 e junho de 2004.
12/5/02 - Canal São Gonçalo (em frente ao arroio Pelotas): 412 exemplares coletados na margem direita do canal, com comprimento médio de 15 milímetros. Água doce.
20/2/02 - Clube Náutico Gama, arroio Pelotas e Colônia Z-3: presença confirmada em entrevista com pescadores.
2/2/03 - Desembocadura do canal São Gonçalo, Laranjal e Colônia Z-3: exemplares mortos na praia.
2/4/03 - Ponta da Feitoria: exemplares vivos.
17/4/03 - Saco do Rincão: 82,48 quilos de exemplares coletados a três metros de profundidade. Salinidade de 0,4.
5/7/03 - Colônia Z-3: exemplares escassos de em média 13 milímetros de comprimento. Água doce.
15/8/03 - Ponte da Ilha dos Marinheiros: um exemplar de 12 milímetros fixado entre as pedras.
Outubro/03 - Refinaria Ipiranga em Rio Grande: incrustação moderada no interior das tubulações de refrigeração.
30/1/04 - Ponta Rasa (Várzea e Capivaras): colônias maciças fixadas em calões no ambiente costeiro. A maioria vivos e alguns dos expostos ao mar, mortos. Exemplares com comprimento médio de 23 milímetros.
26/2/04 - Desembocadura do canal São Gonçalo: colônias maciças fixadas na bóia de sinalização da entrada do canal (revisada no porto de Pelotas). Exemplares de comprimento médio de 23 milímetros.
19/3/04 - Interior do arroio Pelotas (estaleiro): colônias maciças fixadas na vegetação submersa. Exemplares de comprimento de 10, 23 e 30 milímetros.
19/3/04 - Desembocadura do canal São Gonçalo, Laranjal e Colônia Z-3: elevado número de exemplares mortos na praia, com entre cinco e 20 milímetros. Salinidade superficial 2.5.
7/4/04 - Eclusa da barragem Santa Bárbara: exemplares de comprimento médio de 14 milímetros fixados nas paredes internas da eclusa utilizada na passagem de embarcações de maior porte.
9/6/04 - Interior do arroio Pelotas (estaleiro): constatada presença de mexilhões vivos no interior do arroio.
(Diário Popular, 29/01/2006)