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2006-01-19
A China, cujo consumo de energia cresce ao ritmo de sua acelerada economia, se comprometeu a duplicar sua geração em fontes alternativas até 2020. A mensagem, incluída no último plano qüinqüenal do governo comunista, foi divulgada como rastilho de pólvora depois de diversas reuniões em altas esferas do governo realizadas nos últimos meses sobre desenvolvimento sustentável e mudança climática. Em novembro (2005), ao inaugurar em Pequim uma conferência internacional sobre fontes renováveis, o presidente Hu Jintao provocou uma onda de aplausos ao declarar que a China via “como um dever o fortalecimento e a utilização” destas modalidades de energia.

Com os preços internacionais do petróleo nas nuvens, uma demanda de eletricidade freqüentemente insatisfeita e uma contaminação excessiva, as perspectivas para produção de energia de fontes renováveis nunca pareceram melhores na China. O governo está ansioso para promover fontes energéticas alternativas com baixa contaminação não apenas como uma solução, mas também para melhorar sua imagem com protagonista responsável da comunidade internacional. Mas embora a opção ambientalista goze hoje do apoio consensual das autoridades chinesas, a importância que será dada à produção solar, eólica e geotérmica no conjunto da política energética também dependerá da vontade do governo.

“Se a China quer implantar novas tecnologias energéticas, pode fazê-lo rapidamente. Já vimos isso acontecer com a indústria das telecomunicações e em outros setores”, disse James Brock, especialista em energia e consultor independente residente em Pequim. Porém, o compromisso da administração chinesa se choca com um crescimento da demanda energética infinitamente maior do que a velocidade de desenvolvimento das fontes alternativas. O fabuloso crescimento econômico disparou o consumo de energia no país. Se a China pretende manter o ritmo de crescimento sem sofrer uma crise de energia, deverá duplicar até 2020 sua produção atual, em torno dos mil gigawatts. O setor da energia alternativa passa por um processo de expansão, mas ainda carece de peso dentro do total. No ano passado, a indústria eólica foi de apenas um gigawatt.

Apesar da recente ênfase no uso de fontes limpas de energia, originado pelo custo ambiental dos combustíveis fósseis e pelos riscos de segurança, a importação de petróleo e carvão, muito barata, mas também muito suja, representa 70% do consumo do setor. A meta do governo é duplicar a participação do uso de fontes renováveis de energia dos atuais 7% do total para 15% até 2020. Em termos percentuais, disse Brock, não é algo que importe muito hoje nem terá muita importância dentro de 10 anos. Os altos custos são um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de fontes de energia alternativas no país.

A China, por exemplo, ainda não pode manufaturar sistemas com turbinas geradoras de energia eólica de grande escala e alta tecnologia e deve importar a maior parte da tecnologia necessária. Como conseqüência, esta energia é 50% mais cara do que a gerada a partir do carvão. O governo decidiu investir US$ 185 bilhões de dólares na reconversão energética para 2020. Mas os defensores da energia alternativa advertem que é preciso maior apoio financeiro. No começo do ano, entrou em vigor a primeira Lei de Energia Renovável da China, cuja aprovação demorou dois anos. Esta lei obriga o governo a detalhar quais setores estão obrigados a utilizar estas modalidades de produção de energia.

A Comissão para a Reforma Nacional e o Desenvolvimento, máximo organismo de planejamento econômico do governo, anunciou que as companhias fornecedoras de energia elétrica com capacidade de geração superior a cinco gigawatts devem produzir a partir de fontes renováveis pelo menos 5% de sua produção. A China Huaneng Group, maior produtora de energia do país, com capacidade de 34 gigawatts no final de 2004, hoje produz apenas 140 megawatts com turbinas eólicas. Atualmente, não existem incentivos para a utilização de energia de fontes limpas, já que os consumidores não pagam o custo da contaminação por seu uso. Os defensores mais ativos das fontes renováveis acreditam que a China já chegou ao limite no que diz respeito ao uso de combustíveis fósseis e que o governo sabe disso.

“A China deve ir na direção da energia sustentável. Não pode seguir o modelo dos Estados Unidos”, disse Li Junfeng, secretário-geral da Associação de Indústrias de Energia Renováveis da China, à revista China International Business. Entre os especialistas há consenso de que a China deve seguir o modelo da França. A experiência francesa de perseverar no desenvolvimento de energia atômica, fixando padrões ambientais bastante exigentes para as indústrias automobilísticas e da construção e promovendo um uso eficiente de energia “são coisas valiosas que a China deve estudar com muito cuidado”, disse Guan Qinyou, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “É possível que o exemplo francês responda às suas próprias prioridades, mas permitiu a esse país manter um nível de consumo de energia que apenas chega a 60% ou 70% do registrado nos Estados Unidos”, disse Guan.
(Por Antoaneta Bezlova, de Pequim para IPS/Envolverde)

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