Pesquisa da UFPA mapeia tráfico de animais
2006-01-27
Uma pesquisa do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA) está trocando o laboratório pelas feiras de Belém. A professora Ana Cristina de Oliveira iniciou um estudo intitulado “Caracterização do comércio de animais silvestres em feiras livres”. O trabalho está em fase inicial, mas o mapeamento das feiras está pronto e muitos contatos com feirantes também estão sendo feitos. De acordo com a professora, os feirantes se mostraram desconfiados com a pesquisa e muitos pensaram que se tratava apenas de mais uma investida dos técnicos do Ibama para apreender algum animal.
Na avaliação da professora, esse medo é facilmente justificado porque os feirantes só têm esta forma de captar renda, ou seja, se algo acontecer com eles, não terão como desenvolver outros trabalhos. “Nos órgãos municipais que lidam com os feirantes não há informações sistematizadas. Além disso, a substituição de feirantes de um local para outro é freqüente, o que acaba dificultando o processo de localização de cada um para a realização das entrevistas, feitas por meio de um questionário específico”, comenta a professora. Este tipo de comércio em si é ilegal e a pesquisa de Ana Cristina não abre espaço para um processo de legalização para a venda de animais silvestres.
O questionário que será apresentado aos feirantes focará dados socioeconômicos. Há quesitos sobre quais animais são mais vendidos vivos ou abatidos, com detalhes sobre preços, subprodutos, utilidades, origens e demais observações de cunho biológico. Segundo Ana Cristina de Oliveira, o comércio de animais silvestres é o terceiro maior do planeta, perdendo apenas para o contrabando de armas e drogas. No entanto, o questionário vai analisar a escolaridade dos feirantes e perguntas do tipo “há quanto tempo estás no ramo”, ou “quantas pessoas de sua família trabalham com você”, entre outras.
A previsão de Ana Cristina de Oliveira é de que, até o final do ano a pesquisa esteja pronta. A partir dos resultados encontrados, o próximo passo será comparar o volume do que é comercializado com o que foi apreendido pelas polícias e Ibama. O resultado da pesquisa será apresentado para os técnicos dos órgãos que lidam com animais silvestres. Nesta amostra, a professora pretende detalhar como vivem os feirantes e quem são, realmente, os responsáveis pelo tráfico de animais provenientes da floresta amazônica. “Vamos detalhar esta cadeia produtiva".
O trabalho poderá contribuir com a elaboração de políticas públicas na venda de animais silvestres. De repente, quem sabe, a partir daí, vários criatórios podem ser construídos com esta finalidade, ou seja, sem mexer com fauna silvestre de maneira criminosa. Tem animais cuja caça é proibida. Ao mesmo tempo, muitos ribeirinhos caçam estes animais por uma questão de sobrevivência. O importante é iniciar uma mudança de mentalidade por parte dos técnicos dos órgãos públicos”, observou Ana Cristina de Oliveira. Primatas, pássaros e botos são animais mais sacrificados no momento.
(Diário do Pará, 26/01)