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2006-01-18
A reunião anual de Davos, organizada pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), em geral depara com abundantes benefícios às empresas multinacionais, exceto para um punhado que saem prejudicadas pelos sarcasmos de um setor da sociedade civil. A história voltará a se repetir quando se reunir, entre 25 e 29 deste mês, o Fórum de Davos, nesse centro turístico de inverno na Suíça. Entre as companhias candidatas à gozadora recompensa, que será anunciada no dia 25, figuram grupos econômicos como Alcoa, Bayer, Coca-Cola, Chevron, Novartis, Walt Disney, Citigroup e Nestlé.

Duas organizações não-governamentais, Pro Natura e A Declaração de Berna, anunciaram que voltariam a entregar os simbólicos “Public Eye Awards", prêmios estes que condenam a opinião da cidadania entre as empresas multinacionais de comportamento reprovável em áreas de meio ambiente, trabalho, direitos humanos e tributação. O objetivo desses irônicos prêmios é lançar um olhar diferente sobre as atividades dessas empresas, uma visão que não se limite ao simples enfoque econômico de nosso meio ambiente, explicou Sonja Ribi, chefe de projetos de política e assuntos internacionais da Pro Natura.

Os prêmios negativos são atribuídos entre as empresas propostas por ONGs de todo o mundo. No ano passado a ganhadora foi anglo-holandesa Royal Dutch Shell, lembrou Ribi. A novidade deste ano é a entrega de um prêmio de caráter positivo destinado a um ator econômico ou social que tenha se destacado por seu respeito às normas sociais e ambientais. Oliver Classen, representante da Declaração de Berna, estimou que o prêmio negativo equivale a um contrapeso para equilibrar de maneira simultânea todo o poderio do Fórum de Davos. “Dessa maneira contribuímos para um debate sobre as zonas de sombra de uma globalização orientada somente para o lucro”, disse.

FSM
O FEM, uma organização privada internacional com sede em Genebra, há 35 anos reúne em Davos dirigentes de empresas, governantes, acadêmicos, e, em particular, economistas, para examinarem problemas mundiais e propor soluções. As atividades do fórum, patrocinadas pelas grandes empresas multinacionais, merecem críticas de organizações da sociedade civil, contrárias à orientação que Davos imprime à globalização. Ao contrário, com os “Public Eye Awards” mostramos quais são os passos possíveis e necessários a serem dados em busca de uma economia socialmente mais justa e ecologicamente mais sustentável, resumiu Classen. “Com o esforço crítico que esses prêmios representam, nos sentimos próximos do Fórum Social Mundial” (FSM), insistiu.

O FSM é uma assembléia anual de dezenas de milhares de ativistas da sociedade civil que começou a se reunir em janeiro de 2001 em Porto Alegre para analisar com pontos de vista alternativos os problemas internacionais. A edição do FSM deste ano se desdobrará em três sedes: Bamako, capital de Malí, entre 19 e 23 deste mês; Caracas, capital da Venezuela, entre 24 e 29 também deste mês, e Karachi, capital do Paquistão, em março. Para Classen, Davos precisa do espírito de Porto Alegre, plasmado nas primeiras reuniões do FSM que se sintetizam no lema “Outro mundo é possível”. Por outro lado, na cidade dos Alpes suíços predomina o princípio de “Não há nenhuma alternativa”, o credo da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1979-1990), a quem se referiu o ativista.

Os prêmios atribuídos pelas duas ONGs suíças devem lembrar aos membros do Fórum de Davos e a todas as multinacionais que “a sociedade civil não tira os olhos de cima delas”, disse Classen. Ribi destacou que essas companhias devem submeter-se às regras internacionais vinculantes que as convertem em responsáveis jurídicas, as obrigam a prestar contas e, se for o caso, as punem. Os “prêmios” concedidos em 2005 tiveram efeitos variados entre as sociedades selecionadas por Pro Natura e A Declaração de Berna.

Crime
A filial suíça do grupo de auditores KPMG Internacional, “premiada” por sua contribuição ao assessoramento de evasões fiscais, deslocou de seus escritórios na Suíça para outros destinos no estrangeiro os conselheiros tributários das grandes fortunas, afirmaram os ativistas. O caso da Shell, que no ano passado foi ganhadora por causa da queima de gás a céu aberto nos poços de petróleo da Nigéria, terminou em dezembro último com uma sanção imposta pela Corte Suprema desse país africano, que considerou inconstitucional o procedimento utilizado pela empresa anglo-holandesa.

A queima do gás a céu aberto provoca doenças na população vizinha e deteriora o meio ambiente por causa das grandes quantidades emitidas de dióxido de carbono, o principal gás que afeta a mudança climática, disse a ativista da pro Natura. “Ativistas e pessoas preocupadas com o comportamento da Shell assistiram as assembléias gerais da empresa em 2005, realizadas nas sedes de Londres e Haia, para apresentar um relatório anual alternativo ao elaborado pela direção do grupo”, disse Ribi.

Em conseqüência, as máximas autoridades da Shell receberam no mês passado os representantes das ONGs e das pessoas prejudicadas na Nigéria. Essa conduta evidencia que as companhias têm necessidade de se justificar perante a comunidade, porque o setor privado não pode ignorar a opinião pública, estimou Ribi. A experiência com o caso da Shell demonstra que se a sociedade civil se compromete, bem como as pessoas prejudicadas, pode-se chegar a resultados que “mostrem às empresas quais são os limites de seus comportamentos”, deduziu.

A Pro Natura, maior organização conservacionista da Suíça, com cerca de 100 mil integrantes e 45 mil doadores, é uma entidade sem fins lucrativos criada em 1990. Sua sede central fica na cidade da Basiléia, embora tenha escritórios em vários cantões da federação. Por sua vez, A Declaração de Berna, com sede na capital suíça, promove desde 1968 relações Norte-Sul mais justas, sustentáveis e democráticas. (IPS/Envolverde, 16/01/06)

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