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2006-01-19
A situação das águas do sistema estuarino Santos - São Vicente, e do sedimento presente lá no fundo, é motivo constante de preocupação. A região, atualmente com 1,2 milhão de pessoas aproximadamente, tem históricos terríveis de contaminação também do ar e do solo, por causa da alta concentração de indústrias, principalmente no Pólo de Cubatão. E ainda da presença de um dos maiores portos da América Latina.

Pesquisadores do Laboratório de Oceanografia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – mas com grande ligação com a Baixada Santista – e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) acabam de divulgar um estudo que serve de alerta para os responsáveis pelo monitoramento ambiental do litoral paulista.

Análises metodológicas refinadas, feitas em 31 amostras de sedimentos, mostraram que a concentração de mercúrio na região pode ser preocupante. Em 90% dos pontos de coletas, segundo os resultados apresentados pela edição atual do Journal of the Brazilian Chemical Society, os índices estão acima dos considerados ideais pela Cetesb, agência de controle ambiental paulista. O valor dado como aceitável pelas normas internacionais, também seguidas em São Paulo, é de 0,13 micrograma por grama de material coletado.

“Esse estudo foi baseado em dados coletados em 1996. Portanto, eles refletem as condições ambientais daquela época. Há dez anos os teores eram realmente preocupantes”, explica Jarbas Bonetti, cientista paulista hoje radicado em Florianópolis. Apesar de existir a hipótese de que a situação esteja melhor agora, por causa do controle de efluentes feitos na região, isso ainda é uma mera conjectura. “Somente novas análises poderão determinar se e como o substrato estuarino está se recuperando”, disse.

O fato de existir mercúrio em grande quantidade no sedimento, explica o pesquisador da UFSC, é diferente de ele estar disponível para a comunidade aquática de seres vivos que vivem no fundo da coluna d´água. “Mas os processos de dragagem, por exemplo, podem suspender novamente os compostos metálicos associados aos sedimentos de fundo e torná-los disponíveis para os demais níveis da cadeia alimentar”, explica Bonetti. “Por isso é sempre importante monitorar a qualidade do sedimento em áreas portuárias como a de Santos.” O mercúrio, ao ser ingerido, por um peixe, por exemplo, pode facilmente chegar aos seres humanos.

Em termos geográficos, o estudo feito na Baixada Santista não deixa dúvidas. “As áreas mais interiorizadas apresentaram os maiores níveis de concentração de mercúrio”, explica Bonetti. Os trechos de manguezais – onde os sedimentos são naturalmente aprisionados – e as áreas de maior circulação entre o porto e o parque industrial podem ser considerados os mais críticos. “Também merecem destaque os níveis elevados encontrados nas proximidades do largo de Pompeba, em São Vicente, onde a circulação estuarina é bastante restrita”, disse.

Para ler o artigo Evaluation of mercury contamination in sediments from Santos - São Vicente Estuarine System, São Paulo State, Brazil, disponível na biblioteca eletrônica SciELO, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-50532005000700009&lng=pt&nrm=iso&tlng=en
(Por Eduardo Geraque - Agência FAPESP)

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