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2006-01-20
O agronegócio de soja, carro-chefe das exportações brasileiras, depende das decisões tomadas por apenas quatro grandes empresas multinacionais. Elas controlam o setor desde a venda da semente, passando pelo financiamento das máquinas e fertilizantes, até a definição do preço do grão, antes mesmo do plantio. Este é o tema debatido na reportagem de hoje no especial "Soja - um grande negócio", transmitido pela Rádio Nacional. O áudio de toda a série está disponível para uso público na página da Agência Brasil na internet.

Para o chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antonio Donizetti Beraldo, a "excessiva concentração" das multinacionais no setor de soja no Brasil afeta a rentabilidade da produção. Ele afirma que o produtor rural fica pressionado nas duas pontas, "tanto no momento da venda quanto no momento da compra", e garantiu que 84% das compras de soja no Brasil passam pelas "transnacionais".

O presidente da Associação Brasileira das Organizações não-Goveernamentais (Abong), Jorge Eduardo Durão, mostrou-se preocupado com o domínio dos estrangeiros em área "tão importante da nossa economia". Ele aconselhou que se apure, entre outras coisas, a razão de os maiores produtores de soja no estado do Mato Grosso serem empresas transnacionais.

De um modo geral, o negócio da soja no Brasil é dominado, nas diferentes fases do processo, por quatro tradings ou empresas multinacionais ou mesmo transnacionais, como são conhecidas. São as norte-americanas ADM e Cargill, a francesa Coimbra e a holandesa Bunge, esta há mais tempo no país, onde arrecada US$ 2,5 bilhões do total de US$ 8 bilhões que a soja movimenta no Brasil.

O secretário-geral da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, diverge dos que criticaram a concentração das multinacionais no setor de soja brasileira. Apesar de aceitar o fato, ele disse que as "gigantes da soja tornaram-se peça essencial para os produtores brasileiros".

Outro fato importante abordado na reportagem de hoje é o aumento dos custos e a baixa dos preços do grão no mercado internacional, tendência que vai se repetir neste ano, segundo o dirigente da CNA, Antonio Donizeti Beraldo. A questão também preocupa o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Speroto. Ele culpa a super-oferta momentânea de soja, no mundo, pela atual crise existente no setor.

Até a secretária da Coordenação da Amazônia no Ministério do Meio Ambiente, Muriel Saragoussi, lembra que, no ano passado, "foi aquela propaganda imensa de façam soja, façam soja". Após perguntar o que aconteceu passada a colheita, ela completa: "Nenhum deles vende agora a caminhonete que comprou um ano antes com o dinheiro da soja. Pelo contrário, está pedindo aos bancos - que financiaram sua produção - para adiar o pagamento de suas dívidas.

Dirigente da CNA diz que multinacionais mantêm patamar de rentabilidade baixo para o setor de soja
A compra de 80% da produção de soja brasileira por um pequeno grupo de tradings internacionais é uma das causas que afetam preços e rentabilidade do setor, que continuará tendo, neste ano, um "patamar de rentabilidade bastante baixo". A informação foi dada à Rádio Nacional, dentro da série "Soja - um grande negócio", pelo chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e Comércio Exterior da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antonio Donizeti Beraldo.

Segundo o dirigente, o produtor rural brasileiro se defronta hoje com a "excessiva concentração" tanto na hora da venda de sua produção quanto na compra de insumos agrícolas, quando o número de empresas também é pequeno. Donizeti lembrou que isto acontece em vários países,como Estados Unidos e Austrália, onde passou a ser uma "preocupação de governo" e estão sendo implementadas políticas públicas para evitar uma "excessiva concentração que afete demasiadamente a renda do produtor rural”.

No caso do Brasil, o chefe do departamento internacional da CNA afirmou que é preciso reforçar os "organismos de defesa da concorrência" já existentes mas que as entidades de classe também devem ficar atentas para a questão. Ele advertiu que elas devem denunciar aos "mecanismos competentes, que teriam que ser mais ágeis na avaliação e na imposição de penalidades" sempre que houver alguma "configuração de prática desleal de comércio, uma fixação de preços, cartel, etc".

Antonio Donizeti também cita outro agravante na diminuição do preço da soja, que é o aumento de oferta do produto no mercado mundial. Ela prevê que neste ano os Estados Unidos vão colher 84 milhões de toneladas de soja, seguidos pelo Brasil, com 58 milhões. Ele considera essas boas colheitas de soja como mais um "fator baixista dos preços" que, segundo ele, "minimamente cobrem os custos de produção". Ele lembrou que isso acontece mesmo com os produtores brasileiros de soja estando mais cautelosos, tanto que nesta safra reduziram a área plantada em 6%.

Quanto aos preços da soja no mercado internacional, que na safra passada cairam 30%, o dirigente da CNA lamenta que, neste ano, eles continuarão no mesmo patamar baixo. Ainda assim, ele acredita que a soja continua sendo o "carro-chefe das exportações brasileiras", rendendo US$ 9,5 bilhões ao ano, seguida pela carne, com US$8 bilhões. No caso da soja, Donizeti elogia a opção do produtor pela transgênica que, segundo ele,"reduz os custos em até 15%". A estimativa é que metade da próxima colheita seja somente de soja transgênica. O assunto é o tema do rádio-documentário que a Rádio Nacional transmite na sexta-feira (20).
(Radiobras, 19/01)

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