Acordo entre presidentes viabiliza supergasoduto na América do Sul
2006-01-20
Os governos do Brasil, da Argentina e da Venezuela decidiram impulsionar o projeto de construção de um supergadosuto sul-americano para viabilizar a integração energética do subcontinente. Em reunião de quatro horas quinta-feira (19/01), na Granja do Torto, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner e Hugo Chávez determinaram o início dos estudos econômico-financeiros e do projeto de engenharia para concretizar as obras.
O supergasoduto ligará a Venezuela à Argentina, atravessando todo o território brasileiro, e permitirá a exportação de aproximadamente 100 milhões de metros cúbicos de gás natural venezuelano por dia. Trata-se de um volume mais de três vezes superior à capacidade de exportação de gás boliviano ao Brasil, de 30 milhões de metros cúbicos. É justamente por isso que o projeto é tido como essencial para a segurança energética da região, num momento em que aumenta o consumo da matéria-prima, tanto no Brasil quanto na Argentina, que chegou a enfrentar um racionamento recentemente. As reservas venezuelanas de gás são quase três vezes maiores do que as da Bolívia, que, por sua vez, correspondem a apenas 0,2% das reservas mundiais. Não passam de gota dágua em comparação com o potencial russo, por exemplo, mas são suficientes para dar tranqüilidade ao crescimento da demanda no Cone Sul.
" Acordamos que, no mês de julho, vamos apresentar um projeto que vai beneficiar toda a América do Sul " , afirmou Chávez. O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acrescentou que serão iniciadas consultas com o meio empresarial, com o objetivo de atrair a iniciativa privada para o projeto do supergasoduto. Ficou acertado que os presidentes darão continuidade à discussão em 10 de março, em Mendoza (Argentina), na véspera da posse da presidente eleita Michele Bachelet, no Chile.
Os três países decidiram também coordenar políticas para o desenvolvimento conjunto das indústrias naval, bélica e aeroespacial. " A Venezuela já tem feito encomendas ao Brasil e à Argentina na área naval, mas naturalmente tem o interesse de desenvolver os seus próprios estaleiros " , disse o chanceler brasileiro. Amorim comentou ainda que a tentativa americana de barrar a venda de aviões da Embraer à Força Aérea Venezuelana foi objeto de discussão entre Lula, Chávez e Kirchner. O próprio ministro revelou ter conversado sobre o assunto com a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice. " Estamos aguardando resposta. Ela me disse que ia dar uma nova olhada sobre o tema. Se não houver sinal positivo, haverá outras instâncias que se poderão utilizar " , relatou Amorim, sem detalhar quais seriam elas.
Chávez levantou novamente a possibilidade de criação de um " Banco do Sul " . Todas as iniciativas, até agora, de aproximação entre os mecanismos de financiamento já existentes - BNDES, CAF e Fonplata - geraram pouquíssimos resultados concretos.
Kirchner, que evitou a imprensa brasileira durante a visita ao país, deu entrevista a jornalistas argentinos e garantiu ter combinado com Lula a quitação da dívida de ambos os países com o FMI. Disse que o pagamento foi acertado com o presidente Lula, apesar da insistência do governo brasileiro em dizer que a atitude dos dois países não teria sido coordenada.
Segundo relatos da mídia argentina, Kirchner afirmou que os sócios maiores do Mercosul não colocarão obstáculos a eventual decisão do Uruguai de negociar um acordo bilateral de livre comércio diretamente com os EUA - medida incompatível com as regras do bloco, o que poderia levar à expulsão. " Se o Uruguai pode fazer um bom acordo com os EUA, não impediremos. Falei sobre isso com Lula e ele está de acordo " , disse Kirchner, segundo o jornal " La Nación ".(Valor Econômico, 20/01/06)