Norte do Paraná recolhe 90% das embalagens vazias de agrotóxicos
2006-01-24
As principais entidades envolvidas com a agricultura de 30 municípios do Norte do Paraná destacam os resultados obtidos no ano de 2005, com o recolhimento superior a 90% das embalagens vazias de agrotóxicos do volume adquirido e consumido na região.
Iniciada na safra agrícola de 1997/98 por iniciativa pioneira do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Cambé, depois de diagnosticar elevada quantidade de embalagens de agrotóxicos jogadas em carreadores e riachos, foi instalado no lixão sanitário local um depósito exclusivo para o recolhimento com a entrega direta feita pelo produtor rural, informa o engenheiro agrônomo Alcides Bodnar, da Emater.
Com o trabalho conjunto da extensão rural oficial e da administração municipal, ambos também membros do conselho e reforçado com programas estaduais de meio ambiente e agricultura, o local passou a receber embalagens vazias de diversos municípios da região. “A consolidação de resultados mais efetivos, com metas definidas e abrangência ampliada, se deu a partir da criação da Associação Norte Paranaense de Revendedores Agroquímicos, a Anpara, em 1999”, destaca Bodnar.
A Anpara, que integra 50 associados dentre empresas e cooperativas, atua em 30 municípios com 36 pontos de coleta, tem uma central de recebimento, localizada na estrada da Prata, Km-6, de 7 mil metros quadrados para abrigar 400 toneladas de embalagens, processadas em três grandes galpões. Até fevereiro, a área coberta aumenta em 1.100 metros quadrdos, vindo facilitar o recebimento, processamento e armazenamento, assegura o engenheiro agrônomo Irineu Zambaldi, gerente da entidade.
Pelo levantamento operacional de 2005, a entidade registrou o recebimento 1,16 milhão de embalagens vazias que correspondem a 90% do volume vendido na região, de um total de 1,3 milhão, embora nem todas as embalagens adquiridas foram utilizadas nos municípios da região, visto que podem ter sido usadas e entregues em uma das 15 associações do Paraná, responsáveis por 65 postos de coleta no território paranaense.
Zambaldi explica que são duas as modalidades de operação da central de recebimento. Uma é o recebimento direto, entregue por produtores de municípios mais próximos e com uso de grandes quantidades de embalagens e o outro é o de transbordo de embalagens vazias, entregues pelo veículo do produtor rural de pequeno e médio porte para o caminhão da Anpara que, já no início de cada ano, tem um detalhando e divulgado calendário anual da sua programação de coleta nos municípios da área de ação, com custos de transporte subsidiados pelos próprios associados.
O descarregamento na central é por categorias, sendo embalagens vazias limpas pela tríplice lavagem feitas pelo produtor rural durante os procedimentos da pulverização na lavoura e conferidas por laudo de recebimento. A outra categoria são as embalagens vazias não laváveis e contaminadas, colocadas em sacos plásticos apropriados com amarrio e identificador de origem.
“Na falta da tríplice lavagem ou descontaminação irregular, a entidade emite laudo encaminhado a Suderhsa que, por sua vez, comunica ao IAP para as medidas administrativas cabíveis de advertências e multas e simultaneamente remete a questão à Promotoria Ambiental para punições legais jurídicas como crime ambiental” lembra Zambaldi.
Reciclagem - Depois do recebimento, as embalagens vazias são processadas em lotes para reciclagem especial na produção de novos materiais de uso não domiciliar, seja humano ou animal. Os plásticos prensados e empacotados vão para uma indústria de Maringá. O papel de rótulos e papelões de caixas seguem destino para Guarapuava. Alguns plásticos específicos e tampas, vão para o Rio de Janeiro e as partes metálicas, com destino à Piracicaba (SP).
Todas as demais embalagens contaminadas são destinadas a incineração em Suzano e Guaratinguetá, ambas em São Paulo e Barra Mansa, RJ. O custo do transporte é arcado pelas indústrias de produtos fitosanitários, através de verba específica administrada pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV).
