Calorão destes dias tem motivo: anticiclone
2006-01-19
Um ciclone diferente, que impede a formação da nebulosidade e deixa o céu azul, é a causa de tanto calor. Chamada de anticiclone, a massa de ar quente e seca que atua sobre o sudeste do País faz com que os raios de sol cheguem com facilidade diretamente à terra. Oresultado são as temperaturas altas. Sem camadas de nuvens, os raios ultravioleta atingem níveis máximos, entre 13 e 14.
"O índice está elevado, sim, mas nada que não seja típico do verão", explica a pesquisadora do Centro de Previsão do Tempo (Cptec) do Inpe, Viviane Algarve. O índice ultravioleta é uma medida de intensidade da radiação solar, que pode provocar doenças de pele.
Ontem, em São Paulo, segundo informações do Cptec, a temperatura máxima chegou a 33 graus e o índice UV chegou a 13, número considerado extremo. De acordo com a classificação, o valor máximo de radiação é de 11 a 14. De 8 a 10, a radiação pode ser considerada muito alta. Entre 6 e 7 é alto e abaixo de 5, moderado. "Mesmo em dias com bastante nebulosidade, a proteção é essencial", diz a especialista. Segundo ela, as nuvens atenuam a radiação, como se fossem um filtro. "Mas elas estão sendo afastadas pelo anticiclone e, com isso, o céu fica mais claro e a radiação maior."
O calor de ontem foi tanto que até no mar os turistas reclamavam. "Está difícil agüentar este sol intenso", disse a estudante Paula de Kássia Lima, de 20 anos. "Tem de se proteger muito para não doer a pele depois." Há cinco dias em Maresias, no litoral norte, ela diz que se sente como se estivesse em Goiânia, cidade onde mora. "A gente se esconde dentro da água, sob o sombreiro, toma chá gelado, mas não tem jeito. O calor é demais."
Ontem à tarde, a máxima em Maresias chegou a 35 graus e o índice UV ficou em 13. Em São Paulo, o menor índice de umidade relativa foi registrado no bairro do Jacança, zona norte da cidade, com 16%. O Jaçanã também cravou a maior temperatura do dia em São Paulo, 34,9 graus.
ÁGUA MINERAL
Para tentar evitar casos de insolação, equipes do Hospital Regional do Vale do Paraíba fazem, a partir de sábado, um plantão nas Praias Grande, Toninha, Tenório e Perequê-Açu, em Ubatuba, no litoral norte. Os monitores vão distribuir copos de água mineral e conversar com os turistas sobre a necessidade da proteção contra os raios solares. A ação será realizada todos os fins de semana até o dia 17 de fevereiro.
Embora a grande massa de ar quente predomine sobre o Estado, hoje a umidade deve aumentar. Na capital e no litoral, ocorrem pancadas isoladas só no fim do dia, melhorando a qualidade do ar.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) registrou má qualidade do ar na Mooca por alta concentração de ozônio. O ar esteve inadequado pelo mesmo poluente, em Santana, na Freguesia do Ó e em São Caetano. Apenas as regiões de Cerqueira César e Congonhas apresentaram boa classificação. As demais estações medidoras da Cetesb na região metropolitana apresentaram qualidade regular.
O calor está batendo recordes também no interior de São Paulo, onde a temperatura passa dos 40 graus, como na segunda-feira em Presidente Prudente. Lá, um termômetro próximo do Prudenshopping registrou 41 graus às 13 horas no dia mais quente do ano na cidade. Ontem, a temperatura diminuiu: 38 graus.
Em Araçatuba, também chegou a 38 graus por volta do meio dia. Na Praia Municipal, no Rio Tietê, os quiosques foram quase todos ocupados pelos banhistas nos dois últimos dias. Em São José do Rio Preto, a temperatura chegou aos 36 graus às margens da Represa Municipal, por volta do meio-dia. Em Bauru, com 35 graus às 16 horas, garotos faziam da fonte da Praça da Paz uma piscina.
Após uma semana de calor, a entrada de uma massa de ar frio no Rio Grande do Sul provocou temporais e reduziu as temperaturas. Em Porto Alegre, a máxima, de 37 graus na segunda-feira, chegou ontem a 22, conforme o 8º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Houve temporais em várias cidades. Em Santana da Boa Vista, um vendaval de 15 minutos na segunda-feira destelhou 20 casas e derrubou árvores.
(O Estado de S. Paulo, 18/01)