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2006-01-18
A onda de calor que se abateu sobre o sul do país, em especial no território gaúcho, foi amenizada anteontem com a chuva que caiu sobre pelo menos 240 municípios do estado – alguns deles ficando em condições problemáticas após o temporal.

Muita gente associou o fenômeno às mudanças climáticas atribuídas ao efeito estufa, mas as estatísticas mostram que, apesar dos números registrados, não é a primeira vez que a região se vê assolada por temperaturas superiores aos 40 graus.

O calor no Rio Grande do Sul bateu recorde em duração. Por mais de uma semana, a população chegou ao ponto de acabar com os estoques de aparelhos de ar refrigerado e de ventiladores nas lojas. Em Porto Alegre, a temperatura chegou a 41,1 graus. Foi a mais alta registrada nos últimos 62 anos, mas perde para os 42,6 graus registrados na cidade de Jaguarão, em 1943, mesma temperatura verificada em 19 de janeiro de 1917, em Alegrete, na fronteira oeste do estado.

Santa Catarina enfrenta também altas temperaturas. Itapiranga, na região oeste, atingiu 39,8°C, no dia 9. Curitiba, no Paraná, foi outra cidade que precisou se adaptar ao calor da última semana. Nessa segunda-feira, dia 16, foi registrada a maior temperatura desde 1970: os termômetros marcaram 34,8ºC.

Mas, embora muitos tenham feito essa associação, o fenômeno não pode ser considerado uma conseqüência do aquecimento global, de acordo com o pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC -, José Antônio Marengo. “Existe um aquecimento, as temperaturas médias estão mais altas”, admite, garantindo, porém, que é muito cedo para afirmar que isto esteja relacionado às mudanças climáticas causadas pelo efeito estufa. Neste caso, as temperaturas se manteriam elevadas e as ondas de calor seriam mais extensas e freqüentes.

Marengo é um dos representantes do Brasil no Painel Internacional de Mudanças Climáticas das Nações Unidas - IPCC – e afirma que provavelmente somente entre a década de 2040 a 2050 os impactos devem começar a ser sentidos. Ele diz que a temperatura pode subir de 1,5º a 5,8º, dependendo do cenário do planeta. A estimativa otimista leva em consideração uma menor poluição e uma efetividade do Protocolo de Kyoto. Marengo esclarece que a estimativa é feita com base em modelos, por isso os dados podem variar.

A temporada do verão 2005/2006 é semelhante a de 2001/2002, conforme o pesquisador, mas ele impõe limites à comparação pois, naquela época, o país presenciou o apagão, devido ao esvaziamento dos reservatórios, fenômeno que não deve se repetir este ano.

De acordo com Marengo, o calor intenso se deve à falta de chuvas. As frentes frias se deslocam pela Argentina, chegam ao Uruguai e sul do Rio Grande do Sul, mas afastam-se para o oceano. Agora, já com o índice pluviométrico em ascensão, deve haver queda na temperatura.

Preços também em alta - As elevadas temperaturas fazem o consumidor suar também para acompanhar a alta dos preços. A variação climática pode diminuir a oferta de alguns produtos, como frutas e hortaliças, resultando em maior desembolso para manter a mesa bem sortida. “É um efeito sempre visto na mesma época, atribuído ao calor e à chuva”, explica o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor - IPC - da Fundação Getúlio Vargas, André Braz. Os preços mantêm uma média elevada nos meses de janeiro, nos últimos vinte anos, de acordo com o economista.
(AmbienteBrasil, 17/01)

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