Greenpeace diz que agricultura para biodiesel só é viável se intensiva
2006-01-19
No momento em que a França se apressa em se transformar na maior fabricante de biocombustíveis da Europa até 2010, o lobby dos verdes do país já expressou no domingo (15/01) que os danos causados pela intensiva atividade agrícola para produzilos poderá suplantar os benefícios obtidos pela geração de energia limpa.
O governo francês diz que os combustíveis alternativos reduzem as emissões de gases nocivos responsáveis pelo efeito estufa, mas ambientalistas afirmam que não se leva em consideração a forma como eles são produzidos.
"Se quisermos cultivar lavouras para produzir biocombustíveis, isso só poderá ser viável do ponto de vista financeiro se for feito de forma intensiva", declarou o porta-voz do Greenpeace France, Arnaud Apoketer. "Isso equivale a usar muitos insumos como fertilizantes, ou pesticidas, alguns dos quais têm o grande inconveniente de serem derivados do petróleo", acrescentou.
A França tem como meta aumentar a adição de 7% do biodiesel aos combustíveis, até 2010. Apoketer disse que a França é a segunda maior usuária mundial de pesticidas depois dos Estados Unidos. "E os franceses usam intensivamente mais pesticidas por hectare do que os Estados Unidos".
Estudo realizado pelo Instituto do Meio Ambiente da França (Ifen) e publicado no mês passado mostra que o biodiesel usado em substituição ao diesel permite a redução de 75% das emissões de gases do efeito estufa durante todo o ciclo de vida do combustível, que vai da produção à combustão. "O uso do etanol no lugar do gás normal permite a redução de 60% [das emissões de gases do efeito estufa], informou o Ifen.
O estudo demonstra ainda que o uso de biocombustíveis em 2006 deverá evitar a emissão de 1,5 milhão de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (CO2), e a meta para 2008 é uma maior redução da ordem de sete milhões por toneladas. Apoketer questionou, porém, se o trabalho do Ifen havia levado em consideração todos os insumos usados na produção de bens agrícolas. Para o porta-voz do Greenpeace, a produção de biodiesel poderá levar mais produtos agrícolas transgênicos à França. "O setor de biotecnologia poderá obter vantagem da situação para vender mais transgênicos na França", afirmou.
Apoketer acrescentou que a solução para as necessidades de energia da França poderá não se encontrar em uma única fonte. "A produção de energia terá de ser a mais descentralizada possível", declarou. (Reuters, 16/01)