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2006-01-24
As algas azuis (ou cianobactérias) que infestam o Guaíba, em Porto Alegre, deixam gosto e cheiro na água,mas não afetam a qualidade do produto distribuído para consumo humano pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Um laudo técnico, emitido na semana passada pelo Departamento de Química da Fundação Universidade de Rio Grande (Furg) garante as condições de potabilidade da água, de acordo com os padrões estabelecidos pela portaria 518, de março de 2004, do Ministério da Saúde.

O parecer é assinado pelo doutor em bioquímica de cianobactérias João Sarkis Yunes, considerado um dos maiores especialistas brasileiros do setor, e atesta que amostras de água do Guaíba - coletadas dia 11 de janeiro - apresentam índices menores do que o permitido pela norma sanitária. Na água coletada no ponto de captação do Menino Deus, foi constatada a presença de 0,14 micrograma da toxina microsistina por litro, sendo que o padrão aceito pela portaria 518 é de 1 micrograma por litro. Na Estação de Tratamento da Tristeza, o índice é ainda mais baixo, 0,09 microgramas por litro.

A análise foi realizada a pedido do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), ligado à Secretaria da Saúde, responsável pelo monitoramento das condições de potabilidade no Estado. Segundo a técnica do setor de vigilância da qualidade da água para consumo humano do Cevs, Adriana Linden, a água distribuída pelo Dmae tem sido monitorado constantemente. “Temos feito a captação de amostras regularmente, não só em Porto Alegre, mas também da água do rio Gravataí, distribuída pela Corsan, e de outras companhias municipais”, informou a bióloga. Novas amostras estão sendo analisadas pela Furg e um outro parecer deve ser emitido nesta semana.

A garantia do Cevs foi recebida sem surpresa pelo diretor do Dmae, Flávio Presser. “Não é nenhuma novidade para nós. Realizamos 110 mil análises mensais e temos uma rede de monitoramento da qualidade da água distribuída”, afirmou.

Proliferação das algas tem relação com resíduos de esgotos
O professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Albano Schwarzbold, alerta que as algas azuis, em determinadas situações, podem representar risco potencial à saúde humana. "Elas são cianobactérias que podem produzir cianotoxinas, responsáveis por distúrbios no sistema nervoso e no fígado", afirmou o especialista em ecologia.

Schwarzbold desconhece as condições da água distribuída pelo Dmae, mas reconhece a capacidade do doutor Sarkis, da Furg. "Ele é uma pessoa altamente qualificada para fazer análises que podem estabelecer os níveis de potabilidade da água conforme determina o Ministério da Saúde para este parâmetro, explicou.

O professor da Ufrgs ressalta que a proliferação das algas no Guaíba tem forte ligação com o esgoto cloacal despejado no lago, que é uma fonte de nutrientes para as cianobactérias". Segundo ele, o poder público poderia investir no tratamento de esgoto para evitar que as algas coninuem afetando a água distribuída para consumo. "Seria necessário um mutirão entre os governos federal, estadual e municipais nesse sentido".

O diretor do Dmae, Flávio Presser, destaca que Porto Alegre está buscando financiamento no BID para dar início ao Programa Socioambiental, que deverá ampliar o esgoto tratado na capital de 20% para 70%. "Com os recursos internacionais, poderemos construir um complexo de tratamento no bairro Serraria/Ponta Grossa", diz ele. A construção da unidade custaria cerca de R$ 290 milhões – sendo que 60% viriam do BID e o resto de contrapartida do município.
(JC, 23/01)

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