Malária já ameaça virar epidemia entre ianomâmis
2006-01-18
A malária volta a ameaçar os ianomâmis. Depois de atravessar três anos de queda sucessiva no número de casos, a doença ganha novamente contornos de epidemia. Em 2005, foram 1.400 registros, quase mil a mais do que os 418 contabilizados em 2003. O número também é mais do que o dobro do que havia sido registrado em 2004, quando 622 índios foram infectados. Com esses dados, os ianomâmis comprovam com o próprio sofrimento as advertências que há tempos vêm fazendo: eles dizem amargar sucessiva falta de medicamentos e inconstância nos serviços de assistência à saúde.
Especialistas afirmam que problemas de várias nações indígenas se agravaram nos últimos dois anos, principalmente depois de uma mudança na forma de atuação da Fundação Nacional de Saúde. Em várias regiões, há queixas de falta de estrutura para promover a saúde desses povos.
Entre os ianomâmis, as perspectivas são muito sombrias. Além da malária, também o numero de casos de tuberculose pode crescer, alerta o médico Cláudio Esteves, integrante da organização não-governamental CCPY. Até meados de 2004, ele esteve à frente do trabalho de promoção e assistência à saúde para um grupo de 7.500 índios ianomâmis. Por discordar das mudanças na forma de dar assistência, sua ONG acabou deixando o convênio firmado com a Fundação Nacional de Saúde para a área.
Além dos riscos da doença em si, a malária traz uma série de outros reflexos: “A doença é o primeiro passo para a escassez de alimentos (debilitados, os índios deixam de trabalhar a terra e, como não fazem estoques, ficam sem comida) e, em conseqüência, para a desnutrição”, afirma o médico. Ele não descarta que, com a crise, aumente também o número de casos de tuberculose e outras doenças respiratórias.
Em novembro, representantes de povos ianomâmis redigiram uma carta ao ministro da Saúde, Saraiva Felipe, relatando os desafios a que vinham sendo submetidos. O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde, José Maria de França, admitiu que faltam medicamentos em várias regiões do País. E atribuiu o problema à falta de recursos no orçamento e, também, a falhas na forma de controle e reposição do estoque.
(O Estado de S. Paulo, 17/01)