Agricultura, dívida, água potável e emigração, temas do FSM africano
2006-01-24
A edição do Fórum Social Mundial (FSM) que terminou segunda-feira (23/01) em Bamaco, capital de Mali, destacou as conseqüências de "extrema gravidade" da globalização neoliberal no continente africano, insistindo especialmente nos temas de emigração e do acesso à água. "A África não é o continente que naufraga, mas o órgão mais afetado de um mundo doente, saqueado por um punhado de superpotências", afirma um documento apresentado no encontro, do qual participam 20 mil pessoas vindas de todos os continentes.
Temas como a agricultura e a dívida preocuparam os participantes, que denunciam "a sistematização da concentração das terras dos camponeses tanto na África como na América Latina", de acordo com relatórios divulgados por emissoras regionais.
Também lamentaram a introdução na África dos organismos geneticamente modificados contra a vontade dos produtores, com o aval das potências industriais, como lembrou um participante do país anfitrião.
34 mil mortos/dia
"Começa em nosso país com o algodão. Amanhã serão os cereais.
Isso contribui para eliminar os produtores, já que serão obrigados a comprar sementes de uma empresa americana", comentou Mohammed Haidara, responsável pela ONG Afrique Verte Mali. O ativista francês José Bové criticou "as agressões contra as sociedades camponesas" e "a destruição das economias africanas", e convidou os líderes africanos a denunciarem a União Européia no tribunal da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Sobre a dívida, chamada de "inimigo íntimo da luta contra a pobreza", os ativistas atacaram as privatizações impostas pelas organizações financeiras que agravaram o endividamento dos países pobres. Os participantes do FSM de Bamaco também repudiaram "o tratamento desumano e vergonhoso dos habitantes dos países do sul" que a pobreza obriga a buscar saída nas nações européias.
A ex-primeira-dama francesa Danielle Mitterrand, uma das personalidades de renome que participaram do FSM de Bamaco, defendeu o acesso à água potável para 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Ela disse que 34 mil indivíduos morrem diariamente por falta de água potável. Os participantes do Fórum de Bamaco organizaram no domingo uma minimaratona pelas ruas da capital que simbolizou "a marcha dos povos rumo a outro mundo".
(EFE, 23/01/06)