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2006-01-24
A energia eólica será produzida em Osório mediante o emprego de um pacote tecnológico quase tão hermético quanto a tecnologia nuclear comprada em 1977 da Alemanha pelo Brasil. Mas desta vez o negócio não é direto e exclusivo com os alemães (da Enercon), pois envolve também os espanhóis (da Elecnor), que estão se qualificando no planejamento, montagem e gestão de empreendimentos energéticos alternativos.

Embora se saiba que os países compradores são geralmente obrigados a aceitar cláusulas férreas para ter acesso à tecnologia desejada, até agora não foi esclarecido se o Brasil não tinha melhor alternativa do que comprar dos espanhóis o pacote preparado pelos alemães. Também não está claro se com o tempo os brasileiros dominarão esse know how sem depender integralmente dos fornecedores originais, como acontece até agora.

Não há dúvida, porém, de que os alemães e espanhóis estão com a faca e o queijo na mão -- dispostos a explorar indefinidamente o potencial eólico brasileiro. “Osório é nossa nave capitana”, disse o espanhol Guillermo Planas Roca, diretor geral da Enerfin Enervento, subsidiária da Elecnor para a área eólica, à cúpula do Ministério de Minas e Energia em visita ao canteiro de obras no dia 20 de janeiro de 2006. Por sua declaração, torna-se claro que a Enerfin veio para ficar.

Dois blocos
O pacote eólico é constituído por dois grandes blocos. O primeiro é formado pelos equipamentos de geração, que contêm vários componentes mecânicos, elétricos, eletrônicos e aeronáuticos; os itens principais são as hélices de fibra de carbono e os geradores, ambos fabricados em Sorocaba pela Wobben do Brasil, subsidiária da Enercon, líder do mercado alemão de energia eólica. Segundo um diretor da Wobben, são importados da Alemanha apenas 15% do valor dos geradores, especialmente itens eletrônicos.

As três hélices de 35 metros de comprimento são feitas de fibra de carbono e pesam oito toneladas cada uma. São engastadas de tal forma no gerador que podem ajustar-se ao sentido dos ventos, como os flaps de um avião.

O gerador não tem engrenagens e pesa 80 toneladas. Orientado por sensores da direção do vento, pode dar até oito voltas de 360 graus para ambos os lados. Presa por 72 parafusos à sua base, a nacele do gerador pode suportar rajadas de até 180 quilômetros por hora.

O segundo bloco do pacote é representado pela tecnologia de engenharia civil de suporte das torres de concreto, construídas em Gravataí pela tradicional Construtora Ernesto Woebcke S/A com desenhos, formas e orientação da Alemanha. Cada torre de 98 metros de altura é formada por 24 anéis de concreto e mais um -- onde vai assentar-se o gerador -- feito de aço. No 15º anel, há uma abertura para refrigeração interna da torre, que pesa 810 toneladas. Dentro de cada anel há patamares acessíveis por escada interna, mas cada torre terá um elevador capaz de transportar duas pessoas, segundo o chefe da obra, engenheiro João Junqueira.

Segredo
Calcula-se que todo esse material terá vida útil de pelo menos 20 anos, mas poderá operar por muito mais tempo após uma parada para reparos gerais. O custo anual de manutenção de rotina dos geradores é calculado em 3% do seu valor. Este – o valor dos geradores – é um dos grandes segredos desse vôo inédito na história energética brasileira.

Em 2003, ao receber do governador Germano Rigotto a licença ambiental para a construção da usina de Osório, o diretor da Enerfin, Guillermo Planas Roca, disse à imprensa que o custo de implantação de 1 MW de energia eólica estava em torno de US$ 800 mil a US$ 1 milhão. Isso significa que cada cata-vento de Osório (potência: 2 MW) estaria custando, por baixo, US$ 1,6 milhões; e, por cima, US$ 2 milhões de dólares. Com 75 cata-ventos, o custo total do Parque Eólico de Osório ficaria entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões. No entanto, o projeto foi orçado em US$ 230 milhões; em moeda nacional, o valor mencionado pelos empreendedores é de R$ 670 milhões, o que correspondente a um câmbio de R$ 2,91 por dólar.

Segundo um fornecedor que acompanha o projeto desde sua concepção, a diferença no valor total correria por conta das obras civis e do custo de implantação das estradas de serviço (26 quilômetros) e da rede de transmissão (oito quilômetros). Mesmo sendo perdulário nesses investimentos periféricos – em Osório, pelo menos, não há indícios de que a Elecnor esteja jogando dinheiro fora –, pode-se concluir que o orçamento é bastante folgado. Parece não haver dúvida, portanto, de que o Brasil está pagando caro para explorar a energia dos ventos.
Por Geraldo Hasse, de Osório para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já e Jornal Já – www.jornalja.com.br

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