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2006-01-27
O "Gasoduto do Sul", lançado por Brasil, Venezuela e Argentina, teria altos custos econômicos e ambientais e não teria um mercado garantido, disseram ontem (26/01) analistas consultados pela EFE. Os Governos dos três países deverão determinar nos próximos meses se é viável a construção do gasoduto, a um custo de US$ 20 bilhões e com 7 a 8 mil quilômetros de extensão, para transportar 100 milhões de metros cúbicos de gás natural.

"A integração energética não pode ser feita a qualquer custo. Tem que ser competitiva nacional e internacionalmente", advertiu o secretário de Energia do Estado do Rio de Janeiro, Wagner Victer. "Acabaria sendo uma obra faraônica, poderia se transformar em uma espécie de Transamazônica energética", disse.

Victer considera que a proposta pode não passar de um anúncio de impacto. "A decisão política é importante, mas sem uma base técnica e comercial, se transforma em uma loucura", ressaltou. A Venezuela procura diversificar seus mercados e reduzir a dependência dos Estados Unidos. Um gasoduto como esse permitiria ao país exportar gás equivalente a 628.930 barris de petróleo adicionais por dia (bpd), mas a um custo muito alto.

Custos econômicos e ambientais
"O projeto foi considerado faraônico por causa de sua magnitude em termos físicos e financeiros", disse outro especialista, que preferiu não se identificar. "Não se entende como não preferem uma opção mais econômica, como transportar gás natural liquidificado (GNL) em navios e levá-lo até onde é preciso", acrescentou.

O gasoduto acarretaria altos custos econômicos e ambientais dificilmente justificáveis. Teria que atravessar a frágil Guiana venezuelana e as densas selvas amazônicas, além de passar por baixo dos leitos de grandes rios como o Negro e o Amazonas. Arrasaria milhares de quilômetros de florestas virgens para atravessar os estados da região norte do Brasil, hoje isolados por terra do resto do país. De Manaus, se desdobraria em duas ramificações, uma para o sul, que chegaria ao Rio de Janeiro, e outra em direção aos estados do Nordeste.

Do Rio de Janeiro, chegaria a São Paulo para se juntar ao "Gasbol", que hoje transporta 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás boliviano, e seguiria em direção à Argentina. O problema é a que preço esse gás chegará a seu destino e como competiria com outros combustíveis mais baratos. Cálculos de um grupo de consultores independentes obtidos pela EFE informam que para recuperar os custos o gás deveria ter uma tarifa de transporte de pelo menos US$ 8 por milhão de BTU (medida energética internacional).

Atualmente, a Bolívia vende seu gás natural ao Brasil a US$ 3,23 por milhão de BTU, número já alto se comparado com o gás brasileiro, mais barato. Para a Argentina, o preço para entrega na fronteira é de US$ 3,18 por milhão de BTU. Cem milhões de metros cúbicos é muito gás, e por isso o fator demanda deve ser levado em conta. O Brasil consome 70 milhões de metros cúbicos, dos quais 35% provêm da Bolívia.A Argentina é um país mais "gaseificado", pois consome aproximadamente o dobro do Brasil.

Jazidas nacionais
Quando o hipotético gasoduto entrasse em serviço, o Brasil estaria produzindo mais de três milhões de barris por dia de petróleo e cerca de 100 milhões de metros cúbicos de gás. Em 2006, o país consolidará sua auto-suficiência em petróleo e já se prevê que, em uma década, também equilibrará sua balança de gás natural com o aumento da produção interna. As principais jazidas ficam nas bacias de Santos e Campos, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Quanto à Argentina, se nos próximos anos o país conseguir resgatar sua desmantelada indústria de hidrocarbonetos e repor suas reservas, o gasoduto poderia ter menos mercado que o esperado. Para o professor Edmar Fagundes de Almeida, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a proposta parte da vontade política dos Governos da Argentina, que hoje tem deficiência de gás, e da Venezuela, "que procura um papel político destacado na região".

"Como idéia, é simpática e não tem nada de errado", mas tem suas dificuldades financeiras porque precisaria de investimentos privados, disse. Neste caso, deveria ter uma garantia de mercado e de preços, tarifas e contratos a longo prazo acertados entre três países, que têm condições e regimes jurídicos totalmente diferentes para este negócio, ressaltou.
(EFE, 26/01/06)

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