Fazendeiro descobre gavião gigante no Mato Grosso do Sul
2006-01-19
Um casal de gavião-real, a maior águia das Américas e em fase de extinção,
foi localizada na Serra da Bodoquena, mais precisamente no município de
Bonito. A coordenadora de pesquisa em ecologia do Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia (Inpa), Tânia Sanaiotti, encontra-se na região fazendo o
monitoramento das aves.
O gavião-real é da espécie Harpia harpyja , e foi Faete Teixeira, proprietário
de uma área no Vale do Taquaral localizada a 23 quilômetros da cidade de
Bonito, quem primeiro avistou a ave que também é conhecido como uiraçu ou
harpia. Ele viu um casal da enorme ave – a fêmea tem dois metros de
envergadura e 10 quilos – pousando em um ninho – de dois metros de diâmetro,
semelhante a uma mesa –, e não sabia o que era. Encontrou uma pena gigante e
levou à sede do Parque Nacional da Serra da Bodoquena-Ibama/MS. Sem imaginar,
tinha descoberto o primeiro ninho da espécie em Mato Grosso do Sul.
Monitoramento – A especialista da ecologia desta espécie no Brasil,
Tânia Sanaiotti, chegou de Manaus (AM), segunda-feira, para dar início ao
monitoramento do casal de gaviões. Acompanhando sua expedição veio o
fotógrafo João Marcos Rosa, de Belo Horizonte (MG), que está documentando a
espécie pela América do Sul.
De acordo com informações da pesquisadora, apenas três ninhos eram conhecidos
no Centro-Oeste, todos em Mato Grosso. O ninho descoberto está próximo ao
Parque Nacional da Serra da Bodoquena, e de grande importância para a
conservação da espécie no Brasil, pois é o registro mais ao Sul do País.
Sofrendo com a caça e o desmatamento, a espécie tem o hábito de retornar a
mesma árvore para fazer seu ninho.
Na segunda-feira (16/01), após o primeiro dia da expedição ao Vale do Taquaral, a
pesquisadora confirmou que a fêmea está chocando, o que dura em torno de 56
dias. A previsão é de o filhote nascer no final de fevereiro. "Através de
financiamento da Fundação O Boticário, o filhote receberá um transmissor via
satélite. Com este tipo de tecnologia, será possível descobrir por onde o
filhote vai, em quais propriedades na vizinhança e também quantos quilômetros
estão caçando nas matas do Parque Nacional da Serra da Bodoquena", disse
Tânia em contato telefônico com o Correio do Estado. Ele explicou que um
programa de educação ambiental no município e propriedades do entorno do
ninho, é peça-chave na preservação da espécie.
O ecólogo Alexandre Pereira, analista ambiental do Parque Nacional da Serra
da Bodoquena, vem acompanhando desde o início de 2005 as atividades no ninho,
inclusive avistou um dos gaviões carregando um macaco-prego. Ele mesmo já
avistou uma das aves, no sul do Parque, alimentando-se de um quati. Alexandre
ressaltou a importância do Parque Nacional de 76.481 hectares, localizado na
região sudoeste do Estado que dista 300km de Campo Grande, para a manutenção
de uma população viável desta e de outras espécies. (Correio do Estado, 18/01)