Mecanização em Serra Pelada vai extinguir vila de 26 anos
2006-01-26
Antigos garimpeiros que resistiram ao tempo e até hoje residem
numa vila de barracos às proximidades do que já foi a maior cava de mineração de ouro do mundo, Serra
Pelada, serão remanejados e a localidade será extinta. Esse foi um dos anúncios feitos durante a
assembléia geral extraordinária que reuniu 3.500 garimpeiros no auditório Mauro Alípio Martins, na sede da
Coomigasp - Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada - no último domingo (22). Na
oportunidade, a empresa terceirizada Minas Brasil Empreendimentos Imobiliários, de Uberlândia (MG),
apresentou o projeto social destinado aos garimpeiros associados à cooperativa e que deverá garantir a
construção de novas casas a pelo menos 50 Km do lago, o qual terá exploração mecânica nesta nova fase.
O
contrato firmado entre a cooperativa de garimpeiros e a referida empresa imobiliária estabelece
procedimentos para a realização de obras civis "de caráter social que visam beneficiar os cooperados e
suas famílias". A Coomigasp celebrou convênio com a Minas Brasil em 19 de fevereiro de 2004, conforme
decisão de uma outra assembléia geral. As cláusulas do contrato mais polêmicas e debatidas no domingo pela
classe garimpeira foram a divisão dos 120 milhões de dólares entre os cerca de 32 mil associados, que será
efetuada pela própria Coomigasp, e o local destinado à construção das primeiras 15 mil casas, que
provavelmente será a localidade conhecida como Km 16, situada entre a rodovia PA-275 e Serra Pelada. A
empresa imobiliária se comprometeu a elaborar o projeto de engenharia, urbanísticos e de paisagismo, com a
demarcação de lotes, construção das unidades residenciais e terraplanagem das ruas, sistema completo de
esgoto, de água potável, tratamento, distribuição e ligação domiciliar de água, estação de tratamento de
esgoto, sistema de drenagem pluvial, linhas de transmissão de rede elétrica, subestações e ligações
prediais, pavimentações e obras complementares, edificações residenciais, hospitalares, comerciais,
escolares e de lazer, entre outros.
A representante da Minas Brasil, Márcia Borges da Silva, declarou ao
CORREIO DO TOCANTINS que a empresa utilizará mão-de-obra de trabalhadores da região, gerando empregos e
renda no local, e que planeja dividir os seus empreendimentos com outras empresas, realizando parcerias. O
prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió, também compareceu ao encontro e destacou o fato da concessão
dos direitos minerários sobre Serra Pelada a Coomigasp só ter se concretizado depois que a cooperativa
assumiu um compromisso com o Governo Federal de trabalhar em prol da criação da vila popular para os
garimpeiros, com a finalidade de promover a inclusão social de todo o segmento.
Seminário - A assembléia
também teve momento de tensão quando Curió e Josimar Elízio (presidente da Coomigasp) citaram o nome de
Raimundo Benigno Moreira, presidente do Singasp - Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada -, que
encaminhou um ofício à presidência da cooperativa solicitando o adiamento da referida assembléia geral,
alegando que o acerto do contrato de prestação de serviços com a empresa mineira não poderia ocorrer sem a
definição de objetivos. Benigno, por meio deste expediente, sustenta que tal evento deveria acontecer após
a realização de um seminário previsto para os próximos dias 27 e 28, em Serra Pelada, organizado por
várias entidades representativas de moradores da região, com a finalidade de elaborar as diretrizes,
planos e programas para o desenvolvimento sustentável do antigo garimpo. Para o seminário, foram
convidados representantes do Ministério de Minas e Energia, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério
do Desenvolvimento Social, Ministério da Integração Nacional, entre outros. Por fim, os termos do acordo
com a empresa imobiliária foram aprovados em votação simples pelos associados da Coomigasp presentes à
assembléia geral. A retomada das atividades de mineração em Serra Pelada deverá atrair grande contingente
populacional para o município de Curionópolis e cidades circunvizinhas, principalmente de garimpeiros que
se encontram residindo fora do Estado desde a desativação do garimpo, o que certamente poderá causar
considerável impacto social, político e econômico sobre a região sudeste do Pará, acreditam as
lideranças.
(Correio do Tocantins, 24/01)