Governo lança campanha internacional contra tráfico de animais
2006-01-23
Depois de constatar que o tráfico de animais pode movimentar até US$ 20 bilhões ao ano e usa, em alguns casos, rotas do tráfico de drogas, o governo decidiu mobilizar a comunidade internacional e lançou ontem uma campanha para combater a venda ilegal de animais silvestres. Serão enviados 100 mil folhetos, 50 mil cartazes e relatórios sobre o tráfico de animais a todas as embaixadas e postos do Itamaraty no exterior.
O material de campanha contém fotos de animais vendidos a peso de ouro no exterior. Cada arara azul, uma das espécies da fauna brasileira comercializada ilegalmente, chega a ser vendida em alguns países do primeiro mundo por US$ 60 mil. Segundo investigação de comissões parlamentares de inquérito abertas no Congresso sobre o assunto, o transporte desses animais passou a seguir a rota do tráfico de drogas por conta da vantagem na comercialização.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), os animais mais procurados pelos comerciantes da fauna brasileira são as aves - do total traficado, 80% a 90% são aves. Conforme relatório nacional sobre o tráfico de animais silvestres no Brasil, ao ano cerca de 38 milhões de animais são retirados ilegalmente das matas brasileiras.
De cada 10 animais, apenas um sobrevive, o que revela, na avaliação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a face triste desse comércio. Segundo o secretário de biodiversidade do MMA, João Paulo Capobianco, o governo decidiu lançar a campanha diante da dificuldade no combate ao comércio ilegal de animais. De acordo com ele, o País é signatário de convenções internacionais para acabar com esse tipo de tráfico, mas somente esses acordos não têm sido suficientes para combater a venda. "Precisamos conscientizar as pessoas no mundo inteiro que compram animais silvestres, que eles foram retirados ilegalmente do Brasil e que não podem ser comprados", afirmou Capobianco. Segundo ele, muitas pessoas de boa-fé adquirem animais em lojas no exterior e recebem documentos "forjados" garantindo a regularização da venda.
Além do MMA, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a ONG Rede Nacional de Animais Silvestres (Renctas) estão envolvidos na campanha. No lançamento da campanha, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Itamaraty está engajado na missão, porque é preciso mobilizar os países receptores das espécies da fauna brasileira. "Há uma demanda por esses animais e temos consciência disso", disse Amorim na solenidade realizada no Itamaraty.
Segundo Marina Silva, o comércio ilegal de animais representa uma grande ameaça à biodiversidade, porque várias espécies comercializadas estão ameaçadas de extinção. "A lógica é: as espécies mais caras são aquelas que estão ameaçadas de extinção", declarou a ministra.
O governo vai tentar sensibilizar a comunidade internacional com o argumento de que a venda ilegal de animais pode ser responsável pela disseminação em outros países de novas doenças, já que várias espécies comercializadas contaminadas podem estar infectadas. "Não se pode fiscalizar aquilo que transita na ilegalidade. Além disso, nenhum país tem barreiras sanitárias suficientemente eficazes para evitar a entrada de novas doenças", afirmou o representante da Renctas, Dener Giovanini.
Além do lançamento da campanha, o MMA já fez uma parceria com a Polícia Federal para o treinamento de cães farejadores a serem usados nos aeroportos para a recaptura dos animais. O governo também já tem dez centros de triagem para o tratamento de animais capturados pelo tráfico. Depois dos cuidados de veterinários, as espécies são libertadas.
(O Estado de S. Paulo, 22/01)