O Rio Gravataí respira
2006-01-26
Dez dias de chuva devolveram o vigor a um dos principais mananciais da
Região Metropolitana. Desde o dia 16, quando atingiu o nível mais crítico no
verão, o nível do Rio Gravataí subiu 104 centímetros. A medição é da
Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), que controla o volume do rio
por meio de uma régua, em Alvorada.
O servente João Paulo de Araújo, 45 anos, notou a diferença no caniço. Havia
três meses, ele não pescava nas margens do Gravataí. Ontem (25/01) à tarde,
esbaldou-se fisgando lambaris para a ceia.
A 500 metros, adolescentes divertiam-se com acrobacias que há um mês lhes
renderiam hematomas.
- Antes da chuva, dava para caminhar até a metade do rio - contou Lisandro
Machado, 15 anos.
Mais corpulento, o rio fortalece também suas defesas. O barco de alumínio do
comando ambiental da Brigada Militar, por exemplo, voltou a operar. Em
dezembro, a embarcação esbarrava em bancos de areia ou projetos de ilhotas.
- Com o barco, podemos fiscalizar o uso de agroquímicos, o desmatamento e o
assoreamento - ressalva o capitão Rodrigo Gonçalves dos Santos, da Brigada
Militar.
As mudanças na paisagem transcendem o leito do próprio rio. Onde o solo
apresentava rachaduras, há barro formado pelas últimas precipitações. Onde
galhos mostravam-se secos, a mata ciliar esverdeada voltou a contornar o
Gravataí.
Drenagem contínua na região ainda é preocupação
Um alento para um dos principais defensores do rio, o presidente da Fundação
Municipal do Meio Ambiente de Gravataí, Paulo Müller. Às 19h do dia 19 de
dezembro, ele deu o seguinte depoimento:
- Estou em um barco e certas partes não chegam a 20 centímetros de
profundidade. A situação é grave.
Ontem, no mesmo horário e local, ele celebrou a nova cara do sinuoso
companheiro. Mas não escondeu a preocupação com a drenagem contínua da
região:
- Ele recebeu água e recuperou a cota estável, mas bastam dias de estiagem
para minguar. É como uma transfusão de sangue em alguém com hemorragia -
alertou.
Arrozeiros religam as bombas
A captação de água do Gravataí para as lavouras de arroz, contestada durante
o período mais seco do verão, foi retomada na totalidade.
Ontem, o nível do rio atingiu o dobro do índice em que os agricultores se
comprometem a parar o bombeamento, a exemplo do que ocorreu no dia 16.
- Religamos as bombas pois o rio voltou ao normal. A necessidade de
irrigação agora diminui progressivamente - explicou o consultor da comissão
de recursos hídricos da Farsul, Ivo Lessa.
Segundo o presidente da Corsan, Vitor Bertini, o cenário atual afasta o
risco de desabastecimento.
(ZH, 26/01)