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2006-01-25
O lado sombrio do espetacular crescimento da China e da Índia tem dois contrapontos sérios. O primeiro: sobram denúncias de desrespeito aos direitos humanos, prática que subsiste pelo fato de serem dois regimes políticos com raízes autoritárias. O segundo: é a escassa consciência sobre as questões ambientais, para não falar em descaso.

A Anistia Internacional, em seu relatório global de 2005, diz que houve algum progresso na China, mas nada que tivesse impacto relevante para o bem-estar da população do país. Diz o texto que dezenas de milhares de pessoas foram detidas sem acusação formal em 2004, sujeitas a torturas e maus-tratos. Milhares foram condenados à morte e executados, a maioria em julgamentos parciais. A liberdade de expressão continuou a ser ultra-restrita, especialmente na região do Tibete.

Também na Índia, os casos de violação dos direitos humanos gozaram de impunidade em muitos casos. Críticos do governo sofreram constrangimentos legais. A Anistia enfatiza ainda que minorias étnicas, religiosas e mulheres continuaram a ser vítimas da discriminação, patrocinada pela polícia e pelo sistema judiciário do país.

Na questão ambiental, o Worldwatch Institute, centro independente de pesquisas sediado em Washington, divulgou um relatório na quarta-feira 11, em que alerta para os riscos a que os dois países expõem seus habitantes e o restante do mundo.

De acordo com a publicação, a demanda crescente da China por insumos atingiu um nível preocupante. Em 2005, consumiu 26% do aço produzido em todo o mundo, 32% do arroz e 47% do cimento. Além disso, os estoques de água dos dois países estão minguando: a China dispõe de apenas 8% para suprir as necessidades do país, e o consumo da Índia deve triplicar até 2025. Os modelos chinês e indiano, por ora, não contemplam a hipótese de crescimento com baixo consumo de recursos e poluição ambiental reduzida. Quando atingirem o estágio econômico dos Estados Unidos, o que não está longe, "serão necessários dois planetas Terra para manter as duas economias", diz o texto.

As organizações não-governamentais já estão de olho nos dois países há algum tempo. Por serem nações em desenvolvimento, não têm metas de redução de emissões, como os países ricos signatários do Protocolo de Kyoto. A poluição, aliás, é um dos focos de insatisfação de suas sociedades. Segundo relato da revista Times Asia, o desrespeito ao meio ambiente é um dos principais motivos de protestos e distúrbios nas cidades chinesas: foram 74 mil em 2005.

O próprio Ministério de Recursos Hídricos da China admite que 300 milhões de pessoas no país bebem água contaminada todos os dias. Desse total, 190 milhões literalmente adoecem. Mais de 30 mil crianças morrem anualmente de diarréia, por causa da impureza da água. A poluição é ainda responsável pelo aumento de 25% da taxa de bebês que nascem com alguma anomalia.

A situação na Índia não é muito melhor. O ponto crítico é a qualidade do ar, pela emissão de gases da indústria e alta concentração de automóveis nas grandes cidades – o país tem 20 centros urbanos com mais de 1 milhão de habitantes. Como na China, existem leis que coíbem a poluição, mas por falta de fiscalização e multas de baixo valor são sistematicamente desrespeitadas.

Do ponto de vista global, os números também são assustadores. As emissões tóxicas da Índia cresceram 61% entre 1990 e 2001, e as da China, 111%. É uma fatura que o globo já está pagando e revela-se na multiplicação de desastres naturais contemporâneos – da temporada de furacões de intensidade recorde nos Estados Unidos e Caribe à seca, sem precedentes, na Região Amazônica.
(Carta Capital, 25/01/06)

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