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2006-01-20
Neste minúsculo emirado, as maiores companhias de petróleo do mundo estão apostando bilhões de dólares em um método obscuro para produção de óleo diesel, derivado dos esforços agressivos da África do Sul da época do apertheid de reduzir a dependência de sua economia de petróleo importado.

Ônibus escolares amarelos transportam diariamente milhares de trabalhadores indianos e paquistaneses de campos próximos para o trabalho em um emaranhado gigantesco de dutos e turbinas, ostentando o logo de um órix, o mascote do Qatar. Ninguém está procurando petróleo aqui. Na verdade, a alta dos preços do petróleo reviveu uma tecnologia descartada que converte outro combustível fóssil, o gás natural, em um diesel de queima limpa.

Enquanto geólogos debatem fortemente se o esgotamento de campos de petróleo poderá saciar a intensa demanda por petróleo nas economias em ascensão da Ásia, as ações da indústria internacional de energia podem falar mais alto que palavras. As grandes companhias de petróleo estão apostando em fontes de energia não convencionais antes desprezadas, como este gás natural no Golfo Pérsico e depósitos remotos de betume no Canadá e Venezuela, para ajudar a atender a crescente demanda por combustível para transporte.

"É hora de tirar o gênio da garrafa", disse Abdullah Bin Hamad Al Attiyah, o ministro da Energia do Qatar, em uma entrevista. "Nós queremos ser a capital mundial desta nova era de combustíveis", disse ele. Estes tipos diferentes de combustíveis podem ter nomes desajeitados, como GTL e LNG. Mas também atraem grande dinheiro. Al Attiyah narrou uma série de empreendimentos com a Exxon Mobil, Royal Dutch/Shell, Chevron e Sasol da África do Sul para produção de uma nova forma de diesel a partir de gás natural e disse que esperam um investimento de um capital de mais de US$ 14 bilhões nos próximos cinco a sete anos.

Este novo diesel é bem mais limpo do que o diesel normalmente usado em carros de passageiros na Europa e caminhões pesados nos Estados Unidos. O diesel é normalmente feito a partir de partes carregadas de enxofre do óleo cru e remonta ao forte motor do século 19 inventado por Rudolf Diesel. A Exxon Mobil e a Qatar Petroleum estão trabalhando juntas em um empreendimento para produzir um diesel mais limpo a partir de gás natural que deverá exigir US$ 7 bilhões ao longo dos próximos anos. Ele será o maior investimento individual na história da Exxon Mobil.

O Qatar, um emirado em uma pequena península vizinha da Arábia Saudita, não está só naquela que pode ser a maior experiência multinacional envolvendo combustíveis alternativos. A Chevron está construindo outro complexo de US$ 3 bilhões na Nigéria para produção de 34 mil barris por dia. A Syntroleum, com sede em Tulsa, Oklahoma, está tentando promover empreendimentos semelhantes na Indonésia e em Papua-Nova Guiné, enquanto na Argélia, empresas incluindo Shell, Statoil da Noruega e Sasol da África do Sul estão concorrendo por um projeto voltado para o campo de gás de Tinhert do país. As empresas de energia também estão se voltando para países ricos em gás como Austrália, Irã, Egito e Trinidad e Tobago para outros projetos.

Até 2015, a produção geral deste combustível poderá chegar a mais de 1 milhão de barris por dia, segundo uma estimativa da Cambridge Energy Research Associates, uma firma de consultoria. Isto eqüivaleria aproximadamente à atual exportação diária de petróleo da Venezuela para os Estados Unidos.

O Qatar tem atraído o maior número de projetos graças às suas reservas abundantes de gás natural e uma estratégia agressiva de investimento que explora o antigo relacionamento com empresas americanas e européias de energia. Acredita-se que apenas a Rússia e o Irã possuem mais gás natural que o Qatar, uma nação de 800 mil habitantes -a maioria trabalhadores estrangeiros- que já está posicionada para se tornar em breve a maior exportadora mundial de gás natural liqüefeito.

Mas a indústria de gás natural liqüefeito no Qatar é muito diferente da aposta em tecnologia para converter gás em combustível líquido. O gás natural liqüefeito exige um sistema de transporte extremamente complexo, um sistema elaborado de instalações resfriadoras próximas dos depósitos de gás, tanques de casco duplo e instalações de reaquecimento nos mercados onde o combustível é consumido. O gás natural liqüefeito costuma ser usado para gerar eletricidade.

O método para GTL (Gas-To-Liquids, ou gás para líquido), por outro lado, fornece uma alternativa ao petróleo como combustível para transporte. O GTL basicamente transforma o gás natural em um diesel líquido que pode ser transportado e vendido usando os tanques, refinarias e postos de gasolina existentes.

O diesel é mais comum na Europa do que nos Estados Unidos, onde os consumidores ainda o consideram como sendo um combustível altamente poluente para caminhões pesados e máquinas. Dois cientistas alemães, Franz Fischer e Hans Tropsch, desenvolveram o processo nos anos 20 após descobrirem uma forma de converter carvão em combustível líquido.

Analistas de energia disseram que as usinas de GTL se tornam competitivas quando os preços do barril de petróleo sobem acima de US$ 30 a US$ 35, como é o caso nos últimos dois anos. Na terça-feira, os preços do óleo cru fecharam a US$ 66,31 na Bolsa de Mercadorias de Nova York, mais do que o dobro do preço de fechamento em 31 de dezembro de 2003.