A lei número 9.605, sancionada dia 12 de fevereiro de 1998, trata da questão voltada a poluição e outros crimes ambientais, onde seus artigos prevêem penas de reclusão e multas pecuniárias de R$ 1.500 na incorrência da primeira vez e, se reincidente, pode dobrar de valor, alerta o administrado de empresas Ney Paulo Pereira, chefe Regional do IAP de Londrina.
Ney Pereira lembra ainda de que aí são vistas as outras irregularidades da propriedade, como falta de reserva legal, mata ciliar ou outros problemas ambientais, complicando a vida do produtor rural, porque estará sujeito a um processo legal que se julgado e condenado, perde a condição de réu primário. Situação essa que Nelson Takeshi Tomimatsu, 44 anos, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de 770 hectares, localizada na Água da Figueira, em Centenário do Sul, não quer incorrer.
Nesta safra, Tomimatsu cultiva 500 hectares de soja convencional e vai utilizar até o final da cultura perto de 600 embalagens, que em viagens periódicas leva em sua caminhonete as vazias já descontaminadas pela tríplice lavagem até central de recebimento, distante 100 quilômetros de sua propriedade.
“Além de cumprir a legislação, vejo a vantagem de não acumular embalagens vazias na fazenda, acabando com os riscos de contaminação ambiental” atesta consciente Tomimatsu, considerado pela Anpara um dos pioneiros por participar desde o início da operação de recolhimento, em 2002.
Para atingir a totalidade dos produtores rurais, em especial os agricultores familiares que fazem uso de uma até 20 embalagens, as entidades vinculadas à cadeia agrícola da região estão unidas na realização de ações educativas, que vão desde a emissão da nota fiscal de compra do agrotóxico, receituários agronômicos, panfletos técnicos das diversas instituições até eventos teóricos e práticos de capacitação.
A entidades querem mudar o hábito do pequeno e médio produtor rural que ainda fazem uso da queima delas na propriedade ou as armazenam de forma irregular.
Participam do processo de educação ambiental Secretarias Estaduais da Agricultura, Meio Ambiente, Suderhsa, Emater, IAP, Ministério Público com suas Promotorias de Meio Ambiente, Inpev, prefeituras, sindicatos, universidades, cooperativas agropecuárias e as empresas de revenda. Zambaldi reforça que a tese de proteção do meio ambiente é uma ação conjunta para maiores conquistas, beneficiando inclusive a saúde pública da população urbana e da família rural.
No campo, a Emater atua direto com o produtor ensinando-o a tríplice lavagem. É o caso de João Paulo Wasciki, 27 anos, do Sítio Alvorada, de 14,5 hectares, localizado na Comunidade Mimoso, em Cambé, que adquiriu 20 litros de agrotóxicos para utilizar nos 5 hectares de soja que cultiva nesta safra.
Wasciki, que vêm fazendo exames há mais de 8 anos para monitorar o nível de contaminação de agrotóxico no seu sangue, só faz aplicação com total proteção e já está alertado pelo extensionista Bodnar que providencie a entrega das embalagens vazias, que guarda na propriedade, dentro do prazo de no máximo um ano.
Antes da pulverização da lavoura de soja, ele recebeu orientação prática da tríplice lavagem visando descontaminar as embalagens utilizadas, fazendo o esgotamento de todo o conteúdo até a última gota no tanque, para em seguida adicionar água limpa até ¼ da embalagem, fechando e chacoalhando forte durante 30 segundos e em seguida despejando a água da lavagem no tanque do pulverizador.
“Ele tem que repetir essa tarefa três vez e depois perfurar o fundo da embalagem sem danificar o rótulo”, recomenda Bodnar que finaliza registrando o esforço do governo estadual e prefeitura de Cambé na construção de 12 abastecedouros municipais, com recursos do Programa Paraná 12 Meses, tirando a ameaça de contaminação dos rios e riachos e assim concentrando o uso comunitário d´água nos tanques de pulverização. Ao todo são beneficiados 750 produtores de Cambé que cultivam 37 mil hectares de grãos”.
(Governo do Paraná, 23/01)