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2006-01-18
As condições climáticas extremas dos Estados Unidos continuarão este ano, e os cientistas alertam que poderão a ser a “nova normalidade” no país por causa do aquecimento do planeta. Incêndios descontrolados consumiram centenas de milhares de hectares nos Estados de Novo México, Oklahoma e Texas, açoitados por uma severa seca desde o Natal, enquanto inundações e transbordamentos de rios afetaram a Califórnia e Nevada.

Em 2005, foram batidos vários recordes em relação ao clima: julho teve a onda de calor mais intensa já registrada no país, as chuvas de outubro no noroeste foram as mais fortes, e a zona costeira no golfo do México sofreu a pior temporada de furacões de que se tem memória.

A tempestade tropical Zeta se transformou, no dia 31 de dezembro, na tempestade número 27 das registradas pelos meteorologistas no ano passado, quando a média anual desses fenômenos é de 11. Quatro grandes furacões atingiram os Estados Unidos e causaram perdas econômicas entre US$ 160 bilhões e US$ 300 bilhões. Somente o custo da reconstrução da cidade de Nova Orleans chegaria a US$ 200 bilhões, segundo cálculos do governo. E 2006 poderá ser igual, alertam os especialistas do Centro de Previsão Climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosfera (NOAA). “Podemos esperar os atuais altos níveis de furacões para a próxima década, ou, talvez, por muito tempo mais”, disse o chefe meteorologista da NOAA, Gerry Bell.

A maioria dos cientistas coincide em afirmar que o aquecimento do planeta é causado por atividades humanas, sobretudo pelos gases liberados pela queima de petróleo, gás e carvão, dos quais o principal é o dióxido de carbono. Esses gases se acumulam na atmosfera e, pela sua grande capacidade de reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado “efeito estufa”. A conseqüência desse aquecimento é uma mudança climática global com manifestações regionais e locais, como o derretimento de gelos polares e geleiras, elevação do nível do mar, secas, tempestades, furacões e inundações.

Apesar de os Estados Unidos gerarem 25% das emissões dos gases que causam o efeito estufa, o governo do presidente George W. Bush retirou a assinatura que seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001) colocara no Protocolo de Kyoto, único mecanismo internacional contra a mudança climática. Bush argumenta que o acordo pode afetar a economia de seu país. “Estes não são desastres naturais, mas desastres ecológicos”, afirmou Amy Lynd Luers, especialista em impactos do clima da Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Comprometidos), aliança norte-americana de cientistas e cidadãos em geral. “O aquecimento global está contribuindo para eventos climáticos desastrosos como os furacões, e além do mais, os agrava”, disse Luers, e destacou que somente são “desastres naturais” os terremotos, maremotos e fenômenos similares.

Embora muitos cientistas da NOAA resistam em vincular a devastadora temporada de furacões de 2005 com a mudança climática, um grande número de pesquisas estabeleceu que a intensidade dessas tormentas cresceu como conseqüência do aumento as temperaturas média globais. Nos anos 90, o governamental Programa de Pesquisa sobre a Mudança Climática previra para as décadas seguintes chuvas mais fortes no nordeste e secas no sudoeste. Enquanto o aquecimento da Terra avança, os desastres vinculados, como inundações, incêndios e furacões, se tornarão mais intensos, alertou Luers, que trabalha para o Estado da Califórnia em planos de antecipação aos impactos da mudança climática.

“A Califórnia se deu conta de que reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa não prejudica sua economia”, destacou a especialista. O Programa de Pesquisa sobre Mudança Climática previa fazer novos estudos sobre nove regiões do país, mas esse trabalho não foi realizado porque o governo Bush lhe encomendou outras tarefas, disse Luers. “Existe uma considerável preocupação entre os cientistas sobre a necessidade dessas pesquisas”, afirmou. Alguns Estados, como a Califórnia, agora se preparam por si próprios, bem como várias empresas, especialmente as de seguros.

Para os Estados Unidos, o pior está por vir, disse o chefe da Divisão de Riscos e Catástrofes da companhia de resseguros Swiss Re Américas, Andrew Castaldi. A empresa prevê “outro ano ruim” para o país em 2006, com pelo menos 23 grandes tempestades em seu litoral. O furacão Katrina foi o pior desastre natural ou ecológico sofrido pelos Estados Unidos. O Centro Nacional de Furacões da NOAA revelou que pelo menos quatro mil pessoas ainda estão desaparecidas desde a passagem do furacão. O número oficial de mortos é de 1.336. (Envolverde/IPS, 16/01/06)
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