E produtores de GTL argumentam que o combustível poderá ter um valor adicional para países à procura de alternativas para redução das emissões tóxicas do diesel. Um relatório da Comissão de Energia da Califórnia recomendou recentemente a mistura do diesel mais limpo com os estoques de combustível existentes para atender padrões rigorosos de combustível.

"Um aspecto chave do combustível é sua baixa formação de smog (um nevoeiro derivado da poluição)", disse Andrew Brown, um diretor da Shell no Qatar, que importou um sedã Audi movido a GTL para Doha para demonstrar como o combustível queima facilmente e sem o cheiro de outros tipos de diesel.

A transformação do GTL em um combustível amistoso ao meio ambiente é nova, mesmo que os métodos de produção já tenham passado por várias encarnações. Durante a Segunda Guerra Mundial, os líderes alemães desenvolveram métodos para converter carvão em combustível para seu exército. Décadas depois, os líderes do apertheid na África do Sul adaptaram os métodos para converter carvão em um combustível para transporte para sobreviver ao isolamento econômico.

Os Estados Unidos flertaram com o método após os choques do petróleo dos anos 70, mas no final retiraram grande parte dos recursos destinados à pesquisa de combustível sintético quando os preços do petróleo caíram. Então, avanços permitiram às empresas o uso de gás natural de queima mais limpa em vez de carvão para produção de um combustível que emite bem menos poluentes do que o diesel feito a partir do óleo cru.

Apesar dos métodos variarem, o processo essencialmente combina o gás natural com água e oxigênio, então expõe a mistura a cobalto para produzir um combustível líquido transparente. Este combustível representa atualmente uma parcela minúscula da produção global total de combustíveis, com a Shell operando a maior destas usinas em Bintulu, Malásia, uma instalação piloto com uma produção de cerca de 14.700 barris por dia. No geral, a produção global de petróleo, em comparação, é de mais de 80 milhões de barris por dia.

Uma pequena usina experimental também existe em Ponca City, Oklahoma, apesar de ser mais provável que a produção de GTL nos Estados Unidos derive do carvão, já que o gás natural do país é caro e de oferta escassa.

Ainda assim, a produção mundial de GTL deverá crescer rapidamente ao longo da próxima década. Ele se junta a fontes de combustível como o betume, que é extraído de vastos depósitos abertos no Canadá, e o etanol, que é amplamente consumido no Brasil rico em cana-de-açúcar, para aliviar a dependência do óleo cru para transporte.

Apesar do uso de petróleo em fábricas e usinas de força ter caído nas últimas duas décadas, os Estados Unidos ainda dependem de petróleo para mais de 95% de suas necessidades de transporte.

Os projetos do Qatar reúnem as ambições e riscos de transformar GTL em um combustível viável internacionalmente. As primeiras remessas de GTL para fora do país deverão ocorrer neste ano, com a abertura da Oryx GTL, um empreendimento da Chevron, Sasol e Qatar Petroleum com produção de 34 mil barris por dia.

A Shell também está formando um empreendimento com a Qatar Petroleum para produzir 140 mil barris por dia de GTL até 2009. O empreendimento maior da Exxon Mobil visa a produção de 154 mil barris. Wayne A. Harms, o diretor da Exxon Mobil para o Qatar, disse em uma entrevista em Doha que a empresa estava perfurando poços de avaliação para o projeto no Campo Norte, o maior campo de gás natural puro do mundo que o Qatar compartilha com o Irã, com planos de iniciar a produção até 2011.

"O Qatar está em uma posição única", disse Harms, "por dispor de um campo grande que é acessível, um governo politicamente estável e uma boa visão do que está fazendo". Mas a escala atordoante destes projetos representa desafios para o Qatar e para seus parceiros ocidentais. Os custos de construção, por exemplo, têm subido no último ano à medida que as empresas lutam para adquirir material de construção não apenas em Ras Laffan, mas também na capital, Doha, onde dezenas de arranha-céus estão sendo erguidos. O custo de um saco de cimento subiu mais de 20% desde o início de 2005, segundo o escritório em Doha da Davis Langdon, uma firma de consultoria de construção.

Os custos mais altos dos projetos, assim como a preocupação com a administração da extração do gás no Campo Norte, pesaram na abrupta decisão do Qatar no ano passado de adiar o início de outros empreendimentos de GTL com a ConocoPhillips e a Marathon Oil de Houston.

Ainda assim, projetos imensos estão sendo iniciados aqui por um motivo maior que todos. Mais do que qualquer outro país rico em gás, o Qatar tem buscado agressivamente novas formas de explorar seu gás natural. E o modelo do Qatar provavelmente será estudado em um mundo onde há mais gás natural do que petróleo, com as reservas globais de gás podendo durar mais 67 anos, em comparação aos 41 anos de oferta de óleo cru, segundo a BP, a gigante britânica de energia.

A localização das grandes reservas de gás, é claro, fica distante dos grandes mercados para o combustível nos países industrializados. Isto explica por que o investimento do Qatar, Nigéria e outros países pode sinalizar uma extensão do comércio internacional de energia que revelou a dependência de petróleo importado dos Estados Unidos, Europa e Leste da Ásia. Mesmo enquanto energia renovável captura a imaginação do público, os hidrocarbonetos, sejam encontrados no petróleo, gás natural ou betume, estão se tornando mais vitais no atendimento das necessidades globais de energia.

"É uma mudança simples do petróleo para o gás natural", disse Bernard J. Picchi, um analista de petróleo internacional e tecnologia de energia da Foresight Research Solutions, em Nova York. "Eu não estou particularmente preocupado com a capacidade de sobrevivência, e até mesmo de prosperidade, dos hidrocarbonetos durante este século."(The New York Times, 18/01/06)

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