Italianos pretendem montar módulos para produzir biodiesel no MT
2006-01-18
A necessidade de suprir de biodiesel e carne bovina a Província de Turim, no
norte da Itália, motivou uma delegação de empresários, técnicos e produtores
rurais a estreitarem a troca de informações com pares idênticos
mato-grossenses, em reunião nesta terça-feira (17/01), na sede da Secretaria
de Desenvolvimento Rural (Seder).
O grupo, que se reuniu na segunda-feira (16.01) com o governador Blairo Maggi,
apresentou uma proposta de montar módulos para produção de biodiesel em Mato
Grosso a fim de produzir o biocombustível a partir de óleo vegetal (como de
soja e girassol) ou animal. O projeto tem investimento inicial de R$ 1,3
milhão ou 500 mil euros.
A Itália, a exemplo dos demais países europeus, necessita do combustível para
utilizar como mistura à base de 5% no diesel para meios de transporte, o que
implicaria em 45 milhões de toneladas ao ano. No Brasil, legislação sobre o
assunto definiu percentural de 2%, o que demanda anualmente 800 milhões do
combustível internamente, segundo dados de dirigentes do segmento.
O grupo de italianos estuda a potencialidade para o setor em Mato Grosso há
algumas semanas, liderado pelo empresário e presidente da Câmara
Italo-Brasileira de Comércio, Mario Buri, que tem propriedade em Barra do
Garças. A delegação está acompanhada dos prefeitos de Barra do Garças, Zózimo
Chaparral, e de Água Boa, Maurício Tonhá.
As alternativas para o abastecimento da Itálila pelos produtos, citou Buri,
seria investimento em novo negócio, numa associação comercial com produtores
brasileiros na forma de joint-venture, ou investimento direto na produção do
biodiesel. "Há interesse da Itália em fazer essa ponte com Mato Grosso. Vamos
ver a condição cultural e produtiva e depois temos interesse em investir".
A idéia inclui ainda uma parceria entre as instituições de ensino para
formação profissional. Buri e o professor da Universidade Politécnica delle
Marche/Ancona e presidente do Comitê Termo-Técnico Italiano, Giovanni Riva,
sinalizaram ações nessa direção. Os recursos de investimento, neste caso,
seriam 100% da Itália.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Rural, Clóves Vettorato, o próximo
passo é a "equação de custos" para efetivar esse novo viés da economia de
Mato Grosso. "Estamos nos preparativos para avançar nas negociações para
estabelecer parcerias de imediato no intercâmbio do biodiesel, da carne e até
do turismo e cultura futuramente", disse Vettorato. "Há complementariedade
grande nos produtos e insumos para a economia entre o Brasil e a Itália.
Temos aqui equipamentos italianos na área de máquinas agrícolas", disse o
secretário.
Como a delegação italiana pediu informações sobre biocombustível, o
presidente da Ecomat e da Barrálcool, João Nicolau Petroni, participou da
reunião e tirou dúvidas sobre produção, expansão e alternativas para
incrementar a atividade.
Ele disse, por exemplo, que uma nova fábrica de biodiesel da empresa em
Cuiabá, com capacidade de produzir 57 milhões de litros por ano, está em
instalação para atender ao mercado interno e exportação justamente para a
União Européia, com sinergia de insumo para produzir.
"Vamos produzir biodiesel o ano todo, com vapor e energia gerada a partir do
bagaço de cana. A fábrica usa todo tipo de óleo, animal ou vegetal. Por
enquanto, produzimos a partir do óleo de soja, depois vamos utilizar
girassol", contou. Em sua planta no Distrito Industrial de Cuiabá, a empresa
produz 8 milhões de litros de biodiesel anualmente. Na Europa, o custo de
processamento de uma tonelada de biodiesel chega a 120 euros (R$ 324,00).
Aqui, o custo da produção cairia pela metade.
PECUÁRIA – Uma das próximas etapas do intercâmbio comercial é a visita
a Mato Grosso, em março, de um dos diretores do Grupo Cremonini, quando
haverá, na questão da pecuária, apresentação formal de propostas de negócios
bilaterais e maior troca de informações. O grupo empresarial é o responsável
por abastecimento de 40% da carne na Itália e é o quarto maior grupo do setor
na União Européia.
Presente à reunião, os presidentes da Federação da Agricultura e Pecuária de
Mato Grosso (Famato), Homero Pereira, e das Indústrias (Fiemt), Nereu Pasini,
relataram à delegação italiana que as organizações vão apoiar a iniciativa
com logística, dados e informações necessárias.
Da mesma forma se expressou o presidente da Associação dos Criadores de Mato
Grosso (Acrimat), Jorge Pires de Miranda. Os próximos passos nas negociações
de investimento, de estratégias comerciais e aproximação do Brasil com a
Itália em Mato Grosso serão coordenados por Mario Buri e o secretário
Vettorato.
PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL – O secretário Vettoraro apresentou à comitiva de
dez italianos um relato sucinto sobre a localização geográfica de Mato Grosso
como vantagem competitiva no mercado internacional, sua importância quanto a
biomas, o fato de ser o maior produtor nacional de soja e algodão e ter o
maior rebanho do Brasil, com 26,4 milhões de cabeças de bovinos.
"Estamos com grande preocupação em produzir com proteção ambiental. Queremos
que no futuro os compradores dos produtos não tenham o que reclamar da
produção com proteção ao meio ambiente", ressaltou ao explicar que a área de
Mato Grosso é cinco vezes maior que a da Itália e somente 2% dela é utilizada
para atividade agrícola, ou cerca de 100 mil quilômetros quadrados.
Além dos dirigentes e empresários brasileiros, participaram da reunião os
secretários Adjunto da Seder, Rodrigues Palma; Adjunto de Indústria, Comércio,
Minas e Energia, José Epaminondas Mattos Conceição; e o secretário de Cultura,
João Vicente Ferreira.
Do lado italiano, marcaram presença o adido das Relações Internacionais do
Ministério das Políticas Agrícolas e Florestais da Itália, Aldo Di Biagio; o
consutor do reitor da Faculdade de Turim, Aldo Cavagliato; o presidente da
Câmara de Comércio de Camp Basso, Di Laura Fratura; os diretores da
Associação de Criadores da Raça Piemontesa, Fulvio Sala e Giampiero Amélio; e
os empresários do setor de biodiesel, Luigi Gallopa, Tonino Tonti e Bruno
Petrini. (Governo do Mato Grosso, 17/01)