Usina de Barra Grande ficou pronta, mas briga está longe do fim
2006-01-23
A Hidrelétrica de Barra Grande começou a gerar energia em 1º de novembro, mas não houve festa em Pinhal da Serra, na margem gaúcha do Rio Pelotas, nem em Anita Garibaldi, na margem catarinense. A usina pode estar pronta, mas os conflitos que provocou estão longe de ter solução.
No início da obra, em 2001, a Baesa – Energética Barra Grande, já encontrou o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) mobilizado. Teve escritórios invadidos por agricultores que queriam indenizações. Em março de 2002 acamparam na entrada do canteiro de obras. A desocupação, pela Brigada Militar, deixou 22 feridos. A Baesa se comprometeu a pagar indenizações ou dar novas terras para 1.286 famílias. Em 2004, o inventário florestal da Baesa para a autorização do corte de árvores foi contestado. A Rede de ONGs da Mata Atlântica acusou o processo de concessão da usina de fraudulento.
De outubro a dezembro, agricultores e ambientalistas foram à Justiça, fizeram bloqueios e impediram o início da retirada da floresta. Um operário foi morto. No fim do ano, a empresa fez acordos com o Ministério Público, ambientalistas e agricultores, mas não solucionou o problema.
Coordenador do MAB, Marco Antônio Trierveiler diz que cerca de 200 famílias ainda não tiveram seus direitos reconhecidos. Kathia Vasconcelos Monteiro, do Núcleo Amigos da Terra Brasil, reclama da floresta que se perdeu e da demora na aquisição de terras para a unidade de conservação.
Diretor-superintendente da Baesa, Carlos Alberto Bezerra de Miranda considera injustas as críticas do MAB e dos ambientalistas.
Os agricultores defendem o MAB. “Graças às mobilizações conseguimos boas compensações”, diz Adelar Sobetil de Carvalho, que recebeu da Baesa um lote. Já Oreste Lemos Cavalheiro, de 73 anos, vive situação diferente. Ele e a mulher, Alaíde, ainda esperam o lote de terra prometido pela Baesa. “Me ofereceram 3 hectares, mas aqui eu tenho 10”, conta.
(O Estado de S. Paulo, 23/01)