Gasoduto russo explode na Geórgia que acusa Moscou de sabotagem
2006-01-23
O presidente da Geórgia, Mikhail Saakachvili, acusou no domingo (22/01) a
Rússia de estar por trás das duas explosões ocorridas no principal
gasoduto russo que alimenta a Geórgia e a Armênia, e que provocaram a
suspensão do abastecimento para as duas antigas repúblicas soviéticas.
"A explicação que recebemos da parte russa é absolutamente inadequada e
contraditória. A Geórgia foi vítima de um grave ato de sabotagem
cometido pela Federação da Rússia", declarou Saakachvili ao vivo na
televisão denunciando, sem maiores detalhes, a "chantagem" assim
exercida por Moscou.
"Ouvimos durante muito tempo ameaças proferidas por políticos russos de
que poderíamos ficar sem luz e sem gás, e agora isso aconteceu, no
momento em que a Geórgia conhece seu inverno mais frio", acrescentou o
presidente georgiano. As explosões ocorreram antes do amanhecer no gasoduto Mozdok-Tbilisi,
no Cáucaso russo, perto da fronteira com a Geórgia, anunciou o ministério
russo das Situações de Emergência.
"Estamos estudando várias pistas, inclusive a do terrorismo. Ainda é
cedo para se pronunciar", havia declarado Vladimir Ivanov, porta-voz
deste ministério em Vladikavkaz, no Cáucaso russo. Ivanov havia evocado
na manhã de domingo um "incidente" no gasoduto que teria provocado
uma queda repentina da pressão, justificando a decisão russa de
suspender totalmente o abastecimento. Investigadores do Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB) enviados ao local buscavam determinar se as duas explosões eram atentados, dado a
proximidade da Tchetchênia.
O porta-voz russo estabeleceu um prazo de vários dias para consertar o
gasoduto, devido às difíceis condições meteorológicas nas montanhas do
Cáucaso. Esse prazo pode perturbar a Armênia e a Geórgia, que dependem
muito do gás russo. As autoridades armênias e georgianas já alertaram suas populações neste
domingo sobre restrições de energia, num momento em que toda a região,
inclusive a Rússia, é atingida por um onda de frio intenso.
"A importação do gás foi totalmente interrompida. Há gás suficiente
para 24 horas. Discussões estão em curso para abastecimentos a partir do
Azerbaijão e do Irã, mas isso demorará vários dias", avisou o
vice-ministro georgiano da Energia, Aleko Khetagourov.
Na Armênia, a sociedade de distribuição de gás Armrosgazprom pediu que
a energia fosse economizada e procedeu a primeiras restrições no
abastecimento à população.
Esse incidente acontece num momento em que a Geórgia, e também a
Armênia, têm de lidar com as conseqüências da decisão russa de aumentar
de forma draconiana o preço do gás exportado a países da ex-União
Soviética propensos a sair da esfera de influência russa. A Rússia manteve recentemente um conflito com a Ucrânia sobre a questão do gás, que teve inclusive repercussões sobre a entrega de gás aos mercados europeus do gigante russo semi-público Gazprom. A Rússia
praticamente duplicou o preço do gás vendido à Geórgia, que alcança
agora 110 dólares os 1.000 m³.
As relações entre Tbilisi e Moscou se deterioraram muito desde a
chegada ao poder do pró-ocidental Mikhail Saakachvili, em janeiro de 2004.
O presidente armênio, Robert Kotcharian, se encontrou no domingo na
Rússia com Vladimir Putin para falar da forte alta dos preços do gás
imposta recentemente pela Rússia à Armênia.
(France Presse / Folha, 22/01/06)