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2006-01-24
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançou em janeiro o livro Composição de Alimentos – Uma Abordagem Multidisciplinar. Organizado pela professora Elisabete Salay, engenheira de alimentos e uma das coordenadoras do projeto de elaboração da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO), desenvolvido pelo Nepa, com informações sobre os principais alimentos exclusivamente brasileiros, o livro foi escrito visando relacionar as informações dessa tabela às mais diversas áreas – como saúde, educação, biodiversidade e mudanças climáticas – e promover a discussão de seu impacto na sociedade em geral.

De acordo com Clovis Silva, da Unicamp, Miguel Minhoto, da UniABC, e Marcos Buckeridge, do Instituto de Botânica de São Paulo, colaboradores do livro, quando uma planta não encontra condições adequadas para sua sobrevivência, como temperatura, nutrientes no solo e umidade, ou sofre por adversidades como o efeito estufa, ela natural e gradativamente migra para regiões mais propícias. Como atualmente as mudanças climáticas provocadas pelo desenvolvimento são muito mais rápidas do que todas que já ocorreram no planeta, as estimativas são de que em apenas 50 anos poderão ocorrer alterações que normalmente levariam mil ou 10 mil anos.

Com a velocidade dessas transformações, dificilmente as espécies vegetais conseguirão se adaptar, resultando em extinções em massa, avaliam os pesquisadores. Eles afirmam que está acontecendo uma revolução silenciosa na biodiversidade, que vem sendo notada há poucos anos, causada pelo aumento desproporcional na concentração de gás carbônico na atmosfera, fenômeno que levou, inclusive, ao surgimento de um novo ramo da ciência denominado biologia das mudanças climáticas.

Além da preocupação com a preservação das plantas que geram alimentos, o livro destaca a divulgação para o grande público dos resultados de pesquisa sobre a composição dos alimentos e aplicação da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos nas áreas de saúde e educação. “Trata-se de alimentos de alto valor nutricional, que precisam ser preservados e podem ser adotados em políticas governamentais para o combate à fome e à desnutrição, visando a prevenção de doenças como obesidade, diabetes e câncer, cuja incidência cresce na sociedade brasileira”, aponta Salay, organizadora do livro.

Segundo a ela, a novidade da publicação é tratar o tema da composição de alimentos de uma maneira multidisciplinar: o livro aborda a relação entre a TACO e as ações do governo no Ministério da Saúde e no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome; faz referência à influência da tabela de composição de alimentos na educação escolar; analisa como as indústrias de alimentos vêm utilizando a TACO em suas estratégias de crescimento; e apresenta, ainda, estratégias de como veicular as informações para o público leigo.

Biodiversidade brasileira A lista de alimentos apresentada na publicação contém a composição química de 448 espécies que podem ser atribuídas como exclusivas da biodiversidade brasileira, das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste Sul e Sudeste, em seus respectivos biomas como caatinga, região amazônica, cerrado e Mata Atlântica. “Existe um grande potencial para colocação de frutos, folhas, raízes e sementes de plantas nativas em um contexto de sustentabilidade, influindo não somente na economia nacional, mas também na saúde da população”, dizem os pesquisadores.

“O valor nutricional de cada espécie de cerrado é inestimável e ainda pouquíssimo difundido entre a maioria dos brasileiros”, comentam. O fruto de jatobá-do-mato, por exemplo, rico em amido e fibras vegetais, apresenta 245 mg de cálcio contra 123 mg desse mineral encontrado na mesma quantidade de leite integral bovino. Por conta dessas propriedades, encontra-se em fase experimental, na Embrapa-Cerrado, a produção de barras energéticas de castanha de baru com fibras do fruto do jatobá.

Outro aspecto abordado na publicação foi a formação da cultura alimentar brasileira, influenciada por uma intensa troca de espécies com os colonizadores e, mais tarde, pelas devastações causadas pelo desenvolvimento industrial. “A colonização européia na América do Sul provocou um enorme embaralhamento em relação ao uso de plantas como alimentos, pois [os colonizadores] passaram a levar aquilo que encontravam de interesse para seus países de origem e também trouxeram um sem-número de espécies para a América do Sul”, afirmam.

“De um modo geral pode-se dizer que nossos hábitos alimentares atuais são bastante europeus, mas apresentam diversos aspectos que eles copiaram das populações sul-americanas”, continuam. “No século XX, houve o aperfeiçoamento do cultivo de diversas plantas da biodiversidade brasileira, como o cacau e a mandioca, os quais se consolidaram como espécies de uso mundial”, completam.
(ComCiência, 23/01)

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