Campanhas ecológicas de grandes multinacionais geram polêmica
2006-01-23
William Clay Ford Jr., presidente da Ford Motor, assegurou pela televisão que
sua empresa está "avançando drásticamente com seu compromisso" de produzir
automóveis mais saudáveis para o ambiente, como os híbridos a gasolina e
eletricidade. Além da Ford, a onda de mensagens "verdes" provém de empresas
como a General Electric e a BP, que manifestam sua vocação para um planeta
limpo. Contudo, grupos de defesa dos direitos dos cidadãos e alguns políticos
contestam as afirmações das empresas.
"Há algumas representações discutíveis", disse o promotor geral de
Connecticut, Richard Blumenthal, referindo-se à Ford. "Elas estão
definitivamente explorando a moda de veículos benignos para o meio ambiente",
disse. Blumenthal, um democrata, disse que está supervisionando o assunto. Se
a Ford e outras empresas não cumprirem com suas promessas de fazer produtos ecologicamente mais seguros pode haver base para processos por prática enganosa, disse.
A BP, maior empresa petrolífera da Europa, com sede em Londres, divulga seus
investimentos em energia solar e eólica e se apresenta com a etiqueta "Beyond
Petroleum" (além do petróleo). No entanto, a divisão solar da BP representou
0,14%, ou US$ 400 milhões, de suas vendas totais de US$ 295 bilhões em 2004.
Hugh Latimer, co-presidente da divisão de publicidade da Wiley Rein &
Fielding, um escritório de advocacia de Washington, disse ser inevitável que
a abundância de anúncios verdes gerem conflitos. "É uma área que receberá
exames cada vez mais minuciosos", disse Latimer, que representou empresas
como a Kraft Foods. As empresas se dividem entre a necessidade de responder à pressão pública para que sejam mais ambientalmente conscientes e o desejo de limitar seus custos.
O governo do presidente George W. Bush informou que custará à economia US$
400 bilhões para cumprir com o Protocolo de Kyoto, que exige que os países
desenvolvidos reduzam as emissões de dióxido de carbono e outros gases do
efeito estufa 7% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. Os EUA rejeitaram o
tratado.
O custo é o principal motivo porque os híbridos não são mais difundidos,
disse David Healey, analista da Burnham Securities, de Nova York. A Ford deve
desembolsar até US$ 4 mil a mais por veículo híbrido que por um automóvel
similar convencional, disse. Os híbridos combinam um motor a gasolina com um
elétrico que usa baterias e é recarregado com as freadas.
"A Ford, que produzirá 12 mil ou 15 mil Escapes este ano, perderá até a
camisa", disse Healey, referindo-se às vendas do híbrido utilitário esportivo
pequeno em 2005.
Os anúncios da General Electric, criados pela BBDO New York, da Omnicom Group,
promovem a "Ecomaginação", uma campanha para baixar as emissões e para
investir em usinas elétricas, locomotivas e artefatos mais limpos. A empresa,
maior fabricante mundial de turbinas elétricas, planeja baixar as emissões de
gases no inverno em mais de 60% nos próximos 50 anos para prevenir o
aquecimento excessivo, disse.
Os gases que produzem o efeito estufa prendem o calor na atmosfera inferior e
são um fator na formação de furacões poderosos e outros efeitos climáticos
severos. Apesar disso, em 2004 várias montadoras se uniram para bloquear uma
lei da Califórnia que limitava as emissões de gases vinculados ao aquecimento
global.
(Bloomberg News, 20/12)